Asfixia
Despertei em um estalo e bati minha testa contra algo que eu era incapaz de enxergar, pois a escuridão era profunda demais. O calor do local era insuportável e eu fui capaz de perceber que estava deitado. Espantado, tateei ao meu redor e notei que eu estava em um espaço pequeno demais e que me incapacitava de mover-me à vontade. Era como se eu estivesse preso em uma caixa, mas o mais estranho era que minhas costas estavam mergulhadas em uma superfície almofadada e macia e minha nuca repousava em uma espécie de travesseiro. Foi quando o terror dominou minha alma. Eu havia sido enterrado vivo e estava preso em um caixão! O ar abafado estava me deixando zonzo, mas mesmo assim eu não conseguia parar de me debater e esmurrar o teto na tentativa de me livrar dali. Minhas últimas lembranças antes disso tudo era eu sentado no sofá da sala conversando com meus pais, quando de repente eu tive mais uma crise epilética e perdera minha consciência. Essas crises eram frequentes e eu fiz vários exames para descobrir o que acontecia com meu cérebro, mas nenhum diagnóstico fora constatado. Agora eu despertara ali, buscando ar parar respirar, pois a cada minuto que passava eu me sentia mais sufocado.
A dor excruciante de meus dedos quebrando-se enquanto eu esmurrava a tampa de madeira nem se comparava com o horror de não conseguir respirar. Em um ato desesperado, arranhei o teto com todas as minhas forças e senti o sangue que saíra da carne debaixo de minhas unhas dilaceradas respingar em meu rosto. Com meus pés eu tentava chutar tudo o que eu era capaz, mas o espaço limitava meus movimentos. Eu devo ter fraturado meu joelho de tanto chocá-lo contra a tampa do caixão enquanto me debatia e gritava, pois uma onda de dor percorria por toda minha perna devido às batidas. Mas eu sabia que quanto mais eu berrava, mais ar eu perdia, e minhas chances de sobreviver diminuíam.
Quase não havia mais ar algum, e eu sufocava enquanto inspirava o que restava de oxigênio com toda força que me restava. Eu senti uma pressão em minha garganta e minhas narinas ardiam. Meus olhos reviravam, meu corpo se contorcia de desespero e meu pulmão clamava por ar. Aos poucos eu fui sentindo minha consciência desaparecer em meio aos gritos de meus instintos de sobrevivência dentro de mim clamando para que eu não desistisse de tentar escapar dali. Mas por fim meu corpo cedeu à morte por asfixia e minha trajetória de vida acabara ali, dentro daquele caixão de madeira.
Dias depois de minha morte, meu caixão fora desenterrado para o desespero dos meus pais, que receberam de meu neurologista a notícia de que eu possuía catalepsia patológica, uma doença que faz com que a pessoa pareça morta quando na verdade ela está apenas inconsciente. A pessoa é declarada como morta, pois os sinais vitais praticamente desaparecem e o corpo enrijece como o de um cadáver e é quase impossível escutar as batidas do coração ou sentir sua respiração.
Meus pais não suportaram a imagem de ver a tampa do caixão toda manchada de sangue, arranhada e amassada pelos meus socos de desespero. Ambos caíram de joelhos em prantos. Minha mãe ainda desmaiou quando me viu de bruços dentro do caixão com os olhos esbugalhados e sem brilho demonstrando o horror que eu passara antes de morrer. Eles sempre carregarão a culpa por terem me enterrado vivo, mesmo sendo inocentes...
(Guilherme Henrique)