Bilhete de Despedida

Nossa lua de mel foi na Europa. Em duas semanas, fomos à Itália, França e Alemanha. Gostei mais de Paris, mas Roma também me deixou uma ótima impressão. Suzana foi uma ótima companhia. Parece que, depois de 3 casamentos desfeitos, desta vez, acertei a mão. No avião, de volta para casa, não via a hora de chegar ao Brasil. Suzana dormiu quase a viagem toda. Eu não. Fiquei lendo. O livro de Paul Auster era tão bom que a cada página que lia de O Palácio da Lua mais eu queria ler. Após longas horas de viagem, finalmente, chegamos ao Brasil. No aeroporto, pegamos um táxi e fomos para nossa nova morada. O apartamento era bem localizado. Ficava em Copacabana, na altura do Posto 2. Suzana abriu a porta do apartamento 901 procurando logo a cama. Dormir no avião não é a mesma coisa que dormir em casa. Suzana deitou-se e dormiu quase que instantaneamente. Minha secretária tinha feito um ótimo trabalho. Maximizou o dinheiro que lhe dei para montar meu apartamento com bom gosto e requinte. O apartamento era grande. 3 quartos, sala, cozinha espaçosa, 2 banheiros... enfim, era um ótimo lugar para se morar. A mobília estava o.k.. Sofás e poltronas confortáveis, camas que não dão vontade de sair delas… estreei a poltrona da sala. Liguei a TV de Led com o controle remoto. Passava um jogo. Mas, apesar de não ser o Botafogo, eu o vi até o seu final. O Fluminense ganhou do Flamengo por 4 a 0. Fiquei feliz por meu sobrinho que era tricolor. Ser campeão nacional por um placar elástico é sempre bom, ainda mais em cima do rubro-negro. Do jogo, fui para o banho. A água quente me deu sono. Saí do banheiro comi um sanduíche de queijo e presunto e fui dormir. No dia seguinte, tinha que ir ao escritório de advocacia. Devia haver mil processos a minha espera. Era a hora de voltar ao trabalho.

Durante os dois primeiros meses de casados, Suzana foi um doce para mim. Me dava carinho, amor e era uma máquina de fazer sexo. Com o tempo, porém, seu comportamento comigo foi se modificando. Ela começou a ter crises de ciúmes de mim com Patrícia, minha secretária no escritório de advocacia. No início, não liguei. Disse a Suzana, que ela era a mulher de minha vida. Se não fosse, por que casaria com ela, não é mesmo? Mas Suzana não modificou seu comportamento possessivo. Discussões de relacionamento, as famosas “drs”, com Suzana passaram a fazer parte de meus dias antes e depois do trabalho. Mesmo no trabalho, Suzana me deixava constantemente mensagens no WhatsApp querendo saber se eu estava no trabalho mesmo ou não. Após alguns meses desse controle doentio, não aguentei mais. Suzana era linda, gentil e carinhosa. Mas eu não tolerava mais ela me tratar como um objeto. Eu não sou cachorro para ela me tratar como se fosse minha dona. O amor não é sinônimo de posse, de escravidão. Sem liberdade, não é amor de verdade. E quando me dei conta disso quis minha liberdade de volta. Avisei a Suzana que ia me separar dela. Ela ficou calma. Ouviu a tudo em silêncio e quando terminei de falar, mexeu a cabeça parecendo concordar. Achei estranho a atitude dela, mas não disse nada. Ainda bem que ela entendeu. Pensei. No dia seguinte, Suzana saiu de casa e foi atropelada por um carro. Morreu a caminho do hospital. Antes de sair, Suzana havia deixado um bilhete molhado, na mesa da sala. Eis o que ele dizia:

Amor, posso ainda chamá-lo assim?

Eu te amava e você não deu valor… Que pena!

Só uma coisinha que você precisa saber…

Suzana não terminou o bilhete. Mais tarde, descobri o que ela queria dizer na última linha dele. Suzana fez um seguro de vida de 50 milhões de reais. Eu era o único beneficiário e, agora, o principal suspeito de sua morte…

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 12/05/2019
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