A rua
O que vou relatar aqui agora é muito bizarro e sei que vai ser difícil de acreditar, uma vez que eu mesmo até hoje ás vezes me questiono se realmente aconteceu, uma vez que não tenho provas concretas, apenas o fato de estar gravado em minha mente.
Pois bem, aconteceu em uma época de horário de verão e como todos sabem seis horas da manhã nesse período ainda está bem escuro, quase madrugada.
E era nesse horário que eu saia para meu trabalho, ia a pé para aproveitar e fazer uma caminhada.
E havia dois caminhos por onde eu poderia ir, uma marginal que tinha mais movimento de pessoas, fazendo caminhadas ou indo para o trabalho também.
E havia uma outra rua que me levava para o centro da cidade antes de chegar ao trabalho, e esse o caminho que estava fazendo aquele dia, pois precisava passar no caixa eletrônico e pagar um boleto.
Por essa rua eu encontrava bem menos pessoas, quase ninguém, na verdade.
Em determinado ponto antes de chegar em uma curva, notei uma luz apagada, mas até aí tudo bem, isso é normal, concordam?
Ao passar pelo poste onde a lâmpada estava queimada, imediatamente a próxima também se apagou, tornando a rua bem mais escura, porém continuei a caminhar, mas com uma sensação estranha.
Estava agora bem na curva e percebi que até esse ponto não havia encontrado com nenhuma pessoa.
Após passar pelo trecho da curva e voltando para a parte iluminada levei um susto, algo havia acontecido, algo havia mudado.
A rua era a mesma, mas ao mesmo tempo não era.
Parecia mais antiga, menos iluminada, e havia muitas pessoas andando, pareciam estar indo para o trabalho, mas não eram normais, eram altas demais, acinzentadas e tive a sensação de que não havia carros ali.
Mas as casas estavam normais, um pouco sem cor, desbotadas.
E outra coisa que me chamou atenção é que as pessoas pareciam não me ver.
Eu não sabia se estava em um sonho ruim, ou se era real, mas continuava caminhando, mesmo com medo daquele lugar, que mesmo sendo conhecido agora me parecia tão diferente e assustador.
Até que uma moça me viu lá do outro lado da rua e veio ao meu encontro. Ela parecia assustada por me ver ali e me preguntou:
-O que faz aqui? Como veio parar aqui? Por que?
E olhava ao redor para ter certeza de que ninguém mais me via.
Eu disse que não sabia como e nem porque estava ali e que só sabia que as lâmpadas apagadas tinham algo a ver com aquilo tudo.
- Venha comigo, ela disse, e pegou minha mão.
Levei um susto pois sua mão era gelada e com dedos finos, esqueléticos.
-Vou te levar até uma lâmpada apagada e você volta para seu lugar.
Continuamos andando por alguns minutos quando saímos da rua em uma encruzilhada onde pude avistar uma lâmpada apagada.
Ela me disse aqui está bom, vá por essa rua, atravesse as duas lâmpadas apagadas e estará de volta.
E me olhou nos olhos no mesmo momento que soltou de minha mão.
Olhei para ela na esperança de que a conhecesse, mas nunca a tinha visto mesmo.
Mas ainda assim me era familiar.
Vá! Ela repetiu apontando para a rua, obedeci e entrei na rua escura, quando olhei para trás e ela já não estava mais lá, apenas eu em uma rua escura que nunca tinha visto.
Andei alguns metros até passar pela próxima lâmpada apagada em uma curva.
Mais alguns passos e sai da rua escura e reconheci o lugar onde estava.
Era a mesma rua onde eu estava antes do ocorrido, mas meu relógio marcava 27 minutos a mais do que a hora que passei pelo primeiro poste apagado pela primeira vez.
Não tive como passar no caixa eletrônico pois já estava atrasado e não saberia explicar na empresa o motivo de meu atraso.
Segui meu caminho deveras apressado e assustado, meu dia transcorreu normal como outro qualquer.
Isso aconteceu há muito tempo, nunca contei para ninguém, e só estou te contado agora porque não quero levar essa história comigo, estou bem velho e doente.
Mas se você vai acreditar ou não é outro assunto.
Eu acredito porque vivi a história, se me contassem talvez não acreditaria também.
Então não fique mal por não acreditar.