O Piromaníaco

Quando criança, Jair Meltir já se divertia colocando fogo em insetos. Ele apreciava vê-los queimando e virando cinzas. Já adolescente, sua diversão não mudou. Jair fazia armadilhas para pegar pombos e quando os capturava, ele os assava no forno da mãe e os devorava bem passados, saboreando cada pedaço. Jair Meltir era um piromaníaco, ou seja: alguém que sente compulsão, um impulso irresistível, em atear fogo nas coisas. Já adulto, Jair se formou em música. Como músico, não apreciava qualquer música. Não mesmo. Só gostava de música clássica e de mais nada. Beethoven, Bach, Wagner, Mozart, Chopin e Strauss eram seus compositores preferidos. Mas seu ídolo, sempre foi Nero. Nero foi um imperador romano que teve a ajuda da mãe para chegar ao poder e depois a matou. Pode-se dizer que ele era louco e que fazia qualquer coisa para saciar seus desejos. Qualquer coisa mesmo. Mas não era por este motivo (a determinação para conseguir o que se quer) que Jair Meltir o admirava. Era pela sua forma de conseguir inspiração. Para compor uma música nova maravilhosa e original, Nero ateou fogo em Roma e, diante do espetáculo dantesco, conseguiu, afinal, seu intento. Jair Meltir, também em busca de inspiração para uma nova música que de tão sensacional se eternizaria por séculos e séculos, ateou fogo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Vendo o local tão visitado e cenário de inúmeras apresentações memoráveis arder em chamas com centenas de pessoas dentro, ele conseguiu, como Nero, a tão desejada inspiração...

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 13/03/2019
Código do texto: T6597056
Classificação de conteúdo: seguro