Brincando com a morte

Fatos estranhos e sinistros estavam acontecendo na vida de Pedro Henrique Lutss. Ele não era religioso, mas ouvia vozes e via vultos com uma frequência absurda. As pessoas diziam que ele estava doido. Que ficou assim após a morte do filho único que tanto amava. Suposições vãs. Na verdade, Pedro Henrique sempre teve um pé no mundo sobrenatural. Mas não dizia isto para ninguém,,, até seu filho, Roberto, morrer. A partir deste dia, não negou mais o que via, nem o que ouvia. As pessoas desconheciam este lado oculto do médico oftalmologista, tão dedicado e estimado por todos que o conheciam. Mas o que era ruim podia piorar. E piorou! As pessoas começaram a morrer perto de Pedro Henrique. Parecia que a morte estava brincando com ele. Uma brincadeira fatal que tinha hora certa para acabar. Numa noite invernal, caminhando na rua sem rumo, Pedro Henrique é subitamente parado por uma bela mulher. Ela diz que o conhece, mas ele nunca a viu na vida. Estimulado pela beleza da jovem de cabelo cor de palha e olhos esverdeados, Pedro fica atraído por ela. Eis como tudo aconteceu:

A rua principal de Porto Alegre estava deserta. Já passavam das 23 horas e encontrar uma beldade, na rua, a esta hora, era quase como encontrar uma agulha no palheiro.

― Desculpe pará-lo. Posso caminhar ao seu lado?

― Sim, claro. ― Respondeu o médico oftalmologista com um sorriso.

― Esta hora é um pouco perigosa para mulheres como eu…

― É verdade. Você corre o risco de ser assaltada ou vítima de um maníaco sexual…

A mulher sorriu timidamente.

― A propósito, qual é o seu nome? O meu é Pedro Henrique.

― Tenho vergonha do meu nome, Pedro Henrique. Mas você pode me chamar de Dayse.

― O que você está fazendo na rua a esta hora, Dayse?

― Eu vim me encontrar com uma pessoa…

― E já encontrou?

― Já. ― Riu a mulher mostrando seus dentes alvos que de tão brancos pareciam refletir o brilho da lua cheia, que pairava no céu.

― E você está voltando do encontro?

― Você é bem curioso, não é?

― Desculpe-me. É verdade. Nós nem nos conhecemos…

― Eu conheço você.

― Desculpe, Dayse. Mas nunca te vi antes…

― Já viu sim. Você é que não lembra…

― De onde eu a conheço?

― Eu sou a mulher dos seus sonhos…

― Você está brincando comigo?

― Não. Eu nunca brinco. E como levei seu filho, agora vou levar você!

No dia seguinte, o corpo do eminente médico, Pedro Henrique Lutss, é encontrado jogado na rua como um indigente. A causa do óbito foi um ataque cardíaco fulminante provocado pelo frio intenso ou por um imenso susto. Como dizia o grande dramaturgo inglês, William Shakespeare: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”…

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 25/02/2019
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