A Vingança do Espantalho

Existia uma pequena propriedade em um pequeno lugarejo no interior, onde morava um casal de lavradores já de uma certa idade; seu José e dona Lurdes. Eles tinham uma criação de porcos e algumas galinhas, que era de onde conseguiam um dinheirinho a mais para completar a pequena aposentadoria do "seu Zé", como era mais conhecido.

Seus filhos; um casal, há muitos anos moravam na capital. Eles costumavam visitá-los sempre, principalmente nas férias escolares de seus filhos.

Mas com o passar do tempo aquelas visitas foram se tornando cada vez mais raras, ficando práticamente limitadas ao período das festas de fim-de-ano, quando a casa ficava sempre cheia.

Até que em uma certa ocasião, um de seus quatro netos já então com vinte anos de idade, resolveu comemorar a sua maioridade com uma festa na propriedade dos seus avós. Julio era o seu nome. Ele fazia parte de um grupo de jovens que se intitulavam 'góticos'; gostavam de se vestir de preto e usavam vários tipos de piercings pelo corpo.

Júlio, além dos seus primos, tios e amigos ditos 'normais', convidou também para a festa todos aqueles seus amigos 'esquisitos', entre os quais estava aquela que ele dizia ser a sua noiva; a Carla.

A festa seria uma espécie de 'rave', que começaria na manhã de um sábado e só deveria terminar no domingo. Só que a maior parte do tal grupo já havia chegado na sexta-feira anterior, para 'reconhecer o terreno'...

E foi à tardinha daquela sexta-feira que, circulando pela propriedade do avô; Julinho, como era mais conhecido, acabou levando-os até uma grande horta que ficava à beira de um pequeno córrego. E foi ali que algo chamou a atenção do grupo: um espantalho. Ele tinha o tamanho de um homem e estava vestido de trapos, com um chapelão na cabeça e cabelos de capim seco que, visto de uma certa distância, era uma figura aterradora. O grupo gostou daquele espantalho...

E eles gostaram tanto que resolveram que pregariam uma peça no restante daquele 'pessoal careta' que chegaria no sábado.

O plano era o seguinte; eles convidariam o maior número de pessoas para visitarem a horta onde estava aquele espantalho, que óbviamente lhes chamariam a atenção. E mais tarde o Julinho anunciaria que à noite ele iria oficializar o seu noivado com a Carla. Só que esse ato deveria acontecer ao pé de um cruzeiro que havia no alto de uma pequena colina, que ficava bem no meio de um velho e abandonado cemitério, que existia ali nas proximidades. E que quando, lá por volta da meia-noite, o casal se aproximasse daquele cruzeiro um daqueles jovens, vestido com as roupas daquele espantalho apareceria súbitamente trazendo em cada uma das mãos uma espécie de 'caveira luminosa', feita com duas abóboras baianas, conforme eles já tinham visto na internet.

Foi tudo tão bem planejado, que quase todos os presentes naquelas festa foram até lá no velho cemitério; até os seus avós foram 'conferir de perto' aquele inusitado noivado.

E quando faltavam poucos minutos para a meia noite e aquela pequena multidão de curiosos expectadores aguardava o desenrolar daquele inusitado noivado, de mãos dadas o casal; Julinho e Carla se aproximavam do cruzeiro para o desfecho final, ouviu-se súbitamente um horrooso e estridente grito de pavor...

Muitos daqueles expectadores saíram correndo estabanados para tudo que era lado, enquanto que outros ficaram simplesmente paralisados. A turma dos 'góticos' também levou um baita susto, já que efeitos sonoros não estavam no programa, mas logo se refizeram do susto e riram valer quando viram o resultado daquela 'encenação' que mal havia começado.

Só que todo aquele riso deu lugar a um grande pavor, quando viram se levantando lentamente por detrás daquele cruzeiro a figura daquele espantalho, tal qual o tinham visto lá na horta, só que na sua mão direita tinha um enorme facão pingando sangue, enquanto que com a sua mão direita erguia a cabeça do jovem que fora escolhido para estar ali, como se fosse o próprio espantalho. E dessa vez foram eles que saíram dali quase que voando...

Quando, já pela madrugada, alguns policiais lá chegaram para checar o ocorrido, depararam-se com o corpo do rapaz, todo vestido de preto e sem cabeça, caído atrás do cruzeiro.

Mas, e o casal; Julinho e Carla que já estavam bem próximos daquele fantasmagórico espantalho? E a cabeça do rapaz, onde estariam?... Eles ainda procuraram pelos arredores, mas nada encontraram.

A notícia logo correu pela vizinhança e a casa do seu Zé e dona Lourdes ficou uma confusão de tanta gente circulando. Foi então que uma velha conhecida da dona da casa teve uma forte crise de pressão alta e dona Lourdes foi lhe fazer um chazinho de erva-cidreira, pediu então que seu marido fosse até a horta para pegar algumas folhas. Seu zé foi, mas logo em seguida voltou esbaforido, quase morrendo de medo...

Já refeito ele contou o que encontrou lá na horta. Disse ele que no espantalho estavam enforcados, no seu lado direito o seu neto Julinho e no lado esquerdo a sua noiva, sendo que no lugar da cabeça do espantalho, estava a cabeça do rapaz que fora degolado na noite anterior...

Será que foi uma vingança do espantalho???