FRAGILIDADE... FINAL!!!

"Querida Dalila...

Desde quando nos conhecemos, seus olhos foram os que eu encontrei tudo o que sempre quis encontrar numa mulher, porém nunca falei a você sobre o real motivo do meu medo que, segundo as suas palavras, era besteira e eu deveria virar homem.

Eu morava numa fazenda com minha mãe que meu falecido pai havia deixado para ela. E, nessa fazenda, tínhamos muitos animais e eu, desde pequeno, cresci em volta deles. Um dos que eu mais gostava eram os patos. Meras aves engraçadas e perfeitas para piadas.

Havia um lago profundo que fluía em direção ao rio onde os patos nadavam e, num certo dia, eu e minha mãe estávamos andando por perto daquele lugar e não havia mais ninguém ali conosco em todo aquele vasto espaço.

Eu estava na beirada do lago e, minha mãe, quem muito zelou por mim e me deu todo o amor do mundo, sempre se preocupou com minha segurança. Mas, como eu era uma simples criança, desobedeci a suas ordens e me aventurei mais perto da beirada do lago.

De repente, uma dessas aves olhou profundamente pra mim e eu para ela, então, num salto violento, ela avençou para cima de mim e me desequilibrei no local onde estava e acabei caindo no lago profundo.

Minha mãe, que estava de costas, virou-se e saiu desesperada em direção ao lago para arrebatar-me das águas. Lançou-se em direção ao lago e conseguiu me retirar de lá e deixar-me na beirada outra vez.

Porém minha querida mãe não sabia nadar e só teve tempo de me colocar na beirada do lago a salvo para começar a afundar onde estava infestado de patos que se agitavam e voavam para longe dela, mas a ave que me bicara se misturara com as demais e então não pude saber onde o animal estava.

Vi um último sorriso de minha mãe antes dela se perder nas águas na minha frente.

Quando consegui trazer alguém para tirá-la de lá, infelizmente já era tarde. No instante em que tiraram o corpo de minha mãe, o pato que me assustou voltou ao lago, ficou olhando para mim e soltou um grasno. E esse grasnar selou meu destino.

Fui criado por parentes que moravam na cidade e quando completei 17 anos, decidi conquistar tudo o que queria e tornar-me uma pessoa fechada e introspectiva.

Até que te conheci.

Porém, eu, que sempre tive tudo o que desejasse e o respeito aos olhos de todos, não tive a mesma coragem de lhe contar sobre isso.

E foi sua incompreensão que me levou a esse ato. Espero que não chore.

Continuo te amando, seja lá pra onde eu vá agora. Porém aqui o grasnar maldito desse pato maquiavélico não me alcançará, nem a incompreensão do mundo diante da minha fobia. Nem seus deboches.

Deixo tudo que tenho para ti. Até minhas músicas do celular.

A que minha mãe sempre cantava para minha era simples:

Nem sei porque você se foi

Quantas saudades eu senti

E de tristezas vou viver

E aquele adeus, não pude dar

Você marcou em minha vida

Viveu, morreu na minha história

Chego a ter medo do futuro

E da solidão, que em minha porta bate

E eu...

Gostava tanto de você

Gostava tanto de você

Eu corro fujo desta sombra

Em sonhos vejo este passado

E na parede do meu quarto

Ainda está o seu retrato

Quero ver pra não lembrar

Pensei até em me mudar

Lugar qualquer que não exista

O pensamento em você

E eu...

Gostava tanto de você

Gostava tanto de você

Ela me ensinou essa canção naquele mesmo lago.

P.S.: Espero que não tenha achado graça dessa carta... assim como achou do meu medo.

Ecov Ed Olaf”

FIM.

Leandro Severo da Silva e Mariel F. Santolia (edição e revisão)
Enviado por Leandro Severo da Silva em 25/02/2019
Código do texto: T6583819
Classificação de conteúdo: seguro