Terrores Cósmicos - CLTS 07
O povoado sentiu seu fim quando a luz pálida cintilou acima das nuvens, onde raios brilhavam e por milésimos de segundo revelavam uma silhueta sombria de um terror inimaginável, vindo de um local onde nem mesmo a mais louca mente humana seria capaz de descrever.
– Diário do Bispo Fausto – Capítulo 1 – Séc. XV
O confidente foi trazido a mim após um estranho relato de onde ele viera, segundo o padre, o indivíduo entrou na Basílica, sujo, cansado, e com um pequeno cristal negro nas mãos, gritando que o fim se aproximava. Ordenei então que o trouxessem diretamente a mim.
Os padres o arrastaram, e o jogaram com violência na cadeira a frente de minha mesa, pedi então para que se retirassem e aguardassem na porta da sala. O veredito da Inquisição dependia de mim.
– Como se chama pobre alma – Disse com tom gentil, dado a situação estranha em que se apresentava.
– Silêncio total.
– Qual o motivo de sua vinda a Basílica, nunca o vi no povoado.
– Não me lembro, mas tenho uma mensagem, porém é impossível de ser ouvida aos ouvidos humanos.
– Como uma mensagem de Deus?
– Deus não existe, não como vocês estão acostumados a manipular sua aparência-
Fiquei completamente furioso após essa afirmação.
– Saiba que a partir deste momento você está morto por heresia!!! - Gritei batendo o punho cerrado sobre a mesa de madeira.
– Sim, eu sei, mas a vida é efêmera e não faz mais sentido depois do que vi- Disse em tom de desafio
– Conte-me mais!!! antes que ordena sua execução em praça pública!!!
– Minha missão é apenas avisar, de forma que os ouvidos humanos possam ouvir-
Fiquei aguardando a mensagem, o homem, com aspectos de cansado olhou para o chão e ficou no canto da cadeira. Abaixando a cabeça parecia falar com ele mesmo, Trovões podiam ser ouvidos ao leste e uma chuva torrencial começara a cair, a sala ficou escura. Minha paciência tinha ido embora, então indaguei.
– Fale herege desgraçado!!! - Ao ouvirem meu grito os padres entraram na sala e o homem tornou a gritar
-Seu Deus é apenas um fantoche!!! Apenas um pequeno brinquedo, esse universo e essa existência não passa de uma ilusão e será destruída em breve. Não somo nada mais que um teste dos Ancestrais, eles nos criaram como um fantoche. Nesse exato momento estão enviando uma besta sem igual onde nem mesmo 50 mil palavras seriam capazes de descrever a grandiosidade desse ser. E grave minhas palavras o fim chegará em breve. Quando o sol ficar negro,quando as estrelas caírem dos céus e as cortinas da razão forem ragadas saberão que não minto. Me queimem!!!! Me queimem!!!!
-Arrastem esse desgraçado para as masmorras da basílica!!! E o espanquem a cada hora!!! Nunca mais quero ver esse herege em minha frente!!!
– Fim da primeira parte do relato do Bispo Fausto--
– Um coração apaixonado e violinos de gelo -- Capítulo 2 – Séc. XXI
O teatro estava lindo naquela noite, os lustres lançavam mágicas luzes ao centro do palco, Carlos estava deslumbrado pois nunca tivera a oportunidade de ir a uma peça, ou simplesmente nunca tivera o interesse de ir a alguma. Vivia no Rio de Janeiro desde a infância, porém sempre fora conduzindo inconscientemente a alguns eventos mais práticos e rápidos como festas familiares e eventos regados a álcool, como nunca fora do tipo curioso isso bastou para sua vida. Até o dia em que conheceu Júlia.
– Como eles não erram essa música aí? -Indagou para Júlia, que sentava ao seu lado em uma poltrona vermelha.
– Muitos anos de prática, uma orquestra estuda cada compasso da música de forma muito metódica, e a maioria deles toca juntos a anos. – Disse explicando de forma natural, já que era formada em música, ficava fácil para resumir as obras.
– Sei lá, é estranho pra mim, é muito parado e as vezes parecem só pulos sem sentido, qual o nome dessa música? – Perguntou, sentindo em seu interior algo novo.
– É uma obra de Tchaikovsky. O Quebra nozes, é uma obra de balé com a trilha sonora sendo tocada ali naquela vão a frente do palco pela orquestra-- Disse apontando para os violinistas.
– Mas ele fez isso tudo sozinho?-- Perguntou sinceramente, pois era algo muito complexo para só um homem fazer.
– Sim, ele é meu compositor preferido, os tons e escalas são obras primas, você realmente se sente arrepiado ao ouvir suas músicas, além disso os violinos parecem gelo. Não sei se era por ele ser Russo, mas sempre tem um tom de inverno nas músicas. Era um artista afogado com certeza.
– Como assim? Artista afogado? – Disse Carlos com uma grande curiosidade crescente, e cada vez mais interessado na conversa.
– Um artista afogado é um ser em desespero, a existência o machuca mas suas obras são seus suspiros de alívio, até que chegam no final do mar. Mas mudando de assunto, ele nem ia ser músico, era pra ser advogado assim como você.
– Posso ser um advogado afogado, mas só em papel mesmo – Disse rindo
– Ela também riu e o beijou, nessa hora se passava o ápice da obra, o Pas de Deux (Solo de dança de dois dançarinos) – a música embalava todo o teatro, os dois e estavam juntos a 3 anos, se conheceram por acaso. Como que por destino ou apenas um erro do relógio sempre atrasado de Carlos, eles se encontraram em um ônibus e conversaram exatamente sobre atrasos. E de lá pra cá se amaram como um único ser vivente--
Terminado o solo, onde, a música cada vez mais crescia e com o tom dos trombones e violinos, Carlos teve uma ideia.
-Júlia… Disse se virando para ela rapidamente
-Sim, pode falar-
Quer se casar comigo?
As duas almas apaixonadas não sabiam, pois a mente de algumas pessoas é agraciada pela virtude da ignorância, mas o céu fora do Teatro cintilou com o brilho obscuro de um universo perverso. O fim se aproximava do mundo, os dois não pensavam naquilo. Não eram grandes exploradores ou sabiam das coisas ocultas escritas em documentos do século XV por um tal bispo Fausto, na realidade nenhuma alma sabia…
– Quarta guerra mundial, soldados piedosos e armas de papel-- Capítulo 3 – Século XXII
A guerra seguia para o trigésimo primeiro ano, crianças brincavam de armas na escola, e quando atingiam a maioridade já seguiam para os campos de batalha. Nenhuma guerra teve tantos mortos como essa. Após a terceira guerra mundial onde pela segunda vez foram usadas ogivas nucleares apenas sobrou na terra, lixo e alguns países. Ler era uma coisa estranha, os EUA eram potência até metade da terceira guerra, porém, foi aniquilado pela China, Rússia e os Países Árabes. Não tardou e esses países também entraram em conflito, entretanto com a terra debilitada e os recursos reduzidos a praticamente nada por conta das ogivas e da batalha final. A guerra era totalmente brutal sem artilharia pesada e apenas com sangue e fúria de todas as partes.
Com os recursos naturais mínimos a atual guerra não fazia sentido nenhum, lutávamos por água, comida e petróleo, apenas um barril valia a vida de 100 homens. Eu era líder do pelotão e seguíamos para o que um dia foi a Itália, pois a Europa foi totalmente reduzida a ruínas. Lutávamos pelos Guará (Bloco de países latinos americanos aliados, liderados pelo Brasil e Chile).
– Capitão, temos que chegar até aquele monte antes de escurecer – Disse Lopez, um boliviano alistado e que mancava devido a um acidente de infância.
– Sim – Desenhei um mapa com um graveto no chão – Vamos seguir por esse vale, e logo depois continuamos. Vamos montar um acampamento no pé do monte e esperar o amanhecer, e finalmente vamos chegar em Roma.
– Mas nosso objetivo não é explorar as basílicas? A igreja guardou muitos recursos antes de ser exterminada pelos Russos, era melhor irmos a noite – Comentou de forma sonolenta Ruan, um ex minerador das minas de salitre do Chile.
– Mas a Itália nem tem mais gente, acorda idiota. Ta com medo de fantasma radioativo haha!! – Disse Antônio, um antigo professor de Filosofia, com a guerra todos eram soldados.
– Calados, vamos de dia. Não é porque a humanidade foi reduzida a praticamente nada que não temos de tomar cuidado, vamos logo e pare de mancar boliviano safado.
Ironicamente Lopez começou a rir, depois disso, montamos acampamento e dormimos. Na primeira luz da manhã seguimos para Roma. Era estranho, a cidade que antes era imponente e cheia de história, hoje era apenas um monte de cinzas, silêncio total e ruas destruídas. Tínhamos recebido a missão de coletar informações sobre qualquer recurso natural, sobreviventes, e documentos que indicassem petróleo. Nós íamos a basílicas pois durante a guerra muitas foram usadas como fortalezas militares e tinham abrigado até mesmo petróleo, éramos exploradores de quinquilharias.
– Dante e Maquiavel estão chorando no túmulo, Nem Nero impôs tanta crueldade como essa guerra.
Comentou Antônio, o resto de nós continuava calado dando espaço ao silêncio da metrópole.
Chegamos a primeira basílica, o silêncio era total, nem uma alma viva. Nem um pássaro ou vento, estávamos totalmente sozinhos, era um eterno funeral. Seguimos pelas pequenas e avistamos a primeira Basílica, segundo os dados era a Basílica de Santa Maria. Nossas armas permaneciam nos coldres, não éramos o que chamam de tropa militar, era mais um grupo de pessoas com algumas armas velhas.
Com passos rápidos entramos na Basílica, era impressionante, mesmo com os buracos de bala e as paredes rachadas das explosões ela conseguia manter a imponência. Lopez fez uma oração, Antônio achou um livro antigo, Ruan foi dormir em um banco que estranhamente estava inteiro. O silêncio permanecia, criando um atmosfera densa. Tão grande que conseguimos ouvir nossos órgãos funcionando. Quando de repente ouvimos um som vindo atrás do confessionário, algo como uma lamento. Todos sacamos nossas armas e fomos em direção ao confessionário. Antônio deu um chute na estrutura de madeira e começamos a ouvir um tipo de choro vindo lá de dentro. Depois de alguns minutos sai uma criança chorando lá de dentro com um fuzil feito de papel nas mãos. Enquanto Ruan fazia algumas perguntas ao garoto (Estranhamente ele falava italiano, mesmo não tendo muita instrução) Seguimos para a parte de baixo da Basílica. Apenas eu e Antônio.
O calabouço era totalmente escuro, dotado de uma energia sombria. Antônio me disse que nesses locais aconteciam as mais cruéis torturas de uma época passada.
– Perece só uma caverna mas fico imaginando que tipo de alma teve o azar de parar aqui em baixo, ter conhecimento histórico pode ser uma maldição. Vou explorar a biblioteca subterrânea, pode não parecer, mas ,com certeza atrás de algo aqui deve ter centenas de livros. Os bispos sempre escondiam algo pessoal nesses lugares.
Balancei a cabeça em resposta.
Continuei explorando em silêncio, quanto comecei a ouvir o grito mais aterrorizante da minha vida, a voz de Antônio ecoava por toda a basílica e se tivesse alguém com vontade de nos achar essa seria a hora para isso, corri através da escuridão dos calabouços e encontrei Antônio coberto de cristais negros e estranhamente vívidos. Ele estava se debatendo com força no chão, os olhos estavam totalmente virados para trás. E na sua mão havia um pequeno diário, e na página aberta estranhamente estava a data deste dia e desta mesma hora. Um trovão se fez ouvir ao leste. Lopez veio correndo me avisar que o que era dia de repente tinha virado noite e as estrelas e tudo mais estava rasgando…
–Prisioneiro louco, heresia e considerações finais de um bispo – Capítulo 4 Séc. XV
Os inquisidores vieram correndo me avisar que o prisioneiro tinha falecido após as torturas no calabouço da basílica, fiquei pensativo, pois o relato deste em específico foi muito estranho. Além disso os inquisidores me disseram que ele disse algo como aniquilação total da existência. Onde o passado e o futuro não importavam e que tudo era uma simples corda. Após eles me disserem isso ordenei uma semana de orações intensas, e anotei tudo no meu diário. Fui até a cela do prisioneiro louco e vi no teto desenhado com sangue alguns números estranhos que não consegui entender e então anotei em uma página aleatória do diário.
Tinha se passado uma semana desde o falecimento do louco, mas mesmo assim eu fiquei com uma péssima sensação, como se algo abafasse toda a minha fé. De repente eu simplesmente não acreditava mais em nada, pode parecer uma banalidade mudar radicalmente de pensamento assim mas eu não me importava mais com isso. A mesma chuva começou a cair torrencialmente e ao leste ouvi o mesmo trovão como uma repetição da semana anterior. Fui a janela da basílica vi a pior coisa da minha vida, perante minha vista milhares de relâmpagos rasgavam os céus e a quem um dia leia esse diário quero que saiba que era de forma literal, o céu realmente estava rasgando como um pedaço de papel qualquer, todas as estrelas caíram no vão do eterno espaço. Corri desesperadamente com os sons dos trovões como trilha sonora e escondi meu diário em uma parede secreta na sela do louco. Depois fui novamente até a torre e observei o povoado, pessoas, casas e tudo mais, inclusive a basílica virando cristal, não era um cristal comum e sim um cristal negro, no céu um brilho obscuro e apenas uma silhueta estranha. Como um monstro celestial ou algo do tipo. Até Lúcifer se curvaria a ele, depois disso, o fim.
– Fim do diário do Bispo Fausto.
– Um noivado, promessas agudas e crisântemos de cristal-- Cap. 5 Séc. XXI
– Sim!! É claro que eu aceito!!! - Disse ela rindo loucamente e alto
– É sério?! - Perguntei de relance, e pensando o porque de ela ter gritado ainda no teatro sendo que a própria odiava esse tipo de comportamento.
– Sim, quero uma família com você, sei que não sou das melhores em demonstrar meus sentimentos mas é isso que eu sempre quis com você.
– Eu prometo, também não sou um príncipe, mas te prometo, nunca vou te abandonar. --Disse isso, e terminamos de ver a peça.
Saímos do teatro e dei para ela um buquê de flores de crisântemo, tinha uma floricultura perto do teatro que estranhamente só tinha essa espécie. Caminhamos pela calçada tão felizes que eu não saberia explicar. Ela seria minha esposa no final das contas. Parece banal para muitos mas eu era um romântico convicto.
– Amor – Disse ela me puxando pelo braço com um semblante muito assustado – Olha lá pra cima.
Eu levantei a cabeça e olhei para o céu onde começava a cair milhares de relâmpagos pessoas corriam desesperadas para todos os lados, uma ventania obscura e opressiva começava a soprar de todos os lados. Eu e ela corremos para um bar que tinha ali perto e nos abrigamos. De repente os relâmpagos pararam, Júlia apontou para o céu novamente e tudo pareceu em silêncio e calmo. Uma chuva torrencial começou a cair quando vi que o buquê que dei a ela de repente estava se transformando em cristal negro, apenas pensava na boa música que tinha acabado de ouvir e de tudo que planejamos e na família que estávamos para construir. Um homem idoso na nossa frente, caiu estatelado no chão, fazendo um som oco e alto. Quando o virei estava totalmente cristalizado e minha mão tinha começado a endurecer.
--Eu te amo, Carlos-- Disse Júlia com os olhos negros de cristal e caiu no chão sem vida.
Eu chorando olhei pro céu, e vi uma silhueta que me lembrou um homem que fazia o planeta parecer uma bola de tênis. O cristal subia pelo meu braço. Todas as pessoas do abrigo já estavam mortas como esculturas de arte, o céu estava abrindo uma fenda e as estrelas viravam projéteis e milhares de riscos de luz surgiam, eu me arrastei para morrer junto com a minha noiva e dali para frente seríamos esculturas de um ser maior para sempre.
Soldados esclarecidos, fim da guerra e cortinas de razão – Capítulo Final – Séc. XXII
– Senhor!!! É o Fim é o Fim!!! - Gritou Lopez desesperado
– Calma soldado, me mostre – E fomos para o alto da basílica
Pedi para Ruan ficar com o garoto, Antônio continuava em estado de choque. Eu e Lopez subimos até a torre da basílica. Havia documentos por todo o chão, trovões caiam como uma chuva de pesados disparos de canhões. Fui para a janela observar a cidade tudo estava em ordem apenas o som ensurdecedor dos trovões nos perturbava na pequena sala, quando virei senti um medo profundo me paralisar, minhas pernas não se moviam. Virei novamente a cabeça para a janela, e vi uma rajada de luz azul entrar pela abertura. O céu estava sendo eletrocutado, se fosse um ser vivo certamente morreria. As rajadas elétricas riscavam a atmosfera de forma exagerada. Eu estava com o diário do bispo na mão e o joguei no chão corri para ver se Lopez estava bem. Mas ele se encontrava inconsciente no chão, corri novamente para a janela. Os relâmpagos e trovões tinha parado. Calmaria e silêncio na sala, olhei ao céu e consegui ver a forma da criatura que nos levaria ao fim, tinha a silhueta de um homem gigantesco porém em vez de carne e osso parecia haver um universo inteiro dentro deste ser. Fiquei totalmente petrificado caí de joelhos perante a criatura ouvi um grito de horror as minha costas. Lopez estava morto transformado em cristal. Eu sabia que isso também me aguardava então corri para observar a cidade. Tudo estava virando cristal, um abismo de escuridão se formava perante os meus olhos o céu estava sendo rasgado pela criatura, como se fosse um pedaço de papel comum. Desci as escadas para ver o resto do pelotão e todos já estavam mortos, então fui para fora da basílica. O céu cintilou como um flash de câmera e a criatura sumiu, tudo pareceu calmo. Um segundo de paz. E depois disso a existência como conhecemos nunca mais existiu. Pois olhei para o céu e vi a fenda, nela diferentes eras se passavam, como um filme em alta velocidade, todos com o mesmo fim. Até que me vi na fenda como um espelho e tudo explodiu.
Temas: Conspirações alienígenas, dimensões paralelas e segredos religiosos.
Contato para alguma dúvida ou se alguém quiser trocar umas ideias literárias. 021 97435-4127
Vlw galera, espero que tenham gostado!!!