Os olhos nao viram
Os olhos nao viram- DTRL34 - Poesias Sombrias
Chovia muito, todas as ruas com enxurrada e nem com o abrigo das árvores, os pássaros conseguiam se livrar da chuva intensa com grossos pingos d’agua.
Mesmo assim fui até a casa Milu, levando um pequeno vaso com gerberas de seda na cor laranja.
Eu nunca consegui entender como Milu mesmo sendo cega, conseguia manter a casa tao limpa e organizada.
“Oh triste magia da dor da escuridao.
Num profundo sono de um doce abandono,
Um barco sem rumo e um ser sem apoio
Num longo lamento em um fundo de sofreguidao”
Lá chegando toquei a campainha várias vezes, já ia embora quando a moradora da frente, saiu e me contou rapidamente o que havia acontecido.
Milú ficava com o marido após o jantar assistindo TV e depois iam para o quarto, no dia seguinte ela fazia o café e tomavam juntos, depois ele saia rapidamente para trabalhar voltando só a noite.
Uma noite durante o jantar, ele lhe disse que no dia seguinte bem cedo, iria viajar dois dias e também recomendou-lhe que não se ausentasse, assim ficaria mais tranquilo e ligaria para ela quando chegasse no hotel, já havia avisado também a vizinha da frente.
Assim foi, Milú deu um beijo no marido, desejou-lhe boa viajem e foi dormir.
No dia seguinte ela acordou e foi para a cozinha, sentou-se, tomou um suco comendo um pao de mel.
Depois levantou-se e foi para o quarto, ajeitou a cama bem esticada, guardou algumas coisas no armário e foi sentar-se no sofa da sala.
Na hora do almoço, retirou uma comida congelada do freezer, aqueceu no micro ondas e comeu logo em seguida, sentou-se no sofá da sala e assim foi por todo o dia.
 noite ficou aguardando a ligaçao do marido, mas... nada, achou que ele não tivera tempo ainda para isso.
Assim passou mais um dia.
No segundo dia quando anoiteceu e nem uma ligação de Rubens, Milú saiu e chamou a vizinha da frente para conversar a respeito da sua procupaçao.
-D. Alzira entre, vamos conversar aquí dentro.
Enquanto Milú preparava o chá, Alzira viu a maleta de Rubens em uma das cadeiras na sala de jantar, seu coração disparou, suas pernas estremeceram, levantou-se e disse a Milu que ia no banheiro .
Alzira foi adentrando passo a passo no apartamento enquanto olhava ao seu redor, até chegar no quarto do casal, onde se deparou com uma cena que jamais esquecera.
Rubens estava acocorado no chão, bem no canto do movel da TV, como se tivesse ido fechar a cortina e lá ficou, imóvel para sempre.
Ele morreu de um infarte fulminante.
Foi até a sala, ligou para a polícia e depois foi a cozinha contar o ocorrido para Milú.
E terminou me dizendo que foi a cena mais horrível que ela havia presenciado.
Milú voltou para Friburgo onde moravam suas irmãs.
Autorizo a publicaçao e divulgaçao
do meu texto nas midias do DTRL