Alquebramento

Me veio ela meio que do nada, no entardecer do dia, ao clarear da noite. Não sabia exatamente o que era, nunca em minha vida, havia conhecido algo de tamanha singularidade. Eu a vi, eu a senti e portanto, tenho certeza de que sua existência é real e verdadeira. Eu não queria poder compartilhar isso, aliás, depois de saber que tais coisas existem, fica complicado levar a vida adiante.

Visualmente, não há nada que lhe seja assustador em seu rosto. De olhos caídos e com a cara retorcida o tal ser não tem boca e nem nariz, a de se dizer também, que não tenha orelhas. Não fiquei muito a observar, mas ela ainda me persegue em dias tão desiguais quanto a humanidade. O pouco que vi foi-me suficiente para aconchegar-me em um canto ali só, e permanecer por horas na solidão.

Quero aproveitar o resto de felicidade que ainda há de se viver, e nesse proveito, me pergunto – Quando surgistes no mundo - e antes do silencio comover-me toda a mente respondo a mim tal pergunta.

Ela se ancora em meu ombro causando-me tamanha fraqueza, algumas lagrimas escorrem de teu rosto e caem sobre mim com um pouco do peso de sua dor. O sopro de sua respiração, assovia-me cantos que não me significam mais nada. Me escoro assim, ao cansar de minha mente, sobre sua cabeça descabelada e ali eu me desencadeio, sobre a minha própria existência.

Ao acordar, já não mais cinto nada e não há nenhuma significância que me faça querer viver novamente. Como um morto, perambulo pela vasta miserável terra em que o ser humano habita. O outro ''eu'' está morto, eu ainda o escuto a cochichar em minha cabeça. Assim que nós intitulamos como um ''inexistentes'', nasceremos mais uma vez, não como almas penadas, renascermos com as memórias em cinzas sobre o nosso corpo. Uma vez que existiu outro de mim, o rasguei e piedosamente me alimentei do que era proveito e a carne podre restante, dei para as mentes vazias engolirem afim de alimentar a ignorância delas.

Agora, a se arrastar agarrada aos meus pés, está toda a angustia e melancolia, a implorar por seu lugar mais uma vez.

Assim que ausente, o mundo se tornaria melhor... diziam alguns. Mas o que precisa realmente se ausentar para que o mundo se erga novamente são os seres humanos desprezíveis, que apenas ausentam a beleza da terra.

Hoje, já não sinto mais nada que me seja motivo para chorar, imploro as almas parte do lamento, mas se negam a me dar.

Continua ela, a tristeza, a implorar pelo poder, felizmente agora que já não mais presente estou, não há nada que eu possa fazer para ajudar-lhe a curar seu sofrimento. Deixe-a, deixe que queime sobre o próprio desespero. Deixe que arda e corroa-a por dentro, deixe que ela tome conta de sua própria alma.

O que em mim um dia habitou, hoje não encontra mais lar em lugar algum, tudo o que tinha eu absorvi para mim, e viverei com isso por toda a finança dá eternidade. Apenas a dor ainda me permanece, e em colapso minhas veias saltam ao que assemelha a uma raiva incontrolável. Tudo ao meu redor me incomoda a partir daí e eu simplesmente me torno o mal e todos os seus semelhantes inacabáveis.

A Melancolia, miserável está...

Dmitry Adramalech
Enviado por Dmitry Adramalech em 06/06/2019
Reeditado em 27/06/2019
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