Sarcófago de Carne

Estávamos em quatro dentro daquele carro apertado, logo após termos finalizado os rituais na floresta. Nenhum de nós estava sóbrio o suficiente para dirigir sem colocar em risco nossas próprias vidas (E de alheias a nossa volta). Eu me lembro de alguns detalhes minimalistas que compunham a atmosfera sinistra que estava por vir, porém sou incapaz de recordar de detalhes importantes. Eu não sei meu nome, e nem os nomes dos envolvidos, mesmo sabendo que todos ali eram meus cúmplices do sacrifício. Apenas sei que o primeiro teve um ataque histérico de risos antes de descer do carro e desaparecer na névoa. O segundo chorou desesperadamente antes de descer e desaparecer como o primeiro. O terceiro não parecia se importar com a estranheza da situação, e seu silêncio fora tamanho que eu não notei quando ele desapareceu. Por fim eu estava só, e nem percebi que não havia ninguém guiando o carro. Foi quando meu corpo fora esmagado contra as ferragens devido ao acidente no acostamento repleto de árvores. Agora eu estou preso no silêncio e no escuro. Eu sei que eu não estou morto, pois às vezes eu ouço pessoas falando comigo, mas elas não dizem o meu nome. Não sei se isso é um castigo divino, afinal eu apunhalara o sacrifício. E também Não tenho noção dos anos que se passaram desde o fatídico dia do acidente, mas eu imploro todo o tempo para que desliguem as máquinas que me mantém vivo. Não ligo de ser enterrado como um indigente ou arder eternamente no inferno. Eu não suporto mais esse meu sarcófago carnal...

(Guilherme Henrique)

PássaroAzul
Enviado por PássaroAzul em 16/02/2019
Reeditado em 16/02/2019
Código do texto: T6576482
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