O youtuber
Cláudio Silveira era um youtuber famoso entre os internautas que acessam essa rede de compartilhamento de vídeos em busca de canais que falem sobre assombrações. O “Mundo da Escuridão”, de Cláudio, tinha mais de 100 mil inscritos. Ele conta histórias de seriais killers, exibe supostas aparições fantasmas, narra desaparecimentos inexplicáveis, lendas urbanas, dentre tantos outros acontecimentos bizarros. Seus inscritos eram verdadeiros fãs, deixando comentários de encorajamento e parabenizando o jovem, de apenas 22 anos, pelo trabalho bem feito. Mas o forte dele eram as visitas a residências abandonadas, onde eram avistadas, apesar das controvérsias, pessoas já mortas, ou seja, as boas e velhas casas assombradas.
O youtuber nunca filmou nada apavorante durante as suas aventuras nesses locais, isso nos mais de três anos em que tinha o canal. Mas sabia como exibir os vídeos de até 20 minutos de forma atrativa e evolvente. O próprio ambiente do local onde as gravações eram feitas assustava muito. Somava-se a isso a edição bem feita com uma narração interessante. Sombras, luzes, tudo era utilizado para assustar os inscritos do canal. Cláudio usava o ambiente turvo para dizer que tinha filmado supostos espíritos, onde não havia nada.
Até que um dia teve a ideia de ir a um prédio abandonado onde funcionou por décadas um abrigo de idosos. Há tempos planejava isso. Até que se decidiu. Montou seu kit: celular, é claro, lanterna, toalha, garrafinha de água, chocolate, um canivete. Colocou tudo na mochila e foi. Usava tênis preto, calça jeans azul e camisa polo preta. Sempre fazia isso sozinho. Não precisava de ajuda. Estava decidido a passar a noite vagando pelo prédio. Entendia que o perigo real era encontrar usuários de drogas, traficantes, ou outras pessoas ruins. Era o seu único medo.
O abrigo abandonado era um grande complexo com um andar, dezenas de quartos, corredores, mais de um pátio de lazer. Por décadas recebeu muitos idosos deixados lá pelas famílias. Eram pessoas esquecidas pela sociedade. Tantos morreram ali, tristes e isolados dos parentes. Falava-se do fantasma de uma senhora que sempre era avistada chorando. Comentava-se também sobre a parição de um senhor muito branco, com ar severo e rabugento. Também havia a alma de outro idoso que saudava a todos com uma boa noite, ou bom dia, dependendo da hora.
Por estar fechado há mais de dez anos, o local aparentava risco de desmoronamento. Muitas portas foram arrancadas, inclusive a de acesso, o que facilitava a entrada de qualquer um nas dependências. Cláudio chegou ao abrigo às 23h00 e começou a sua ronda em busca do sobrenatural. Andava por todos os lados, com muita cautela. Ora fazia uma gravação com o celular de alta resolução, ora falava alguma coisa. Mostrava desenhos nas paredes, pichações de mau gosto.
Até que, ao passar por um dos quartos, viu, ou pelo menos jura que viu, um idoso. Parou e voltou, mas não havia nada lá. Continuou. As horas se passavam, e mais uma vez achou ter enxergado a mesma pessoa de antes. Não chegou a gravá-la com o aparelho celular. Sentiu medo e pensou em ir embora, porém, ficou; antes tivesse ido. As horas se passaram. Quando o sol começava a despontar no céu, por volta das 5h30min, o jovem encerrou a sua aventura. Já havia coletado muitas horas de gravações e tinha uma sensação ruim. Em nenhum dos outros locais visitados presenciou algo parecido. Jamais tinha visto nada. Daquela vez, teve medo, pela primeira vez.
Ao deixar o interior do prédio, caminhando pelo pátio, em direção ao portão de entrada e saída, que ficava no muro que cercava o antigo abrigo, parou. Olhou para trás. Ficou assim por alguns segundos.
Ao se virar para seguir em frente, um velho passou por ele e disse:
- Bom dia!
- Bom dia! – Respondeu Cláudio educadamente.
Parou, arregalou os olhos e se perguntou: “como?”. Aquele era o senhor que vira algumas vezes durante a noite. Olhou para trás e não havia nada. Virou-se para frente, pronto correr, quando ouviu atrás de si:
- Onde pensa que vai?
Não teve tempo de gritar. Desaparecera.
Apenas o celular de Cláudio, sem nenhuma gravação relevante, foi encontrado no local onde ele sumiu. Jamais seria visto novamente. A polícia passou a trabalhar com possibilidade de sequestro e morte com a ocultação de cadáver. Muitos, porém, acreditavam que Cláudio passara a fazer companhia às almas penadas dos idosos solitários do asilo. O certo é que seu canal jamais foi atualizado novamente, e o jovem passou a figurar nas histórias de terror de outros youtubers fascinados pelo tema assombração. Que não tivessem a péssima ideia de visitar o abrigo abandonado.