A CRIATURA DO ESCURO

Conto-lhes um relato que a mim foi destinado miseravelmente. Não posso me conter, nem me esconder atrás de camisas de força, a minha insistência nos míseros acontecidos me faz tomar bandejas de remédios. A minha sanidade foi por água abaixo, também não tenho pregado os olhos ultimamente, quisesse eu ter  amnésia agora, para esquecer esses infortúnios que tomaram a minha vida para sempre, como um total inferno dantesco. Não tenho muito tempo para contar essa história, sinto que ele está aqui debaixo da minha cama e que a qualquer momento puxara a minha perna!

Confesso que ainda me sinto louco, se não o sou! Pois bem, vou abrir o meu pobre coração angustiado…

Trabalhei em uma clínica a poucos meses como recepcionista, sendo estagiário. Todas as manhãs eu acordava cedo, junto de minha mulher que às vezes me acordara quando não conseguia.

Um dia anterior a esse que vou lhes contar já começará a ser estranho, dando continuidade ao dia seguinte, a minha loucura começou numa quinta-feira de madrugada, estava dormindo na cama sozinho, minha mulher fora dormir na rede no quarto da sua vó, pois ela já era bastante idosa e não podera ficar só.

Acordei na madrugada com sons incomuns na porta, irreconhecíveis, e a escuridão tomava conta de cada centímetro do quarto, não bastava, começou também os arranhões na porta, como se tivessem escrevendo algo, fora o cheiro de putrefação insuportável.Tirei um lençol sobre mim e me levantei, a cama era de molas e fizeste um pouco de barulho, -- os arranhões cessaram!

Gritei conscientemente.

Fui até a porta descalço, bem devagar. Girei a chave da porta e tirei do buraco da fechadura, a luz da sala tocará na minha retina e a ardência logo em seguida surge.

Fui encostando o olho no buraco da fechadura para averiguar o que teria sido aquilo, ainda não estava com tanto medo.

O medo veria a seguir, um olho vermelho apareceu de repente, no buraco da fechadura. O susto foi de imediato, acabei esbarrando na central de ar. Senti um calafrio extremo na espinha.

Depois disto, a maçaneta começou a mexer e a girar, e eu soara frio, tentei gritar, mas nada saía, parecia que tinham arrancada a minha língua fora!

Sentei na cama e deitei, me cobri dos pés a cabeça, mas aquilo na porta continuará, e as sombras. As sombras!

Depois de um tempo acabei pegando no sono, acordei e começei a lembrar do que teria me ocorrido na madrugada, perguntei a minha mulher se ela não ouvirá algo, ou viu.

Ela nega qualquer barulho naquele horário, ou qualquer outra coisa.

Cheguei a pensar várias vezes se não tera sido apenas um pesadelo, e me convenci que era apenas isso, não queria enfiar tais perturbações sem fundamentos, não tinha dormido muito nos últimos dias.

Percebi que meu dia não seria dos bons, antes de sair de casa, tentei comer um pão de dias atrás, nossa renda não estava muito boa, o pão parecia um concreto que desceu rasgando goela a baixo, tomei um copo de leite para ajudar o pão a descer e rapidamente me arrumava e seguia para o trabalho, ainda bêbado de sono.

Adiante, segui pelo mesmo caminho de sempre, pela mesma rua, bem próxima a minha morada, assim, dobrando a esquina para entrar na rua, avistei um velho mal vestido, não que eu seja preconceituoso com vestimentas, ou com gente velha; mas aquele velho era estranho, vestia trapos, ele estará no meio da rua parado em pé de cabeça baixa, fiquei receoso em passar por ele, então comecei a caminhar em zig zag, e o infeliz me fitou levantando a cabeça com aqueles olhos vermelhos de sangue! AQUELES OLHOS VERMELHOS DOS INFERNOS!

Seria dele o olho através da fechadura mais cedo?

Fiquei me perguntando naquele momento...

Aqueles olhos me acompanhará em qualquer passo que eu desse, não pude escapar daquela visão macabra, nem um segundo sequer. Aproximando-se dele e tentando se desviar, se pôs na minha frente, não pude conter minha expressão de indubitável horror e medo, seu rosto estava desfigurado e pálido, parecia um morto saído do necrotério, seu queixo estava deslocado, nunca tivera visto algo tão horripilante e mal cheirosa em toda a minha vida. Chegando mais perto dele, vi os vermes rastejando dentro da sua pele, fora as moscas aos montes voando em sua volta, logo me veio ânsia de vômito, me contive.

O cheiro de putrefação era tamanha!

Fiz-me várias perguntas, que diabos era aquilo, será aquilo um pesadelo que eu estava a ponto de acordar caindo da cama?

Será eu um amaldiçoado por Deus!?

Aquele velho, se é que devo chamar assim tal criatura assombrosa que me fizera arrepiar até o coração.

Meu receio de que aquilo era maldição cresceu ainda mais, quando a coisa impedindo-me de passar por ela veio em minha direção cambaleando, e vociferando como um louco!

Tentei passar do seu lado de maneira rápida, mas eu estava um pouco travado com a situação, nesse momento o miserável vermicida se jogara no chão pegando minha perna com suas mãos nojentas.

Minha reação foi instantânea e repulsa à aquilo, meu instinto saiu das entranhas, agi tão rapidamente quanto ele ousou tocar-me.

Dei-lhe um chute certeiro no rosto, o golpe não foi dos melhores, mas ainda sim saiu sangue de sua boca, arranquei-lhe um dente, um dente canino!

Mas nada adiantou, o miserável não se desgrudou de mim, tentando me levantar, acabei me desequilibrando e cai de costas no asfalto, por sorte, caí perto de uma pedra que se encaixava perfeitamente em minha mão, não pensei duas vezes, e de súbito, enterrei a pedra com toda a minha força no rosto daquela monstruosidade, que um de seus olhos se esbugalhou para fora das órbitas!

Respingando sangue em minha calça, e no tênis branco, sujando um pouco a minha mão que o apedrejara. 

Soltando-me de imediato, me levantei rapidamente e corri o mais rápido que pude dali. Meu coração estava em choque, faltará explodir de tensão e alívio.

Parei um pouco, e me fiz perguntas das quais nunca terá respostas, estará eu ficando louco? Seria eu um miserável louco?

Aquilo era um delírio?

Minhas mãos treminham!

Me chamariam de louco, LOUCO! LOUCO!

Tentei manter a calma, já estará perto de onde trabalho, e haverá pessoas por perto, não quisera que notassem o meu rosto pálido de defunto assustado!

Chegando ao meu trabalho, fui direto para o banheiro, e me olhei no espelho por um tempo, meu rosto continuará pálido de medo, precisava acalmar os nervos, pensei comigo mesmo que aquilo não fora real, molhei o rosto, lavei minhas mãos com sabão e depois a mancha na calça. Saindo do banheiro, dei de cara com o meu colega que acabará de chegar na clínica, reparando expressões anormais no meu rosto nunca vistas antes por ninguém naquele ambiente, e no meu jeito inquieto...

Perguntou-me o que aconteceu para estar naquele estado de nervos a flor da pele, e o porque da minha calça estar molhada. Sai sem dizer nada, sentei na cadeira de frente para o computador.

Neste dia não houve muitos atendimentos e de imprevisto meu amigo que ficara a tarde não podera ir, pois estará doente. Eu ficara todo o tempo com aquilo na minha mente, minha sanidade já não era mais a mesma. Aquele incrédulo matará minha realidade pouco a pouco. Meus colegas e pacientes começam a perceber o meu estranho comportamento em alguns momentos, principalmente quando eu fui para o banheiro centenas de vezes para verificar a minha palidez e sanidade.

Já estara escurecendo, e os funcionários estavam indo embora, eu ficará até tarde para fechar a Clínica, já que meu amigo não poderá vir.

Senti-me como um cão assustado naquele lugar sem ninguém por perto, qualquer ruído que fosse, meu peito se esgoelava de medo.

Tentei pensar em algo diferente, e a única coisa que ocorreu foi a hora extra que eu ganhara neste dia, já que as coisas em casa não estará muito bem.

A escuridão tomara conta do estacionamento e por fim de toda a clínica...

O faxineiro que era um dos últimos a sair, perguntou se eu não estara bem, se eu não quisera companhia para fechar a clínica.

Veio uma vontade grotesca de tocar no ocorrido, de cuspir tudo que me ocorreu mais cedo, mas me omiti, me chamaria de louco, LOUCO, LOUCO!!!

Se eu já não era a muito tempo!

Depois de uma pequena conversa ele se retira, então fui checar todos os consultórios como de rotina, na maior pressa do mundo. A minha vontade naquele momento era de estar em casa, ao lado da minha mulher e lhe contar tudo que ocorrerá comigo.

Pensava comigo mesmo enquanto andava pelos corredores da clínica, que o meu dia fora com certeza o mais estranho em toda a minha vida e o mais amargo. Se tudo terá sido real, será que alguém mais virá aquele coisa naquela rua?

Será que alguém o encontrará morto?

Pelo golpe que desferi em seu crânio, nenhum homem se levantaria.

Faltara fechar apenas os basculantes da copa e pôr os cadeados nos portões.

Fui até a copa, tomei um pouco de café, sentei no banco e me encostei no balcão, tentei parar para refletir um pouco, quando de repente ouvi um barulho, e aquilo me deixará de cabelo em pé.

Não me contive, todas as sensações que tive quando vi aquele coisa mais cedo vieram a tona. Comecei a soar frio.

Estaria morto de tão frio na situação que meu corpo estará? Será aquela coisa outra vez?

Meu coração agora fazia tic-tac como uma bomba relógio, baterá tão alto que tomara conta do silêncio.

Levantei-me devagar e fui até a porta, abrindo-a aos poucos, e o barulho cessa, olhei para o fim do corredor e nada avistei, olhei para o outro corredor onde ficara a recepção central e vi dois pequenos brilhos na escuridão, não se moviam, poderiam ser um óculos em cima das cadeiras reflerindo a luz da copa?

Pensei comigo que será apenas isso!

Não movi um músculo se quer, fitei os dois brilhos por um instante e eles se movem em minha direção como que rastejando. Travei por inteiro, minha reação, minha adrenalina fora embora, meu instinto de sobrevivência terá me abandonado. Minha única reação foi fechar os olhos, quando ouvi um ronrosnar, olhei novamente surgindo na claridade da fresta da porta, um gato que estará se esfregando nas minhas pernas, dei-uma gargalhada que ecoará nos corredores, senti um alívio, o gato quase me fizera surtar.

Peguei o bichano no braço para por para fora, quando ele começara a me arranhar e a se sacudir...

Ele começará a fazer sons como se tivesse visto um cão atrás de mim. As luzes da copa começam a piscar e uma sombra surge atrás de mim, o gato se debate e conseguirá sair dos meus braços, e todo o medo voltará em dobro. 

Me virei devagar e começara a ouvir ruídos atrás de mim, as luzes continuavam piscando...

Então surge dedos negros e com garras como se tivesse por trás da porta, meu coração acelera rapidamente a ponto de infartar.

Fora as garras, aquilo que eu virá tinha olhos brilhantes, e cabelos negros e um sorriso melancólico no rosto, senti minhas forças se esvairem.

Aquilo me fitou e sussurava algo, não consegui entender, estava fora de si.

Eu com certeza seria um louco alucinado.

Aquela coisa esticou seus longos braços até minha direção, quando voltei a si, veio do fundo do âmago o maior grito de horror. Dei passos para trás e corri como um louco no corredor para a saída.

Corri até o fim do corredor e entrei a esquerda em uma porta de vidro que dará a saída para o hospital vizinho.

Havia chegado até a porta, mas esqueci que ela estará fechada com a tranca, bati na porta para que alguém ouvisse e pedi por socorro. Aquela coisa passará pela porta de vidro e seus olhos brilhavam feito fogo na escuridão, lembrei do interruptor que ficará perto da porta, mas não tive tempo.

Aquilo chegou a mim tão rápido, parecia surfar nas trevas, agarrando o meu braço em uma só mordida. Gritei tão alto que o eco sairá aos quatro cantos. Alguém do hospital ao lado ouvirá a minha agonia e chamará a polícia. O monstro das sombras colocará suas mãos grotescas na minha boca, continuei gritando, e me debatendo...

Arrisquei de novo e consegui ligar o interruptor, o monstro se dissipa como fumaça na luz. Surgindo proximo a porta de vidro no escuro. Tive a idéia de ligar o alarme, digitei rapidamente os dígitos, sem tirar os olhos daquela coisa.

As luzes começam a piscar novamente e minha agonia toma conta de todas as minhas reações, meu braço estava ferido, ficará cravado os dentes no meu braço, seria a prova de que eu não estaria louco, e também as câmeras de segurança. Esperei trinta segundos para que o alarme soasse e viessem alguém para verificar a clínica. Demorou algum tempo para que a polícia chegasse pela porta em que estou, e a abriram com toda a força, me encontraram no canto da parede. Me disseram que eu estava com os olhos arregalados olhando para o escuro. Depois disse não me lembro de mais nada. Me encontrava em uma cama de hospital, e minha mulher do meu lado, assim que me ver acordar, me pergumta como estou e o que de fato aconteceu comigo.

De início não soube responder absolutamente nada. Eu ainda conseguirá lembrar daquela coisa estranha e começará a pedir a minha mulher que não me deixe sozinho naquele leito, pois a criatura virá me buscar.

Minha esposa me olhará sem entender nada, achará que eu estava ficando louco. Depois disso, eu insisti no que vi, alguns meses a mais passei a ver outras coisas estranhas ao meu redor, acabei matando meu gato por puro cisma, e matando a minha ave de estimação por achar que ela fosse um monstro devorador de órbitas oculares.

A mulher com quem eu dividia a cama e a vida me entregará a um sanatório.

Eu surtei de vez, e apenas acordei em uma maca numa sala, olhei para a porta que continha apenas uma pequena janela, tentei me levantar ainda com dor de cabeça, mas estava preso a ela com algemas. Alguém aparece na porta, e entra se identificando como dr. Alfredo.

Por um instante não me lembrará de nada, até que veio alguns lampejos de lembranças e minha cabeça começou a doer. O dr. Me perguntará como eu estava, e que se minha cabeça doer séria normal, me fizera várias perguntas.

Perguntei o por que das algemas, e ele me contará o que me ocorreu, eu estava confuso.

Disse-me que era psiquiatra, perguntei-o se ele me achava louco. Meu estado foi de calma para furioso. Antes de mais nada, ele quisera me mostrar algo, mas não quis ver. Perguntei insistentemente por minha esposa, e ele me dirá que minha esposa estará longe no momento.

Me dissera que precisava me mostrar algo, então acenti que podia. Um vídeo mostrará eu em um supermercado a noite gritando, correndo pelos corredores escuros como um cão assustado. Fiquei paralisado por um instante.

Primeiro me veio a mente como fui parar ali, naquele lugar. Não me lembrava de absolutamente nada.

O dr. me observava, perguntou-me o que eu teria visto, e eu não falei nada. O silêncio tomou conta do quarto, o barulho da minha mente estava alto, eu sabia o que tinha visto, eu sentirá aquelas mãos de novo! Aquele maldito me segue no escuro! -- pensei.

Como ele me encontrou? Como?

O dr. fizera mais algumas perguntas para dar o diagnóstico e se retira.

Depois de alguns dias minha mulher fora me visitar no sanatório, fora apenas para se despedir de mim, insisti no que tinha visto nos últimos dias, e ela apenas me chamara da louco, LOUCO!

E fora embora para sempre. Estou aqui até hoje nesse miserável hospício, as luzes ainda piscam e o meu coração colapsa de medo enquanto escrevo esse relato neste velho pedaço de papel, as letras não estão muito boas, meus braços tremem, os enfermeiros abertam forte demais as camisas de força.

Aquela criatura não fora embora, eu sei que ela está aqui embaixo da cama.

Minha realidade é louca?

Será eu um louco?

Se já não sou a muito tempo!