OS FANTASMAS DO EDIFÍCIO CHAMPS ELYSÉES.
Ainda na fase de construção do luxuoso edifício de oitenta apartamentos, chefiada pelo engenheiro Damião, houve um triste acontecimento. O pedreiro Adamastor, homem forte e bem humorado, sujeito trabalhador que alí morreu soterrado. A obra foi embargada. Tudo parado até obedecer os itens de segurança. Adamastor virou alma penada. É o fantasma que na câmera três faz andança. Sempre fumando cigarro, sempre tomando café enquanto prepara argamassa. Pensa que não morreu. Quer acabar o serviço que o mestre de obras lhe deu. É o vulto que na garagem passa. Tempos depois morreu Zé Adauto, no começo da pintura. O andaime caiu do alto. Cinco andares de altura. O pobre pintor, perturbado, ainda pinta. Se arrepia quem passa, de madrugada, no quinto andar. Muitos sentem cheiro de tinta mas é o fantasma que ainda está lá a trabalhar. Prédio acabado e habitado. Alto, luxuoso, imponente!!! Um marco na avenida do Estado com sua linda fachada reluzente. Pelas escadas subiu a moça bem vestida mas triste com uma decepção amorosa. Andar após andar vai decidida em dar um ponto final na sua via sacra dolorosa. Antenas testemunharam seu fim. O salto da suicida no vazio. Um corpo caído no jardim. Um fato triste na noite de um domingo frio. Trancadas todas as portas e saídas ao telhado. Dali do alto ninguém mais pulou. A tragédia serviu de aprendizado. A morte daquela moça o tempo não apagou. No telhado o fantasma de uma dama que subiu até o último andar. Essa história macabra ganhou fama. De vez em quando alguém teima em lembrar. Nas câmeras de monitoramento, atento a qualquer movimento está o porteiro Renê. No começo ele se arrepiava. Se tremia todo e rezava ao ver os fantasmas do edifício Champs Elysées. De muitos só ele ficou. Precisava trabalhar e seu medo enfrentou com a ajuda do rosário. -"Três filhos e mulher pra alimentar, não é qualquer fantasma ou assombração que vai me assustar!!! Preciso desse salário!!!" Com o tempo nem ligava, foi se acostumando. Está há dez anos alí trabalhando. Seus companheiros da noite são café, o rádio e os livros. Pra todo mundo ele diz que fantasma é gente infeliz. Muito mais medo ele tem dos vivos. FIM