A História de Nhô Chico

Este caso aconteceu em meados do século passado, lá por volta de 1950, quando em uma singela e humilde cabana que ficava em um descampado quase lá no meio da Serra do Umbú, vivia um velho senhor de seus quase noventa anos de idade, conhecido como Nhô Chico.

Nhô Chico era famoso naquela região por ser uma espécie de curandeiro muito eficiente. Costumavam dizer que por ele ser indio, aprendeu com eles a conhecer várias espécies de ervas com as quais ele preparava as suas chamadas 'beberagens' que eram muito procuradas por serem realmente eficientes na cura de diversas doenças.

Mas houve um dia em que ele mesmo ficou doente, ficando acamado, muito debilitado por mais de uma semana. Naquela época não haviam médicos naquela região. Então, dois amigos e conhecidos seus decidiram que o levariam até uma cidadezinha próxima para ser medicado. Como nunca em sua vida Nhô Chico tinha ido a um médico; era óbvio que ele não acreditava neles.

Mas como a sua saúde estava piorando vez mais, já fazia uns quinze dias que ele estava acamado, e vendo que daquele jeito fatalmente ele iria morrer, aqueles seus amigos acabaram por convencê-lo, dizendo que iriam levá-lo ao médico, mesmo que fosse à força, pois não iriam deixar ele morrer ali, daquele jeito.

É claro que Nho Chico não concordava de jeito nenhum, mas não havia outra alternativa... Só que ele fez uma exigência; como eles haviam decidido que passariam logo pela manhã do dia seguinte para pegá-lo, ele pediu que no final daquela tarde, como ele estava muito fraco, que eles o levassem até uma pequena uma pedreira que ficava na encruzilhada da estradinha de terra batida com a estrada principal e que ali o deixassem apenas com a roupa com que o levariam ao tal médico. Ele disse que queria passar a noite ali, sozinho, garantindo que na manhã seguinte eles poderiam voltar para pegá-lo, que ele lá estaria à espera deles.

Seus amigos até que não se espantaram com aquele seu pedido tão inusitado, pois já o conheciam suficientemente bem para saber que ele era dado a essas manias estranhas... E assim fizeram; levaram-no e o deixaram na tal pedreira.

Mas quando na manhã do dia seguinte eles lá chegaram levando para ele, além de um cavalo devidamente selado, um pequeno farnel, eles acabaram levando um grande susto quando o viram sentado tranquilamente em uma enorme toalha branca, forrada bem no meio da encruzilhada, com uma garrafa de cachaça já quase vazia em uma das mãos enquanto que com a outra ele segurava uma carnuda e sangrenta costela de algum animal. Com a boca bem escancarada, de onde caia uma farofa amarela e alguns respingos do sangue da carne que ele parecia estar devorando, quando ele se virou e avistou os dois amigos, abriu os braços na direção deles e falou bem alto: "- Só estava esperando a chegada de vocês para me despedir! Já completei aqui a minha missão; já fiz o que devia fazer e agora estou voltando para o lugar de onde vim!". E enquanto parecia embarcar tranquilamente em um enorme redemoinho que se formava, parecendo que ia como que 'engolir ele', os seus dois amigos ainda conseguiram ouvir uma outra voz, meio rouca e sussurrante, que disse: "- Olha, nós estamos esperando vocês lá hem!". Então uma gargalhada sinistra ecoou pelos ares e como que, por encanto, Nho Chico desapareceu dentro daquele redemoinho, deixando no ar um forte cheiro de enxofre ... Cruz Credo !