FRAGILIDADE... parte 3

Ao contar para minha esposa e sogra o que me assustara, não me levaram muito a sério, porém eu estava tomado de um terror que ser entendido ali não faria tanto sentido para mim.

Até que minha esposa, aquela que eu amo por tanto tempo, a mulher da minha vida, me perguntou, quando já estávamos na nossa cama, qual era meu verdadeiro medo, então expliquei para ela:

- Anatidaefobia.

Ela estranhou porque nunca ouviu essa palavra na vida. Imaginava que seria uma fobia por causa de escuro, estresses ou algo do tipo. Mencionei o significado da doença... Trata-se do terrível e desesperador sentimento de estar sendo vigiado por um pato. E, de repente, vejo uma das cenas mais humilhantes da minha vida.

Ela riu de mim.

Eu nunca tolerei desaforos de ninguém. Sempre tive fama de sanguíneo e era respeitado por todos que estavam a minha volta. Minha mulher nunca reclamou de mim em nada. Eu era o exemplo de homem perfeito para ela em tudo...

Até ela descobrir meu maior medo.

Porém quando percebi que fui levado a motivo de riso, uma cólera enorme instaurou-se em meu coração e, desde então, aquela mistura efervescente de ódio, desamor e vergonha perpassaram a fazer parte da minha vida. Foram cinco meses de minha mulher amada fazendo piadinhas em momentos inadequados e, por mais que sua intenção fosse apenas meros gracejos zombeteiros de casal, aquilo me corroia por dentro. O abraço de minha mãe me fez falta aquele dia.

Numa noite qualquer, descubri que minha esposa comentou com uma amiga sobre meu medo, e embora eu nunca dissesse a ela o motivo real daquela agonia excruciante, decidi calar-me para com ela. Nosso diálogo foi morrendo por causa daquilo. E se tínhamos algo na cama, era apenas trivial e não mais algo vívido.

Minha esposa decidiu sair com as amigas para comemorar o aniversário de uma delas. Permiti-lhe porque sempre confiei nela, mas já não a via com os mesmos olhos. Antes de sair, ela me olhou de soslaio antes de fechar a porta e disse:

- Pare de temer besteiras e vira homem. Cadê o homenzarrão com que me casei?

Aquele foi o marco final para minha paciência. Esperei que ela saísse e em seguida caí em tristeza profunda e choro mortal.

Eu, que nunca chorei na frente de ninguém após a morte da minha mãe, derramei-me em soluços diante da incompreensão. E logo dela... Dalila... A Frágil, pois é isso que seu nome significa.

Vi-me em pedaços. Onde estava o homem forte que eu sempre fui? Por que não conseguia lidar com aquilo? E o que é pior? Por que ela, logo ela, debochou de meu trauma?

Uma corda, uma cadeira, um nó, uma caneta e papel.

Escrevi-lhe uma carta e em seguida atei meu pescoço à corda após subir no alto da cadeira e, com um último suspiro, minha mãe novamente me vem à mente e então chuto a cadeira para longe e a corda envolve-se em meu pescoço. Estrangulando-me.

Quando ela chegou, soltou um grito angustiante de pavor e o choque foi tão grande que acabou desmaiando.

Ao recobrar as forças, a polícia já havia a levado para o hospital, a pedido de vizinhos que ouviram seu clamor na noite silente. Quando um policial a visitou, disse que lamentava e que estava deveras horrorizado com o que leu na carta suicida que redigi para ela e para toda a humanidade.

Ela sentou-se na cama e começou a leitura da carta com letras tremidas e numa folha marcada pelos pingos aleatórios das lágrimas que rolaram do meu rosto...

Continua...

Leandro Severo da Silva e Mariel F. Santolia (edição e revisão)
Enviado por Leandro Severo da Silva em 25/02/2019
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