FRAGILIDADE... parte 1
O que é medo? O que assusta de verdade? O que poderia, ou não, causar desconforto extremo em alguma pessoa? Cada dia que passa, a medicina avança, mas o ser humano ainda permanece um mistério. Nunca se deve duvidar da capacidade da ciência em pesquisar mais e mais, porém nunca se afirmará com clareza onde finda o abismo da alma humana.
Sinto que você está lendo essa história e, se é um leitor assíduo do gênero, suponho encontrar, no decorrer do meu relato, traços e influências de outros escritores.
O ser humano é passível de admiração, adaptação, inclinação, imitação para, somente após esse processo, ser criativo. Contudo, não acho, em tudo que já vi e li, algo semelhante nessa história um tanto... peculiar.
Ecov Ed Olaf, apelidado somente de Ed, descendente de orientais. Por isso o nome diferente.
Durante toda a minha vida, morei em cidades e sempre tive uma vida simultaneamente agitada e sedentária. O isolamento social e o convívio com as pessoas que me cercam são camadas que simbionticamente se mesclam nos meus minutos de existência.
Trabalho como atendente de telemarketing numa empresa de grande porte, mas com salário razoável. Bato metas, mas não faço amizades. Ganho prêmios, mas não acrescento nenhum contato a mais na agenda do meu celular. Se recebo mensagem, logo excluo se não me agrado com as conversas iniciais.
Faço academia e Cooper três vezes na semana. Alimento-me bem, corto o cabelo, faço a barba e tenho uma espécie de “tara” pela cor dos meus dentes, ainda conservados. Não sou magro, tão pouco gordo. Sou comum aos olhos dos padrões da sociedade. Moro sozinho numa casa próxima a um córrego. Não possuo carro e não tenho interesse em gastar com IPVA nem de me exibir com coisas supérfluas como um som estridente ou relacionamentos movidos a interesse.
Uma característica minha é ser centrado. Focado e perfeccionista com meus alvos. Se quero estudar engenharia, medicina, administração, moda... não me importa. Interessa-me, eu me aproprio de alguma forma.
Irrito-me fácil e odeio psicólogos. Não sei o motivo, mas consultórios psicológicos me causam mais desconforto do que qualquer odontológico por aí. Não gosto de falar de infância. Bola pra frente e vida que segue (o baile ou não).
Perdi minha mãe aos nove anos. Ela morreu afogada ao cair num lago profundo e como só estávamos eu e ela, não pude fazer nada.
Mudemos de assunto.
Já me envolvi em duas brigas na empresa onde trabalho, e agredi o supervisor da minha área certa vez. Não deveria ter feito isso, mas eu quis. Muito me irritava e não levo desaforo para casa. Todos sabem disso muito bem após a briga. Por incrível que pareça, não fui eu o mandado embora, mas o supervisor. Deve ser porque eu dava mais resultado que ele.
Não sou de namoros ou paixões frívolas; ou é relacionamento sério ou nada. Mas eu dava minhas escapadas, afinal, ninguém é de ferro.
Minha vida é tranquila e posso dizer que, a meu ver, é perfeita.
Exceto por algo. Meus pesadelos.
Talvez você não entenda, ache engraçado ou anormal, mas esse é o efeito de uma coisa chamada MEDO. O medo não escolhe motivos, apenas pessoas.
Deito-me para dormir após ler um bom livro ou navegar na internet. Até que começo a sonhar.
Vejo-me num local escuro e sem absolutamente nada em minha volta para que eu, tateando, me encontre e perceba onde me encontro. De repente, dois olhos enormes se abrem a minha frente. Olhos com um aspecto demoníaco e fantasmagórico, que me olham afastados um do outro como se cada um estivesse de um lado fixo em ambos os lados daquele ser irreconhecível envolta pelas sombras.
Duas circunferências com um forte amarelo na íris e uma pupila pequena negra no meio, como se eu estivesse olhando para um abismo, e ele para mim. Aqueles olhos cravam-me assombro sobremaneira.
Afasto-me devagar, mas trêmulo e com as pernas vacilantes. De repente, um som vindo como que diretamente do inferno ruge em alto e bom som. Tão aterrador me foi aquele barulho, que acordo num sobressalto da cama e suando frio:
- QUACK!
Continua...