O assalto

Não havia sido uma semana produtiva para Chinelo e Borelha. Uns poucos trocados e alguns celulares de baixo valor foi tudo o que haviam conseguido. Às vezes eles se perguntavam se já não estava na hora de mudar de ramo, quem sabe entrar de vez no mundo do tráfico e parar com aquela vida de assaltantes baratos.

Era o último trabalho que iriam realizar. Assaltariam um ônibus. Não era o que eles mais gostavam de fazer, mas estavam precisando de grana.

Era uma noite mais fria que o usual. Havia chovido o dia inteiro e isso deixou as ruas da grande metrópole mais desertas. Tudo perfeito para um assalto rápido e uma fuga tranquila.

Quando o ônibus escolhido para o assalto aproximou-se do ponto onde eles estavam o relógio já apontava algo próximo de meia noite.

Sempre ficavam tensos quando iam assaltar. E seria melhor ninguém se meter a herói... Não seria a primeira vez que despachariam alguém.

Entraram tranquilamente no ônibus. Todos os lugares estavam ocupados menos duas poltronas bem ao fundo. Dirigiram para elas e lá ficaram sentados aguardando o momento certo para anunciarem o assalto.

Uma rápida olhada nos passageiros passou-lhes a certeza de que seria um serviço bem produtivo aquele. Muitos celulares, bolsas e carteiras recheadas...

Era chegado o momento. Chinelo e Borelha sacaram seus velhos revolveres e foram para o meio do ônibus. Algumas palavras agressivas e intimidações fariam o serviço.

A simples vista de uma arma apontada para alguém já é o suficiente para deixar qualquer um assustado e apavorado. Não foi o que aconteceu.

Nenhum passageiro esboçou um único gesto de medo, nenhum grito contido ficou preso em alguma garganta. Não houve olhares de terror e angústia.

Borelha olhou para Chinelo e deste para os demais passageiros. O ar pareceu congelar em seus pulmões quando percebeu que ninguém naquele maldito ônibus esboçava qualquer movimento, por mais irrisório que fosse.

A presença dos dois assaltantes era ignorada completamente, como se eles não estivessem ali. Quem eram aquelas pessoas estranhas que pareciam sequer piscar?

Os revólveres em suas mãos pareciam pesar. Lá fora a chuva retornara.

Com uma crescente sensação de medo correndo como verme por entre suas entranhas os dois assaltantes decidiram descer do ônibus.

Gritaram, gesticularam, apertaram em vão os gatilhos de suas armas. Ameaçaram pessoas que sequer olhavam para eles.

Em um gesto final de desespero decidiram atirar contra suas próprias cabeças. Inútil. Não havia arma alguma em suas mãos.

O ônibus seguia seu caminho passando por ruas encharcadas. Dentro dele todas as poltronas estavam ocupadas por passageiros silenciosos. Lá fora a chuva continuava a cair...

Plutarco
Enviado por Plutarco em 08/06/2019
Reeditado em 08/06/2019
Código do texto: T6668120
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