OS OLHOS AZUIS DA MORTE
A festa transcorria animada, um grupo de amigas conversava animadamente em uma mesa de um clube da cidade, entre elas Rúbia, a mais calma, que preferia mais apreciar os casais dançando e se envolvendo com a música do ambiente, bastante agradável. Uma ou outra era tirada para dançar por um rapaz desinibido, tomavam cerveja e coquetel controladamente. Rúbia visualizou um rapaz que alí se encontrava encostado a um pilar, parecia admirá-la, ela então percebeu, mas ficou quieta. Em dado momento o rapaz se aproximou, tinha um corpo atlético, era forte e bonito, o que despertou a sua atenção. Ele então a convidou para uma dança, ela mesmo sem jeito aceitou. Abraçou-o e iniciaram a dança ao som de uma música lenta, seu perfume parecia querer seduzí-la, sua voz era afável e seus olhos azuis a impressionaram, lhe fitavam como se quisessem tê-la com prazer e isso a inquietou, mas concluíram tranquilamente a dança, tendo ele, ao término, lhe agradecido, informando que precisava sair, pois já era quase meia noite e tinha um compromisso, avisando que seria interessante voltar a vê-la.
Rúbia ficou pensando naquele olhar, naqueles olhos azuis que a impressionaram, não parava de pensar neles, às vezes ficando distraída quando as amigas lhe falavam e ela não prestava atenção, dava a impressão de estar no "mundo da lua".
Enfim a festa terminou e as moças foram para casa, era pouco mais de uma hora da manhã, mas como já estavam acostumadas a irem a pé, não se preocuparam. Próximo da casa de Rúbia suas amigas se despediram e ela seguiu sozinha por uma rua ladeada por árvores extensas, em alguns trechos havia matagal, o silêncio alí reinava e a lua cheia clareava todo o caminho. Súbito, um barulho em meio ao mato chamou a atenção da moça que assustou-se como nunca, ao ouvir uma espécie de uivo ela arrepiou-se e sentiu medo. Estava só no momento, não tinha nem a quem pedir ajuda caso precisasse. Novamente o uivo a aterrorizou, o que a fez correr, sem ideia do que seria. Correndo ela tropeçou e caiu próximo ao mato, de cujas folhagens surgiu uma figura aterrorizante, metade homem, metade lobo. Ela foi dominada por dois braços fortes e peludos, da cintura para baixo deduziu tratar-se de um animal com uma extensa cauda, pôde ouvir em seu peito peludo as batidas aceleradas de seu coração, mas ao levantar a cabeça para encarar a fera viu dois olhos azuis que a fitavam, estava totalmente dominada por aquele ser estranho e sem a mínima condição de gritar, pois faltaram-lhe forças para tal. Aquele par de olhos azuis ela reconheceu, estava alí diante deles, eram os mesmos olhos que ela conhecera quando dançava na festa com um estranho e que lhe deixaram sob o seu domínio, Rúbia jamais esqueceria aquele olhar provocante que a deixou extasiada. Seu pensamento se concentrou naquele rapaz bonito, robusto e boa pinta, inclusive ele pretendia voltar a vê-la, mas não dessa forma, imaginou. Seu medo juntou-se a essa imagem da festa, esperou até que isso fosse um sonho, afinal estava cansada e talvez tenha adormecido em algum lugar. Mas certificou-se depois que não se tratava de um sonho, era real, ela estava alí diante de uma fera, um lobo a ponto de devorá- la, de sugar todo o seu sangue. As mãos daquela figura espantosa acariciou o seu rosto, os dedos possuiam unhas enormes que logo apalparam seu pescoço, momento em que sentiu que a morte era iminente, ainda sem conseguir gritar apenas olhou atentamente aquela cara que começou a se transformar, os pelos sumiram e pôde então vislumbrar aquele rosto lá da festa, aquele olhar que a impressionou com aqueles dois lindos olhos azuis. Rúbia resistiu, implorou que fosse um sonho, chorou, até escutar um tiro que ecoou no meio da noite e logo em seguida outro. Daquela boca carnuda ela viu escorrer sangue vermelho escuro e os olhos se fecharam, não mais ela viu o azul deles. Aquele corpo enorme se desprendeu dela, soltou-a lentamente e caiu na sua frente. O clarão da lua cheia o iluminou e ela viu aquele homem com quem dançou na festa, totalmente inerte, alí estendido, momento em que se aproximou um caçador com arma em punho perguntando se ela estava bem.