OS ELEITOS - CLTS 07
Como você caiu dos céus,
ó estrela da manhã, filho da alvorada!
Como foi atirado à terra,
você, que derrubava as nações!
FLAGELO
Calistemenes, 16h40 – dia 1
–A morte não espera mais por vocês, condenados. Pois sabe que o tempo se aproxima agora. Ela ri com a boca aberta e com a mão, vai puxar todos de uma vez. Serão tantos mortos quanto os grãos de areia do mar. Não vai sobrar ninguém, ninguém, ah, há, há!
O velho Atílio, louco como um prego, apregoava suas profecias desacreditadas pelas ruas de Calistemenes, a cidade dos expatriados. Junto com seu companheiro, um velho e judiado lobo, chamado Polifemo, que tal qual a lenda que deu origem a seu nome, também tinha um só olho, não no meio da testa como o ciclope, mas sim o direito que era profundo e azul como o mar, em detrimento do seu outro olho, inexistente, uma órbita vazia e negra, tão profunda quanto seu olho são, porém mais assustadora. Mas os dias haviam mudado.
Ninguém mais remedava ou escarnecia do pobre Atílio. Porque suas profecias de alguma forma estavam se cumprindo rapidamente, de maneira estranha e sobrenatural.
Vaticano, 18h – dia 2
–Cardeal Domiciniano, o Camerlengo anuncia a respeito do vindouro Papa, o qual este conclave sagrado regido e abençoado pelo senhor dos mundos, elegerá e exultara na sua missão mais sagrada e difícil. A de converter todos os infiéis para que a nave mãe possa deixar a terra antes da grande tribulação. Antes que o verdadeiro dono deste mundo venha assumir o que é seu, no tempo devido.
–Sim, Onofre, é chegada a hora. Estamos satisfeitos, nós e esta instituição sagrada. Conseguimos manter incólume o maior segredo da raça humana. Meras especulações não foram capazes de erguer pilares sólidos para que o povo assentasse suas crenças nelas. O poder que a sagrada igreja exerceu durante os séculos e séculos, assegurou a todos a manutenção do sistema galáctico a fim de proteger os humanos dos seus inimigos e da sua verdadeira natureza, que se revelada antes do tempo do fim, poderia destruí-los.
–Chamarei os outros cardeais. Que o conclave comece. E que o novo Papa possa guiar seus fiéis com astúcia e boa vontade para a guerra e o fim do mundo.
Calistemenes, 14h35 – dia 30
–Os olhos do mundo hoje se desviaram para o céu. Nunca na história documentada do homem, se viram céus como esses, riscados por meteoros vindos de várias direções. Todos os continentes, países e oceanos do globo foram afetados pela destruição massiva dos seus territórios e de suas populações. Pequenos países foram apagados do mapa simplesmente. Os que sobrevivem padecem, por falta de comida, água e pelo sol, obscurecido pelas nuvens espessas de poeira que se formam. O que mais podemos dizer que essas imagens atrás de mim, telespectadores, já não dizem? Seria o fim? Estamos finalmente presenciando o fim do mundo? É o que parece. Alanis Rocha direto da praça do fundador para o Jornal das 10.
–Aí, Atílio. Essa é por conta da casa, homem! Quem diria, heim? Quem te chama de doido agora, com as tuas profecias se cumprindo? Coisa louca, cara. Vamos todos morrer. O que acontece agora?
–Agora? Vamos todos morrer, você já disse. Mas a coisa ainda vai piorar e muito. Você verá, todos verão. Aí, essa é das boas. Tome comigo, Reges, vamos brindar o fim. –Disse Atílio erguendo a garrafa de uísque. Reges, aproveitando o movimento fraco do local, resolveu aceitar e pegou um copo. Os dois brindaram e beberam. Pelo menos ali no bar, até o momento, tudo estava em paz.
–Es-tã… mo-rren… todos. Caem do céu e ma-tam. Eles ma-tam! –Foi o que disse, depois do suspense penoso que afetou todos os presentes, a figura que adentrou o bar correndo e batendo a porta atrás de si. Era um rapaz de uns 16 anos, cabelos castanhos, boné e com sardas no rosto. Falava cuspindo, quando conseguia se fazer entender. As palavras entrecortadas e a falta de fôlego o prejudicavam para que pudesse se expressar. Machucado, o rapaz segurava a axila direita com sua mão esquerda, tapando um sangramento, quando então caiu com o rosto no chão.
–Diabos, o que tá havendo? As notícias dão conta do que tá acontendo no mundo, mas até então Calistemenes não era alvo dos alienígenas. Ou parece que esqueceram de dar o alerta. Tarde demais para o toque de recolher. Teremos que nos defender aqui –exclamou Reges, espiando pela janela. A comoção foi generalizada e todos se dispersaram e procuraram fazer o que estava ao seu alcance.
Algumas pessoas começaram a gritar e correr. Uns olhavam pelas janelas, outros já oravam sem nem saber porque. A paisagem lá fora era desoladora. Tudo estava em chamas e fortes uivos e grunhidos eram ouvidos. Mas não se conseguia ver nem uma viva alma. Atílio fez os primeiros socorros no rapaz caído. Seus serviços prestados como missionário no Senegal eram requeridos agora e bondoso que era, gostava sempre de ajudar.
Três dos homens valentes da cidade, que andavam sempre armados, Guto o policial, que estava à paisana, Alexandre o coronel, que era proprietário de quase todas as terras, comércios e fazendas da região, e Teobaldo, capanga do coronel, subiram o telhado e se colocaram de prontidão para atacar. Do alto se tinha um panorama amplo, de guerra, destruição e morte. As supostas criaturas que caíram do céu, como o rapaz assustado descreveu, atacavam os humanos como manadas de búfalos enfurecidos. Eram como dragões negros, com um exoesqueleto enrijecido que os blindavam de qualquer investida, mesmo com armas de fogo de grande porte. Rosto triangular, olhos laterais pequenos e estreitos. Um focinho alongado que se afinava e presas pontiagudas e mortais. Caroços no lugar das sobrancelhas que se estendiam em duas antenas finas nas extremidades. Eram gigantes perto dos humanos, de 2 a 3 metros; os atravessavam com as mãos. Perfuravam as carnes frágeis dos terráqueos sem armas, usando somente a força descomunal para destroçar esses ridículos oponentes. Arrancavam corpos ao meio e os deixavam no chão se debatendo e sangrando até a morte. O trio no telhado, em vão, desperdiçava munição nas coisas e aquelas balas não faziam nem cócegas neles. Quando viram que só chamariam a atenção para si, decidiram parar e voltar para dentro e pensar num plano juntos com os demais.
Washington, DC – E.U.A – Casa Branca, 17h – dia 30
–Senhor presidente, o ataque começou, como já deve saber. O plano de defesa deve ser executado conforme os líderes intergalácticos estabeleceram desde os primórdios e que foi passado ao longo dos anos aos pais das nações eleitas e a seus herdeiros no poder.
–Sim, Vossa Eminência, está tudo sob controle. O exército dos Estados Unidos está identificando os 144 mil eleitos e os defendendo das investidas inimigas. Todas as nações eleitas estão agindo de igual forma, junto com seus aliados, que não sabem o porquê na verdade lutam. Os Nemesianos não poderão impedir o êxodo dos escolhidos para seu planeta de origem. A maioria deles já se resguarda nas suas fortalezas e habitações fortificadas esperando pelo grande dia profético.
–Senhor Conrad, a igreja agora está nas mãos do poderio dos seus exércitos para que se cumpra o desígnio do mestre dos mundos, o grande espírito. Este pequeno planeta, cuja população arcaica e inapta custou muito a se desenvolver, finalmente voltará ao seu estado original e apesar de primitivo foi para nós um agradável e compatível lar. Espero novas notícias em breve. Até mais! –Desligou o Camerlengo, preocupado. Assistia o noticiário do escritório papal. As notícias mostravam o caos que se instalara no mundo. As pilhas enormes de mortos incinerados e os prédios e casas em ruínas deixariam qualquer das duas grandes guerras mundiais envergonhadas mediante sua extraordinária superioridade. O Papa italiano, Ludgero Rufino, que reivindicou para si o título de Pio XIII, estava em segurança a caminho de sua casa, o planeta Genidus.
A casa original dos 144 mil eleitos, depois da destruição causada pelo dilúvio, teve um prazo para ser reconstruída, mas foi tomada pelos Nemesianos, que residiram nela por 10 mil anos, dilapidando minérios, água e os escassos recursos que subsistiram. E apesar dos esforços e tropas enviadas nas guerras, nunca puderam reconquistar o lar. Pois os Nemesianos sãos os senhores de galáxias inteiras e eles eram senhores somente da Via Láctea.
Calistemenes, 19h – dia 30
–Arguma sugestã de como matá eles, profeta? –Ironizou Alexandre, o velho coronel. Atílio sabia que nem todos acreditavam em suas profecias. Na verdade, a maioria não. E já se acostumara com as animosidades e desconfianças.
–Na verdade, Coronel, a resposta pra essa pergunta é tão simples que o senhor vai rir. E eu só não cogitei essa hipótese antes porque acredito ser improvável essa solução. Eles morrem com enxofre!
–Enxofre? Tais falando sério, cumpade? Não brinca comigo homi, que és ingênuo demais pra alguém de idade. Não sabes que sô dono das minas daqui e que nas montanha, atrás donde nós tá agora tem toneladas de enxofre empilhada em barril, que se montoá dá pra chega na lua?
–Então, Coronel. Temos que bolar uma estratégia para chegar até lá. A sua caminhonete está nos fundos. Se conseguirmos nos evadir sem chamar a atenção das criaturas podemos buscar uns 50 barris, mas isso não vai ser suficiente para todos eles. Precisamos passar essa informação para o presidente, para o exército. O mundo precisa saber como derrotar esses invasores.
-Tá certo, têmo que manda alguém à prefeitura ou à polícia, assim pudêmo se comunicá por rádio. Mas, diacho, hôme, responde um negócio. Enxofre? Como isso mata os infeliz?
-Não sei como, mas sei que a composição química que forma a carapaça deles é feita de um composto orgânico que em contato com o enxofre se expande e assim eles ficam vulneráveis, sem sua blindagem, entende? Então podemos acertá-los e finalmente matá-los.
-Isso é supinta, velho! Pode contá com eu. Vô ensiná o mundo como se defendê desses bicho e ocê vai com o Guto pegá o enxofre. Pode sê o fim do mundo. Mas vamô defendê nosso lar até o úrtimo segundo.
-Gosto do seu otimismo coronel, mas não será fácil. Os vimos pela primeira vez em 82. Por razões que até hoje não conseguimos explicar uma nave pequena foi abatida por um dos nossos, da força aérea, no Japão, caindo sobre o vulcão Shinmoedake. Foi assim, depois de análises e testes em laboratório que descobrimos sobre o enxofre. Mas a missão misteriosamente foi abortada e todos os seus integrantes mortos, exceto eu e meu parceiro Adonias, que escapamos. Passamos o inferno. Enfrentamos essas criaturas e víamos as balas simplesmente caírem no chão ao baterem neles. E teve esse, que caiu próximo ao vulcão. Ele não se queimou, não. Mas quando atiramos conseguimos o ferir.
DERROCADA
A nave com os 144 mil já estava a caminho de Genidus. Os eleitos do cristianismo (católicos, protestantes), do islamismo, budismo e hinduísmo e entre todas as religiões, riscavam o cosmos na nave mãe chamada Lakunis e em 4 anos terrestres alcançariam seu destino.
Aqui, a batalha era arrasadora para os humanos. Nemesianos escalavam montanhas de corpos arrancando cabeças e membros e os mastigando como se fossem gados comendo feno. Toda a artilharia, bombas e engenhosidade dos homens eram impotentes contra os dragões alienígenas. Os ainda vivos gritavam e choravam, tornando aquela angústia e sofrimento ainda mais insuportáveis. Os que agonizavam pediam pela morte, mas as criaturas não sentiam pena e os deixavam morrer lentamente, na esperança que outro humano se solidarizasse e pusesse fim à dor.
Calistemenes, 22h – dia 30
Nas minas, embaixo das montanhas, em Calistemenes, Guto e Atílio terminavam de carregar a caminhonete com os barris de enxofre. Guto, que dirigia, fez uma manobra brusca e arrancou com o veículo. Mas na saída foram surpreendidos por dezenas de Nemesianos enfurecidos e velozes. Cercaram o carro e se movimentavam com destreza, despistando a atenção. Favorecia as bestas também a escuridão, pois conseguiam enxergar muito melhor a noite que em dia claro. Atílio atirava com o rifle, que disparava cartuchos vazios que foram previamente preenchidos com estopas contendo enxofre e no outro ombro pendia uma M16, que revezava os tiros com o rifle. Pentes extras e mais munição se fosse necessário. Estavam numa situação difícil, só com Atílio no ataque logo poderiam ser devorados pelos monstros.
Guto, motorista habilidoso, atropelava quantos monstros conseguia, enquanto Atílio tentava lhe passar o outro rifle com munições de enxofre. Do lado de Guto a AK-47 era obsoleta sem o rifle de estopas para neutralizar a armadura natural das criaturas. Quando arremessou o rifle entre a janela aberta da cabine o cano bateu e fez a arma girar e cair longe do seu destino. Guto esticou o braço entre os bancos tentando alcançar e pegou o rifle pela alça. Mas o desvio momentâneo de atenção quase foi fatal, pois uma das criaturas quebrou o vidro e puxou a direção, fazendo a caminhonete tombar completamente. Machucados e quase sem espaço para se movimentarem, ficaram apreensivos, de um lado a outro procurando o inimigo que se esgueirava em silêncio para dar o bote. Guto foi puxado pelo braço por um deles e não conseguia mais se segurar, quando atirou com o rifle nos olhos do inimigo, o que foi o suficiente para fazê-lo se afastar. Ao conseguirem sair do carro, correram como atletas numa olimpíada. Cinco das criaturas ainda os perseguiam. Mas a favor deles estava o fato de serem menores e leves, mais ágeis. O posto de gasolina estava próximo e lá conseguiram um caminhão e escaparam momentaneamente.
De volta ao bar, com barris que conseguiram resgatar da caminhonete tombada e com armas e munição que roubaram da loja de armas abandonada, Guto e Atílio, junto com os outros, mataram tantos Nemesianos quanto conseguiram para mantê-los seguros. Mas algo precisava ser feito logo para que não morressem todos. Nemesianos estavam invadindo e numa luta mano a mano contra eles seria impossível sobreviver.
RESSURGIDOS
Alexandre também teve êxito na sua missão. Conseguiu alertar as autoridades e quando assistiram na tevê as notícias sobre as criaturas mortas nas minas, eles acreditaram na sua história. Os drones autômatos estavam espalhados pelo globo, mantendo as redes mundiais de comunicação ativas e se abastecendo a todo momento da situação da guerra. Logo cientistas e generais dos exércitos do mundo se reuniriam e pensariam numa forma mais prática de usar o enxofre contra as criaturas e assim poder perfurar suas invioláveis armaduras. A guerra durou 5 anos, com a resistência fugindo e se escondendo a todo momento nas montanhas, cavernas e subterrâneos. A população do mundo está agora em 500 milhões de indivíduos. 6,5 bilhões foram extintos, sem contar os 144 mil eleitos que voltaram ao seu planeta.
Em Calistemenes, cidadezinha com população pré-guerra de 50 mil habitantes, somente 4 mil almas agora ocupavam suas cercanias. Desses, quase mil acompanhavam a missa campal na fazenda de Alexandre.
Quando a missa acabou, aquele garoto assustado que entrou no bar gritando e depois ferido desmaiou, veio até Atílio e disse:
-Profeta! Depois de tudo que aconteceu, devemos acreditar então que Deus nunca existiu? -Atílio pôs sua mão no ombro do garoto e pensou por alguns segundos numa resposta satisfatória.
-Não garoto, claro que não. Devemos acreditar que os eleitos eram seres alienígenas que se disfarçaram e viveram entre os humanos e que desde o início da civilização eles instruíram e ensinaram os homens.
Coisas para as quais não se acha explicação até hoje como o desenvolvimento estrondoso da civilização Inca, a construção das pirâmides, os desenhos de Nazca, dentre tantos outros mistérios espantosos, foram a herança deles para nós. Eles vieram em busca de um novo lar e em troca nos deram tecnologia e filosofias e ciências que sem eles conseguiríamos alcançar somente em 1 milhão de anos. Mas infelizmente como nós eles também se corromperam e muitos usaram sua própria sabedoria para o mal, alterando propositadamente as leis e as escrituras sagradas para esconderem-se de todos. Os antigos profetas, como Moisés, Isaías, Jeremias e Daniel, alertaram sobre seres estranhos coabitando entre nós e muito do que você encontra hoje na palavra sagrada de Deus não é mais o que ele deixou como ensinamento para os seus filhos, mas sim o legado deles para seus concidadãos, para que eles soubessem do dia e da hora do fim. O dia em que voltariam pra casa.
-É como Jesus falou, profeta: “Conheça a verdade e ela vos libertará”.
-Sim, meu filho. E vivemos todos ignorantes da verdade, como Pilatos respondeu: “O que é a verdade? Eu não a vejo, não a sinto”!
Finalmente o sol voltou a brilhar no céu, para todos. Polifemo devorava membros dos corpos trucidados dos Nemesianos. O lobo, apesar de caolho, e foi esse o motivo de ser abandonado pela matilha, era corajoso e leal.
Os sonhos estavam todos ali, nos olhares perdidos e tristes daquelas pessoas no pequeno vilarejo. Não dava pra imaginar um futuro para a humanidade. Mas Lúcio, aquele jovem sobrevivente de sardas e sorriso bobo, aprendeu com o profeta que Deus ainda estava do lado da humanidade. Sua amizade com Polifemo, o lobo solitário que dificilmente aceitava outro amigo que não Atílio, seu dono, provava que às vezes o improvável está mais próximo de acontecer do que podemos imaginar. A guerra perdurava, os Nemesianos ainda não haviam sido exterminados. Mas o fôlego antes da batalha que decidirá os destinos de todos é como o aroma de um jardim de rosas. Doce, reconfortante, encorajador.
De repente, enquanto caminhavam e conversavam,
apareceu um carro de fogo, puxado por cavalos de fogo,
que os separou, e Elias foi levado aos céus num redemoinho.
Quando viu isso, Eliseu gritou:
"Meu pai! Meu pai!
Tu eras como os carros de guerra e os cavaleiros de Israel! "
E quando já não podia mais vê-lo,
Eliseu pegou as próprias vestes e as rasgou ao meio.
Temas: Conspirações Alienígenas e Segredos Religiosos