O Enterro do Coronel Crispim

O relógio da antiga igreja marcava exatamente 14 horas, quando se ouviu soar o estridente som de um sino. Som que não vinha daquele enorme sino, que fica lá no alto da torre da igreja, mas sim de um pequeno sino colocado bem no portão de acesso a um antigo cemitério, localizado bem nos fundos daquela antiga igreja.

E quando isso acontecia era sinal de que mais um defunto estaria saindo de uma daquelas capelas funerárias para o interior do cemitério.

Só que naquele dia não se tratava de apenas mais um defunto como outro qualquer, porque naquele majestoso caixão carregado por quatro senhores, jazia o corpo do finado Coronel Crispim, um dos mais ricos e poderosos fazendeiros daquela região, morto vítima de um tiro acidental, dado por ele mesmo, quando limpava uma das muitas armas que possuía.

Ele era um personagem por demais conhecido na região. Mas, certamente devido ao seu temperamento extremamente rude, principalmente para com os seus empregados que 'juravam de pé junto' que ele tinha parte com o demo, estranhamente menos de trinta pessoas compareceram para o seu sepultamento, dentre elas se destacavam algumas autoridades locais, inclusive o presidente da câmara dos vereadores , um seu amigo fiel que, em reconhecimento ao forte apoio político que sempre dele recebeu, decidiu prestar-lhe um última homenagem antecipando a inauguração do forno crematório para aquele dia, colocando nele o nome do do seu amigo coronel.

Chegando o cortejo até o crematório e logo após o vereador ter dito algumas palavras referentes à inauguração, o caixão foi encaminhado para a sala da cremação, local restrito apenas para poucos familiares.

Foi então que surgiu um imbróglio; o Coronel Crispim já há algum tempo havia mandado construir um luxuoso mausoléu naquele cemitério, onde óbviamente deveria ser colocado, além disso ele deixou registrado em um documento que o seu caixão só poderia permanecer aberto para o velório até a meia noite do dia da sua morte, quando então seria trancado e sob nenhuma hipótese poderia mais ser aberto. Para os mais íntimos ele costumava dizer que isso era para que todos só se lembrassem dele como era em vida e não morto em um caixão...

Acontece que, de acordo com os trâmites, antes de ser cremado o caixão tinha que ser aberto na frente de algumas testemunhas... Coube então ao ilustre vereador a responsabilidade de assinar um termo autorizando a abertura do caixão para que a cerimônia continuasse. E quanto ao mausoléu não haveria problema, pois as suas cinzas seriam guardadas lá. Parecia que tudo estava certo...

Mas foi então que tendo sido aparentemente resolvido o problema, assim que o caixão foi aberto algo fantástico e inesperado aconteceu, deixando todos que ali se encontravam simplesmente atônitos e paralisados com o que viram; em vez do corpo do Doutor Crispim, dentro daquele caixão estava um tronco de bananeira...

É claro que foi um alvoroço total. A polícia teve que ser chamada. Perguntas e mais perguntas foram feitas mas, cadê o corpo?

Todas as pessoas que naquela noite anterior tinham participado do velório, viram o corpo do Doutor Crispim 'mortinho da silva' dentro daquele caixão, só que agora em seu lugar lá estava um tronco de bananeira...

Com expressões de pavor em seus rostos, uns diziam: -Isso é obra do capiroto!Enquanto que outros, simplesmente apavorados, faziam o sinal da cruz e diziam: -Cruz, credo!...

Fato é que até hoje ninguém, nem mesmo a polícia, conseguiu descobrir uma resposta plausível para aquele mistério.