Grande Rio - Lakana e Pêtrá DTRL 34 Poemas Sombrios

Na tarde de um dia de um tempo qualquer, depois de meses de seca, começara a chover nas terras das margens do Grande Rio, que já não era tão grande assim. Gotas d´agua caíam e formavam grandes veias que escorriam sobre as pedras do grande paredão rochoso que margeava o rio, formando um grande cânion. A água do rio começava a ficar marrom devido aos sedimentos que caiam dos rochedos. Isolados disso, dentro de uma pequena caverna, só se ouvia um grito e um choro, nasceu o primogênito de Lakana, filha de Canan, grande senhor de Djhurá, terras ao sul do Grande Rio. Esperava-se agora a chuva passar para começar o grande ritual.

O sol caia, a chuva parava e a noite adentrava, isso não era um problema para o povo de Djhará, já que a tribo já dominava o fogo. Entre as chamas das tochas e uma fogueira, circundam guerreiros e guerreiras, no centro encontrava-se Lakana, Canan e Mãana, a melhor parteira da tribo, no seu colo o filho de Lakana, ela o passa para Canan, que começa falar: “- Á MA RÁ SÁ CANAN Á SRÁ ESMRÍ OCIS. CHAMAO Á QUÊ OCIS SRÁ XIU MA CARMANAN RUM RUM Á Ô ESNÁ PÊTRÁ.” Aqui está o segundo de Canan, aquele que será senhor de vocês. Escolho agora um de vocês que será tributo e oferta para Carmanan, em troca daquele que agora será chamado Pêtrá.

Canan escolhe entre seus guerreiros aquele que será tributo, sempre que alguém nasce, um tem que morrer. Embora seja um rito, esse ato faz com que a taxa populacional fosse reduzida; já que a tribo de Djhurá era próspera e desenvolvida, depois de ter vencido grandes batalhas com tribos vizinhas, não tinham doenças, vícios ou desvios sociais, poucos morriam a não ser por velhice, a população chegou ao seu pico máximo, onde não suportaria tal carga, e o desenvolvimento que conquistaram poderia cessar. Tal medida foi implantada como um pedido direto de Carmanan ao senhor Canan, todos obviamente não desobedeceriam um pedido de um deus.

Canan se aproxima de um jovem de baixa estatura e de dentes entramelados, ele o assinala com uma mancha vermelha, sua mãe ao ver aquela cena, seus olhos começam a brilhar e de alegria começa a chorar, ela sabe que o deus Carmanan abençoará sua família e levará seu filho para um bom lugar, para ela aquilo é um privilégio. Ele olha para sua mãe e sorrir, um sorriso de medo e incerteza, um sorriso entramelado. O jovem é deitado no chão e uma venda é colocada em seus olhos. Canan pega o bebê e amarra seu corpo mole numa lança, com cuidado para não o machucar, com a ponta da lança virada para baixo, ele fica perto da extremidade afiada da lança. Ele levanta Pêtrá e a lança em cima do jovem, na altura de seu peito. Canan fala: - Á MA RÁ, CARMANAN! e solta o bebê, o peso do bebê faz com que a lança continue a cair em linha reta e atinja o coração do jovem, isso é feito para que diga que quem matou foi o bebê e esse será o peso que o bebê carregará para o resto da vida.

O Pêtrá começa a chorar, certamente porque o material que o amarrava começará a apertar seu corpo, agora pendurado na lança, que finca o corpo do jovem e mantém-se fixa. A multidão levanta as tochas e os braços para cima e cultuam Carmanan. Um guerreiro é autorizado a tirar o bebê e retirar o corpo do jovem, ele tira a lança do corpo do jovem e desamarra o Pêtrá da lança, ele começa o confisca-lo, ele percebe que falta um dedo nos pés do bebê, ele se vira para a multidão e mostra o pé do bebê. Canan pede que devolva o Pêtrá. A multidão fica aflita e agitada.

O guerreiro convence a multidão que não era possível o deus Carmanan querer dois tributos, já que o bebê defeituosos deveria ser enterrados ainda vivos, o senhor Canan certamente os enganou usando nosso deus, o jovem morrera em vão, quem deveria ter morrido era o bebê. Ele levanta o bebê e aponta a lança cheia de sangue para Canan. O guerreiro fala que Canan tem que cumprir a lei, por mais que ele seja o senhor de seu povo. O guerreiro coloca o bebê em uma tábua de madeira e o entrega para a multidão, outros guerreiros pegam Canan e o arrasta adentrando as matas, seguindo a multidão que levava o bebê. Um guerreiro começa a cavar o chão com um instrumento rudimentar, chegando a sete pedras do chão ele para, o bebê é entregue a Canan enquanto uma lança é apontada para as suas costas. Canan teria que enterrar vivo seu filho de segunda ordem, ele assim o faz, para que a lei que ele mesmo ditou seja cumprida e a ordem persista naquela tribo.

Terra por terra, de pouco em pouco Canan preenchia a cova, ele pega uma folha do lado da cova, amassa e coloca na boca do Pêtrá, para que seu choro não ouça mais, e então ele cobre a face dele com terra e agora com pressa derrama todo o resto de terra e cobre a cova. A multidão levantam suas lanças, mas não mais clamam por Carmanan. Um grito desesperado atravessa a multidão, era Lakana, ela se aproxima de seu pai e da cova. Empurra seu pai e o derruba, começa então a cavar a cova, rapidamente ela consegue tirar Pêtrá, o coloca no colo e tira a folha de sua boca, ela começa a chorar intensamente e olha pro céu, sem saber a quem tem que clamar. Ela ouve um soluço, era Pêtrá, a multidão apenas observa e se comove.

Mesmo comovidos pelo amor de Lakana por Pêtrá, a multidão se sente traída e injustiçada pela morte do jovem guerreiro. Eles querem vingança. Eles então olham para Canan e como se todos de repente soubessem o que tinha que fazer, apanham Canan e o leva descendo a croa. Todos marcham atrás dos que pegaram Canan, o levam para o penhasco do cânion, furiosos e raivosos, pronunciam palavras incompreensíveis. Chegando no penhasco ele o soltou e a multidão pede para Canan pular. Canan não fala nada e se quer se movia, diante da covardia de Canan os guerreiros começam a atirar suas lanças em Canan. Canan cai, Canan caiu, o seu corpo ensanguentado eles jogam no rio. Guerreiros de outras tribos começam a chegar e atacam os desprevenidos guerreiros de Djhuará, em frente ao rio, em cima dos paredões uma nova batalha começa. Começa a chover e agora o que escorre para o rio entre as rochas do paredão é sangue, sangue que desce pelo rio. Tudo caiu, o senhor dos Djhuará caiu, os guerreiros de Djhuará caíram, caíram no rio.

Milênios depois disso, às margens do rio São Francisco uma senhora lavando roupa começa a cantar:

- Ô menino pequenino, veio para nos salvar,

na beira do grande rio, na beira do grande rio,

veio para encantar e a grande batalha ganhar.

Ôhh Pétrar, Pétrar, veio para nos salvar.

Do diabo sobreviveu, e seu pai morreu e seu pai morreu.

Ôooh guerreiro, de Lakana o primeiro.

Ela pega a bacia com as roupas cheias de sabão e entra no rio, entrando na água ela se depara com uma grande mancha de sangue que desce no rio. Cercada de peixes que saltitavam, felizes por abundância de alimentação.

Juan Belerc

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Pré-História

Juan Bercles
Enviado por Juan Bercles em 30/04/2019
Reeditado em 01/05/2019
Código do texto: T6636272
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