— A Maldição I —
I
A morte é tão estranha, quando eu vi meu filho pendurado naquela corda, com os olhos vermelhos e inchados, e a boca aberta, tive medo, realmente senti um calafrio tão forte e pulsando no meu peito que quis gritar, mas não consegui, é estranho pensar que num momento como esse você se imagina entrando em choque, mas não aconteceu, eu fiquei parado perto da porta, segurando a chave do carro com a mão direita, nos primeiros cinco segundos acredito que não tenha sentido nada, apenas o observei atentamente, foi só depois, quando o vizinho ligou a luz da varanda que entendi o que estava acontecendo.
Meu filho estava morto.
Disseram que foi suicídio. Não tenho certeza se consegui acreditar até o momento que segurei o laudo da morte em minhas mãos. Tentei folheá-lo e acabei chorando. Alex tomou todos os meus calmantes antes de subir na cadeira.
Na quarta-feira daquela semana eu o enterrei no cemitério próximo de casa. Ainda tento entender o porquê. Afinal é dever de um pai conhecer seu filho. Durante o velório, pensei comigo mesmo que não haveria motivo para chorar. Ele estava morto, nada mudaria o fato dele estar morto. Antes de lacrarem o caixão, me aproximei de seu leito, flores brancas cobriam as laterais, Sarah fez questão de deixa-lo segurando um par de rosas. Inclinei-me devagar e ofegante, e lhe dei um beijo na testa. Acho que um milhão de coisas passaram pela minha mente naquele momento. No entanto, a única coisa que não consegui tirar da cabeça era o choro delas, da minha filha e da minha esposa.
Ajudei a carregar o caixão. Saímos da capela, seguindo a rua até um pequeno morro. A cova dele já estava aberta. Dois coveiros faziam guarda ali perto, ambos com as pás em mãos. Eu olhei lá dentro, antes que colocassem o caixão, o buraco parecia afundar dentro dos meus olhos, criando um efeito de perspectiva infinito. Eles o colocaram lá dentro e nunca mais vi meu filho.