Adultério em Eliziário
Eliziário era um pequeno vilarejo no interior de Minas Gerais. Vilarejo este pacato. Lugar onde todo mundo se conhecia, e onde quase não ocorriam escândalos. Mas que a palavra “quase” seja grifada, pois o caso que vou lhes contar é uma daquelas boas exceções.
Joana, de 25 anos, era casada com Rubens, de 50, que era gerente no abatedouro local, e já não dedicava tempo á esposa e seu filho de 12 anos. Após o trabalho, o homem se ocupava com jogos e bebedeira junto aos amigos.
A jovem, no auge de sua juventude, com os hormônios a flor da pele, começou a se encontrar com um padeiro, Régis, de 28 anos, também casado. Eles se encontravam na casa de um amigo do rapaz, que deixava com ele uma cópia da chave, informando-lhe os horários que estaria fora.
Os dois estavam vivendo uma verdadeira aventura romântica, com ar de amor proibido, o que aumentava ainda mais o desejo de estarem juntos. Régis prometia abandonar a esposa afim de viverem juntos. Joana dizia o mesmo, mas como os dois tinham filhos, essa esperança ficava só na imaginação do casal.
Um dia Régis ouviu um boato sobre o caso. Estavam dizendo em Eliziário que Joana vinha traindo o marido. O rosto do jovem padeiro queimou e seu coração bateu descompassado ao tomar conhecimento de que ele corria risco, pois Rubens tinha fama de ser violento e vingativo.
Ao encontrar a amante, o padeiro contou-lhe sobre seu medo, e disse que precisava colocar a culpa em outro homem para salvar sua pele, pois já temia que era questão de tempo para o marido da moça descobrir o que vinha ocorrendo. A moça conhecia bem o marido e sabia o que poderia ocorrer ao seu tão amado amante.
Então colocaram seu plano em atividade. O amigo de Régis disse a Rubens que suas suspeitas sobre sua esposa eram verdadeiras, e que o amante era um carpinteiro dali, Jorge, de 30 anos. Jorge era um rapaz solteiro, muito trabalhador. Não era muito visto fora do trabalho ou de casa, e que ajudava a cuidar da mãe que tinha problemas de saúde.
Rubens foi esperto, esperou Jorge passar em frente sua casa numa tarde quando a esposa e o filho estavam fora e o chamou:
- Ei, Jorge, tudo bem? Será que você poderia me ajudar? Preciso mudar um armário pesado de lugar aqui em casa, mas sozinho não consigo.
-Claro que te ajudo- respondeu Jorge, prestativo.
Ao entrarem na casa, Jorge perguntou:
-Onde está o armário?
- Não tem armário nenhum, seu ordinário destruidor de casamento!
Rubens arrancou uma faca da cintura e tirou a vida de Jorge ali mesmo, na sala de estar.
Quando a policia chegou, ele disse que Jorge invadiu sua casa e tentou violentá-lo, então agiu para se defender. No tribunal o juiz aceitou esse argumento, e Rubens saiu como inocente. Quanto a Joana, levou uma surra de Rubens e os dois se separaram. Ela e Régis combinaram de esperar a poeira baixar para o jovem separar da esposa e assumirem o namoro como se nunca tivessem sido amantes.
Dias após Jorge ser sepultado, um coveiro ao passar perto de seu túmulo, certificou-se de que tinha sido violado, e que dentro, o caixão estava aberto e vazio. Aquela notícia se espalhou rapidamente em Eliziário. Alguns céticos diziam que o corpo tinha sido levado por ladrões, outros diziam que o jovem havia voltado da morte para vingar-se do seu assassino.
Tanto Rubens quanto Régis e Joana ficaram amedrontados com a notícia, e não conseguiram mais dormir. Sem saber, os três compartilhavam do mesmo medo. Á noite não conseguiam pegar no sono. Durante o dia não tinham concentração para trabalhar. Até que começaram a ver Jorge andando em suas casas á noite e a ouvir sua voz dizendo:
-Voltei para buscá-los.
Após tanto sofrimento, Rubens foi á delegacia e disse que havia esfaqueado Jorge para se vingar do amante de sua esposa, e que queria ser preso para cumprir a pena. Régis não agüentou e acabou se internando numa clínica psiquiátrica após tantas visões. Joana que também compartilhou dessas visões, perdeu a guarda do filho e foi internada em uma clínica especializada em mulheres dementes.
Dias depois o corpo de Jorge foi encontrado num matagal em avançado estado de decomposição, e sem roupas, que certamente haviam sido levadas pelos homens que violaram seu túmulo.
FIM