Crime e Castigo

Começou como moleque de recados da Casa Grande do coronel Adriano Carneiro Campos. Sua mãe era cozinheira na casa e morava num dos casebres da propriedade. Esse coronel era dono de muitas fazendas, muito gado, imóveis na cidade e muitos negócios, Era riquíssimo e poderoso, mas avarento e irascível. A contragosto, a pedido da falecida esposa, tinha botado o menino filho da cozinheira na escola e financiado os estudos dele até concluir o curso de contabilidade. Daí, já rapaz feito, foi promovido de moleque de recados a uma espécie de secretário particular o coronel, uma espécie de braço direito. Era quem tomava conta de sua escrita, fazia depósitos, recebia pagamentos, retira cheques, cuidava, enfim, daquilo que o coronel não confiava a outras pessoas. Ma isso não significava que o coronel confiasse totalmente em Antonio. a quem só chamavam Tonico, conferia seu serviço com rigor. Além disso era muito rude com o rapaz. Mas o contador nem ligava, tinha um sonho, seus olhos brilhavam de ambição quando pensava no seu plano, Como o coronel não tinha filhos, seus sobrinhos, seriam, logicamente, depois de sua morte, seus herdeiros. Bastaria eles esperarem tranquilos. Mas Tonico queria evitar isso. Iria tentar evitar isso. Ele era muito hábil com os números e mais ainda com outra arte: imitava qualquer tipo de caligrafia. Era capaz de forjar qualquer documento, imitava fielmente, claro, a caligrafia do coronel. Foi levando, a cada grosseria do coronel baixava a cabeça. Fazia de um tudo para agradá-lo. Nada pedia, qualquer pagamento estava bom. O coronel foi confiando nele, mas sempre com um pé atrás. Nunca deixava de conferir o trabalho do contador e secretário.

Tonico foi ficando cansado de esperar. O coronel apesar de velho,estava com 80 anos, não falava sequer em fazer o testamento. Soube disso quando da visita do advogado dele, só falaram em escrituras de propriedades e questões na justiça. Na saída, conversando com Tonico, comentou: - Rapaz., esse coronel é um sujeito estranho. Sugeri a ele fazer seu testamento, mas ele me disse que vai fazê-o de próprio punho e quando resolver vai me enviar, por você, num envelope lacrado. Acho que ele vai deixar tudo para os sobrinhos, mas uma parte para a Igreja. Ora, essa foi uma informação valiosa para Tonico. Daí em diante ele começou a ler tudo sobre testamentos. E resolveu ele próprio redigir o testamento do coronel. Redigiu vários, até chegar a redação final. Nesse testamento o coronel deixava alguns bens para a Igreja, a casa que os sobrinhos moravam para eles e o grosso das propriedades, gado e dinheiro para Tonico.. Botou o documento num envelope. E passou a elaborar a segunda parte do plano: o envenenamento do coronel.

Começou a fazer isso aos poucos, lera sobre venenos, sobre crimes célebres de envenenamento paulatino. O coronel foi definhando, veio o médico, o único que ele permitia visitá-lo, assim mesmo para medir a pressão. O médico falou que ele precisava fazer exames, que sem cuidar da saúde poderia ter infarto. Ms o velho se negou. Tonico foi intensificando as doses do veneno lento, até que o coronel morreu. Mas antes Tonico enregou o envelope ao advogado. Quando o velho morreu o médico atestou, claro infarto. Enterraram o coronel, os sobrinhos fingindo muito sentimento e tristeza, ms felizes esperando receber a herança e membros da Igreja da mesma forma. E Tonico triste e no seu canto. Depois do enterro, o advogado comunicou a todos que o coronel deixara com ele o seu testamento. No outro dia todos foram ao cartório, o advogado era também tabelião. Ele leu o testamento à vista de todos e mostrou o documento, feito de próprio punho pelo corone, om forma reconhecida. No testamento o coronel deixava alguns bens para a Igreja, a casa onde os sobrinhos moravam para eles e o resto, quase o total dos bens, para Tonico. O sobrinhos ficaram revoltados, mas nada podiam fazer, um deles chamou o falecido tio de "velho filho da puta". Mas não houve impugnação do testamento. Assim Tonico tomou posse dos bens e do dinheiro.

Meses depois Tonico era outro, tornou-se coronel, herdara não só o título e os bens, mas a rudeza e prepotência do coronel. Fi morar na casa grande, cercado de luxo, carro novo, até usava o roupão do falecido e fumava seus charutos cubanos. Ms de repente foi sentindo um certo mal estar, ouvindo vozes, janelas se abrirem e se fecharem sem ninguém mexer, ventos que derrubam pratos e xícaras, empregados com medo de assombração, diziam que viram sombras. Tonico tentou reagir mas foi ficando com medo. Uma noite, sozinho na casa grande, tomou uma dose de uísque e tentou se acalmar sentado na poltrona preferida do coronel, então ouviu um vento forte entrar pelas janelas e, de repente, surgiu à sua frente uma espécie de espectro, era a figura quase apagada e trêmula, parecia mesmo um fantasma, do coronel Adriano que dizia: - Você é um assassino e vai pagar caro pelo seu crime. Nunca vai ter paz. E desapareceu. Tonico ficou desesperado, mas achando ainda que se tratava de um pesadelo. Mas o especto voltou várias vezes e sempre anunciando que ele a ser castigado. Tonico começou a beber muito. os empregados deixaram a casa, o povo começou a falar na assombração, o novo coronel foi definhando e enlouquecendo até que o espectro apareceu outra vez e ordenou: Faça logo o que tem de fazer, faça o testamento e depois escolha como vai morrer. Dias depois, como o rapaz desaparecera de circulação, a polícia foi à casa grande e encontrou Tonico enforcado na sala.

Quando o advogado abriu o testamento todos os bens dele foram doados à Igreja. Não se sabe se noutro lano de vida Tonico encontrou o coronel. Inté.

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Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/05/2019
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