O Enterro
Estavam todos lá. Família, amantes, filhos bastardos, amigos e inimigos. Josivaldo estava confortável em sua última morada. Vestia a vestimenta de quando era o juiz da mais alta corte do país. Alguns choravam, outros riam, mas, assim como no excelente livro Assassinato no Expresso do Oriente, de Agatha Christie, todos os presentes tinham motivos para ter matado Josivaldo. Os filhos, por seu descaso em criá-los; a mulher, por ter sido traída durante anos a fio; as amantes, por nunca terem sido assumidas como esposas e os filhos bastardos, por serem bastardos, renegados. Os amigos tinham o motivo da eutanásia para matar Josivaldo, já que ele estava sofrendo muito com o câncer de pulmão em estágio avançado que tinha. Os inimigos (ah! Os inimigos!) tinham o maior motivo de todos: a vingança por terem seus interesses contrariados pelo outrora rigoroso e inflexível ministro do Supremo Tribunal Federal. Mas nenhum deles matou Josivaldo. Nenhum deles teve o prazer (ou a compaixão) de silenciar o prolixo orador e magistrado. Ele mesmo se matou, com a faca do hospital, com a qual comera sua última refeição: um suculento filé-mignon, malpassado…
FIM