Terror sobre uma moto
Entraram cedo na criminalidade, cometendo pequenos furtos, evoluindo rapidamente para assaltos, quando se utilizavam de armas de fogo, intimidavam, ameaçavam e agrediam as vítimas. Assim era a vida de Maurício e André. Aos 20 e 21 anos, respectivamente, compreendiam não ter mais volta para o caminho que escolheram. Culpavam as condições sociais em que cresceram. Frutos de famílias instáveis, cujos pais eram ausentes, usavam drogas e não conseguiam prover as necessidades básicas da família. Com toda essa omissão, foi fácil abandonar cedo a escola, conhecer pessoas ruins e buscar na apropriação indevida do alheio uma oportunidade para adquirir aquele tênis da moda, ou dispor de recursos para drogas ilícitas.
Há alguns meses davam trabalho a polícia da cidade de Monte Verde, que não conseguia capturá-los. Era difícil identificar dois homens específicos em uma moto, uma vez que tantos se utilizavam desse veículo para cometer crimes. Maurício e André não tinham vítimas em preferencial. Assaltavam à noite, qualquer pessoa que encontrassem, podendo a ser uma senhora que andava pela rua, indo em direção a sua casa após um dia cheio de trabalho, ou a pequena mercearia de um bairro residencial, que ficava aberta até tarde.
A única camuflagem dos dois era os capacetes sem viseiras. Usando roupas sempre desgrenhadas e com um porte físico pouco avantajado, típico de dependentes químicos; não seria difícil identificá-los. Assaltaram muitas pessoas, às vezes agredindo ou não. Mas aquela noite não deu tão certo para os dois. Depararam-se com um senhor corpulento, alto e mal-encarado. Ele queria chegar em sua casa após receber o salário. O homem resistiu a abordagem e acabou baleado fatalmente.
Os dois saíram em disparada, com uma tremenda agonia. Era a primeira vez que haviam matado alguém, apesar de já terem passado perto anteriormente. Isso provocou uma verdadeira reação química no cérebro de ambos, pois descobriram ter uma consciência da qual se julgavam desprovidos.
No fim de tudo, não foi a polícia nem um justiceiro quem pôs fim a vida e a onda de crime dos dois, mas um caminhão. Enquanto fugiam da cena do homicídio, realizando ultrapassagens perigosas, colidiram frontalmente com um veículo que vinha na direção oposta. Morreram ali mesmo na estrada. Esmagados violentamente. Conheceram um trágico fim para uma trágica vida. Sem possibilidade de expressarem arrependimentos nem de adotar uma nova conduta. Apenas morreram. Duas pessoas às quais a sociedade faria pouco caso e ressaltariam em uníssono: “dois bandidos a menos”.
Contudo, como muitas maldições que vagueiam nesse mundo, a morte de Maurício e André daria início a uma lenda que aterrorizaria a cidade por gerações. Os assaltantes fantasmas da moto. Tantas eram as pessoas que afirmavam ver uma moto com dois homens dirigir-se ameaçadoramente, como se fossem abordá-los, para em seguida sumir. Outros diriam ouvir o ronco do motor, mas não enxergavam nada. Ficavam intrigados. Com medo.
Nem na morte Maurício e André encontrariam a paz. Vagariam para sempre em busca de vítimas pelas ruas escuras de Montes Verdes.