O Suicida
“Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias.” Pablo Neruda
Sísifo Abriule acabara de acordar. Estava num quarto todo branco com uma camisa de força tão bem ajustada que lhe impedia os mais básicos movimentos. Não sabia onde estava, mas sua cabeça de escritor lhe dava a resposta: estava num manicômio, um hospício. Sua mulher deve tê-lo internado e o motivo era bem claro: ficar com sua fortuna! Uma jogada de mestre: encher o marido de drogas e dizer para a polícia que ele tentou o suicídio. O pior é que, nas duas primeiras vezes, Sísifo realmente tentou se suicidar ingerindo uma overdose de remédios para depressão. Com a morte de seu pai e poucos meses depois de sua amada mãe, a vida perdeu o sentido para o escritor best-seller de livros de terror, Sísifo Abriule, e o suicídio lhe pareceu a melhor solução. Ele só sobreviveu, porque sua esposa, Patrícia, ainda o amava (e muito) e o levou rapidamente para o hospital nas duas vezes em quem ele tentou se matar. Isto criou para Patrícia um álibi poderoso e indestrutível. Ora, se ela tentou salvá-lo da morte duas vezes, por que tentaria matá-lo agora? Pois é. Não fazia sentido, não é? Mas, depois que ela se apaixonou por Pâmela Licul, na academia de ginástica, e descobriu o que era amar e ser amada de verdade, Sísifo tornou-se apenas um fardo, um estorvo para Patrícia e ela imaginou, então, uma forma engenhosa de usá-lo para ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, de se vingar pelos anos sofridos que ela viveu ao lado dele: um homem vingativo, fútil, cruel e que a desprezava pelo fato dela ser mulher, linda, inteligente e uma perfeita “Amélia”. A agora ex-fã e ex-devotada esposa planejou, então, a morte de Sísifo e seguiu os passos da execução do crime maquiavelicamente. A morte de Sísifo só não se concretizou, pelo fato de Dolores, a faxineira que tinha a chave da casa, ter chegado um dia antes do dia marcado para faxina e ter ligado imediatamente para o SAMU, ao encontrar seu patrão desmaiado no chão. Sísifo Abriule tentou falar com o enfermeiro e com seu médico a real verdade por trás de “sua tentativa de suicídio”. Não conseguiu ser convincente. Ninguém acreditava mais nele. Ninguém acredita num suicida em série. E, por causa disso, Sísifo Abriule ficará preso no lugar de loucos, onde se encontra, até apodrecer, enquanto sua mulher (agora apenas no papel), Patrícia Abriule, administra seus bens e se diverte com Pâmela Licul, a mulher que a ama de verdade, nos melhores lugares do mundo.
FIM