A Forca
A corda estava envolta de meu pescoço machucado. Todos olhavam para mim com a raiva estampada em suas pupilas sedentas por justiça sangrenta, e as vaias juntamente com as chuvas de pedras, frutas ou qualquer outro objeto que pudesse ser arremessado, tornaram-se o show daquela tarde quando acertavam meu rosto. E eu era o astro principal daquele magnífico espetáculo. O alçapão que mantinha meus pés no tablado de madeira estava fechado, mas logo cederia às roldanas impulsionadas pela alavanca puxada pelas mãos assassinas do carrasco... Sim...Eu disse “Mãos assassinas”.
Ele não era diferente de mim. Em suma, o resultado final de nossos atos era praticamente idêntico. Uma vida por outra vida. A única diferença, que eu não tenho a audácia de fingir que nunca houve, é a maneira do ato executado. Enquanto ele seguia as ordens do Estado, Eu fiz pelo sadismo e pelo prazer de querer sentir o calor do sangue da garota cair sobre minhas mãos quando a esquartejei com meu punhal e retirei todos os seus órgãos internos. Eu quis dissecá-la e ver se ela era tão linda por dentro quanto era por fora. Seus lindos olhos azuis tornaram-se cinzas quando eu os arranquei com uma precisão cirúrgica que até chegou a me surpreender. Sua voz angelical pedindo ajuda era mágica, por isso cuidadosamente retirei suas cordas vocais sem destruí-las (como fiz com outras partes de seu corpo mutilado) e as pendurei no porta-chaves da minha casa. Por fim, descobri que a beleza estética é mera bobagem, afinal por dentro somos todos pedaços de carne fúteis, mas mesmo assim eu queria mais daquilo. Digo isso, pois apesar de todo o meu empenho eu me decepcionei. O prazer da agonia da jovem fora curto demais para saciar-me, por isso empenhei-me em buscar outras vítimas para tentar sentir novamente aquela sensação única do prazer de um assassinato. Mas logo fui pego, julgado e condenado à forca antes mesmo de encontrar minha próxima cobaia.
E aqui me encontro, sobre o tablado dos condenados. Os olhos de raiva da plateia me entorpecem de prazer a ponto de fazer um sorriso brotar em meus lábios. Era esse prazer que eu buscava sentir esse tempo todo.
Mas novamente a sensação de prazer fora curta demais, pois a alavanca fora puxada pelo carrasco e o meu pescoço quebrou-se no momento em que o alçapão abriu-se e meu corpo sem vida balançou na corda para a satisfação daquela magnífica plateia que aplaudia e ovacionava minha morte.
Foi um belo show. Curto, mas belo...
(Guilherme Henrique)