SOZINHO NO ESCURO

Exatamente 1 hora da manhã. Aqui neste sofá velho, repleto de parasitas, está quente, muito quente, mas ainda sim estou coberto com meu lençol, apenas com a cabeça de fora. Meus pais viajaram, estou só. Sentado aqui na sala desde às 18:00 quando cheguei do futebol, assisti a um bom filme e pedi uma pizza. Ah! O filme é uma comédia, mas não tão cômico o suficiente para me fazer esquecer da obscuridade que me rodeia nesta casa. Já não aguento mais o calor, preciso ir ao banheiro tomar banho, preciso ir à cozinha beber água, preciso ir dormir!

Apenas a luz da sala está acesa, todos ou outros compartimentos estão escuros e sombrios, um ambiente perfeito para uma criatura malévola, a mesma que agarrou-me pelos pés três noites atrás enquanto eu dormia e quis me arrastar para o inferno. O medo está me consumindo, vejo rostos e formas em cada canto da casa que olho, mas na verdade foi o desespero que me consumiu e tomou conta de meus sentidos. Ouço barulhos vindo de meu quarto, será Mia, a minha bichana? Impossível, ela fugiu a dois dias. Procuro na televisão por algo divertido para que acalme meu coração que a essa altura está para saltar de meu esôfago, e talvez a criatura espere por isso para que então possa esmagá-lo de vez com seus pés medonhos.

A necessidade conseguiu vencer o medo, então caminho em direção à cozinha. Até lá, há um corredor que mais parece um saguão de um sanatório abandonado. Tenho que ascender a luz, para minha sorte o interruptor fica no início. Na metade do caminho - na verdade são apenas 3 metros, mas que naquele momento pareciam 3 km - a lâmpada estoura, e no mesmo instante a criatura surge de minha sombra que era projetada pela luz da sala, fixa o olhar sanguinário e macabro em meus olhos e fala com sua voz diabólica:

- Que tripas cheirosas! Carne fresca!!!

Não contei pardais e saí correndo passando no meio da criatura desfazendo-a como fumaça. Corri para o quintal enquanto sentia sua presença em minhas costas. Seria ali o meu fim! Pelo menos poderia morrer de barriga cheia depois de comer uma pizza inteira. Acolhe-me no canto, segurei meus joelhos e esperei que viesse me estripar com suas garrafas que mais pareciam tesouras gigantes. Ao chegar perto de mim, deu com suas garras em direção ao meu rosto, mas antes que me atingisse desmaiei. Em seguida despertei, e estavam meus pais ao lado da cama me chamando para tomar café, perguntei-lhes se viram o que acontecera, disseram-me que ao chegarem me ouviram falando enquanto dormia, estava soando muito, rebatendo-me no colchão. Não sei o que houve, mas preciso de ajuda o quanto antes.