O CASTELO DA CONDESA
A noite já ia alta quando o pequeno barco atracou no rio Guadalquirir. Vestida toda de preto, uma mulher subiu e rapidamente o barqueiro se afastou sem nada falar. Depois de quase uma hora navegando, o barco alcançou uma pequena ilha particular. Ali ficava o castelo de Catarina Grimaldi. Ela ganhou este castelo quando deu o primeiro neto homem ao Duque Grimaldi. Seu marido, único herdeiro do Duque, estava navegando a mias de seis meses e ainda não tinha data prevista para retorno.
Desembarcou assim que o barco parou. Com ajuda do barqueiro saltou para terra firme.
- Me pegue aqui no horário de sempre. Não tolerarei atrasos.
Uma senhora de seus cinquenta anos já aguardava na porta com um lampião na mão.
- Entre senhora, seus convidados já chegaram.
- Serviu os drinques?
- Sim senhora.
- Daqui vinte minutos mande eles subirem.
Alberto, Robson, e Elias, estavam sentados confortavelmente em poltronas de veludo bebericando seus drinques e conversando sobre quem seria aquela dama misteriosa que mandou aquele convite diretamente para a universidade onde eles cursavam o ultimo ano de direito. O convite era claro: Eles deveriam estar pontualmente na hora e local descritos ali.
Depois de se perguntarem se aquilo era uma piada, eles resolveram aceitar, mesmo com receio, pois há dias vinham desaparecendo jovens estudantes. Mas a curiosidade falou mais alto. Afinal estariam em três.
Depois de serem transportados por um barqueiro que durante todo o trajeto não deu uma única palavra, desembarcaram e foram conduzidos por um mordomo tão calado quando o barqueiro para aquele castelo e depois instalados naquela sala, lhe foram servidos uma bebida de gosto amargo com a promessa que em breve seriam apresentados a anfitriã.
Agora, duas horas depois uma senhora entrou na sala e anunciou.
- Por favor, me acompanhem. Vocês estão sendo esperados.
Seguiram por uma grade escadaria e depois de passar por um sombrio corredor, finalmente pararam em frente a uma porta e foram convidados a entrar:
- Entre...
De inicio eles pensaram que estavam tendo uma visão. Apesar da bebida ter deixado ambos um pouco tonto, não restava duvidas, aquela mulher espetacular, vestida apenas em um espartilho vermelho recostada na cabeceira da grande cama de casal, era nada mais, nada menos que Catarina Grimaldi, a nora do Duque de Sevilha! A mulher mais cobiçada da cidade, ou porque não dizer... Da Espanha!
- Entrem meninos, o que foi? Perderam a coragem? A cama é grande o suficiente para nos quatro. Venham!
O convite não precisou ser repetido. Como que impelido por uma coragem sobrenatural, ambos se jogaram na cama e sem esperaram por mais nenhum convite, cada um fez a sua parte da melhor forma possível...
Catarina era insaciável as cenas que se seguiram foram de pura depravação.
Exaustos os quatro quase desmaiaram quando se deram por satisfeitos. Suando as bicas os três jovens adormeceram quase que em seguida. Catarina levantou-se e depois de um banho reconfortante em sua tina que já tinha sido devidamente cheia com seus sais prediletos, vestiu suas roupas e desceu.
Encontrou o mordomo com um lampião na mão que a acompanhou até o barco.
-Por aqui senhora _ Falou a criada assim que a viu aparecer na passagem secreta na ala sul do castelo.
Quase correndo atravessou os sombrios corredores que naquela hora ainda era iluminados por lampiões.
Enquanto se dirigia ao seus aposentos não via que era observada.
Depois de trocar a pesada roupa que vestia por uma camisola branca rendada que lhe cobria até os pés, se jogou na cama exausta.
- Senhora - Arriscou a criada, mesmo correndo o risco de ser castigada pela ousadia - sei que nada tem haver com isso, mas ontem no mercado ouvi comentários sobre alguns jovens estudantes que foram encontrado boiando no rio.
Fingindo não ter sido abalada pela noticia resmungou
- E o que eu tenho com isso?
- Nada senhora, é que os corpos foram encontrados boiando bem atrás do vosso castelo.
- Saia do meu quarto sua ordinária! Saia antes que eu mande meu sogro lhe acorrentar em grilhões na masmorra mais fedida desse castelo! - Gritou enquanto jogava o vaso de agua que tinha em sua mesa de cabeceira.
Parado a frente do Duque, estava o chefe de policia, que timidamente procurava as palavras certas para abordar o assunto que o levou até ali.
- Perdão pela ousadia Duque, mais como chefe de policia estou investigando um caso que vem aterrorizando o campo universitário de Sevilha.
- Fale homem! Você sabe que sempre foi muito bem vindo ao meu castelo, o que tanto o atormenta?
--Há alguns meses jovens universitários começaram a desaparecer misteriosamente! Alguns foram encontrados boiando nas aguas do rio Guadalquirir, outros nuca foram encontrados.
- Continue - pediu o Duque, quando sentiu que o chefe de policia estava tendo dificuldade em prosseguir.
- Pois bem. A dois dias, recebi uma denuncia do reitor da universidade de que três de seus alunos teriam desaparecido, tão misteriosamente quanto os outros.
- Onde diabos que chegar homem? Vai direto ao assunto! - Gritou o Duque já perdendo a paciência.
- O problema é que todos os corpos encontrados até agora, estavam flutuando ao redor do castelo de vossa alteza que fica do outro lado do rio. Isso passou despercebido até hoje alteza. Até que um dos jovens que foi encontrado trazia sinais de luta corporal e fechado em sua mão um pedaço de tecido que é usado para confeccionar uniformes dos serviçais gravado com o brasão de sua família.
Tentando folgar o colarinho de sua camisa o Duque falou:
- Agradeço sua informação e não preciso pedir sua discrição sobre o assunto certo?
- Claro alteza, tinha certeza que podia contar com vossa ajuda.
Apesar da idade avançada, o Duque Grimaldi conseguia governar seu castelo com mãos de ferro. Seu neto estava agora com oito anos e estudando em Madri, seu filho não tinha ainda data para retorno, no momento sua única preocupação era a vadia de sua nora. Há dias vinha desconfiando que ela traia seu filho.
Catarina estava se deliciando em seu banho matinal, quando sua criada entrou apressada no quarto e disse,
- Perdão senhora, mas o mordomo do vosso castelo particular veio pelos fundos da ala sul e pede sua presença urgente.
- Você ficou louca? Que diabos o Germano faria desse lado do rio? Que assunto tão urgente o traia aqui?
- Não sei senhora, eu o acomodei em uma sala desativada que outrora foi quarto de criado e o deixei esperando.
Catarina não podia imaginar o que levaria Germano até o castelo do sogro, mas de certo ele tinha que ter bons motivos.
- Fale Germano! O que diabos faz aqui? - Pediu Catarina depois de ver o idoso homem sentado em um banco de madeira.
- Senhora aconteceu uma catástrofe.
- Fale de uma vez!
- Na ultima noite que a senhora visitou o castelo, depois de sua saída, como das outras vezes,eu fui até o vosso quarto e transportei os jovens para a torre do castelo, um a um joguei rio abaixo, mas infelizmente parece que a dose de tranquilizante de um deles não foi suficiente. Enquanto estava jogando esse ultimo do alto da torre, ele reagiu e travamos luta corporal! Claro que levei vantagem, mais o infeliz levou junto com ele um bolso de meu uniforme. Ontem estava no mercado e ouvir murmúrios de que a policia encontrou. o corpo com um tecido fechado na mão.
Germano não esperava o tapa que lhe foi deferido no rosto, com o impacto, sua cabeça virou para o lado.
- Seu maldito incompetente! - Gritou Catarina em ira.
No castelo dos Grimaldi, o Duque falava com seu criado de confiança.
- Você tem certeza que na ultima noite que a vadia foi ao castelo estava sozinha?
- Claro alteza, certeza absoluta.
- Certo, não tenho motivos para acreditar que mente pra mim. Chame aqui o barqueiro.
O homem estava em frangalhos. Preso com correntes pelos braços, seus pés quase não alcançava o chão. As costelas eram visíveis, seu rosto estava ensanguentado. Na masmorra só ele e o carrasco que só parava de bater para perguntar.
Já estar preparado para responder as perguntas de vossa alteza?
Quase sem força para falar ele grunhiu.
- Sim, respondo o que ele quiser ouvir.
Como em um passe de mágica o Duque surgiu por trás do pobre barqueiro.
- Fale miserável! Quantas viagens você dá por noite quando aquela vadia o contrata?
- Duas majestade, na primeira eu levo alguns rapazes e na segunda eu a levo até o castelo, fazendo o retorno só quase ao amanhecer com ela. Os rapazes eu nunca retornei para transporta-los de volta.
- Desde de quando ela o contrata para essas viagens?
- Sempre que sua majestade, o Duque Luiz Alves, sai em viagem.
Fazendo um sinal com a mão no pescoço o Duque selou o destino do barqueiro.
Durante o jantar, o Duque Grimaldi nada demonstrou de anormal. Na imensa mesa, só ele e a nora jantavam em silencio. Catarina estava em pânico, não sabia até onde os boatos chegaram, temia por sua vida caso alguma coisa fosse descoberta:
- Tudo culpa daquele maldito Germano! - pensou.
Depois de tomar um aperitivo em sua biblioteca, acompanhado de seu mais fiel criado, mais uma vez se dirigiu a ala norte do castelo, onde um grande corredor levava as masmorras.
Catarina caminhava de um lado ao outro do quarto. Sua criada não tinha aparecido para ajuda-la com sua higiene noturna. Já se preparava para sai a sua procura quando a porta do quarto foi aberta e uma outra criada entrou.
-Com licença senhora. Fui designada pra servi-la essa noite.
- E a Maria?
- Não sei informar senhora, só mandaram que eu viesse servi-la.
Sua preocupação só aumentou.
Atados a grilhões de ferros que ficavam na parede úmida e mofada, encontrava-se Maria, a criada particular de Catarina, Germano o velho mordomo do castelo e Nezilda, a governanta que trabalhava também no castelo de Catarina. Nelzilda e Germano foram pegos de surpresa no castelo no inicio da tarde. O chefe de policia os abordou enquanto faziam a sesta, e sem explicações foram conduzidos ao barco da policia e transportado diretamente a masmorra, onde foram desprovidos de suas roupas.
Germano encontrava-se só de ceroula e sem camisa, Nezilda portava somente uma anágua e um corpete de tecido grosseiro. Maria por ser jovem, tinha sido mais humilhada, atada junto aos outros, estava completamente nua.
-Então eram vocês que partilhavam com a devassa da Duquesa Catarina para atrair e assassinar os jovens universitários? - Perguntou o chefe de policia, que encontrava-se sentado em uma cadeira frete ao trio que de tanto medo tinham as pernas molhadas de urina.
- Respondam seus ordinários!
- Perdão senhor, eu só fazia o que era ordenada! - Tentou Maria em lágrimas, com a face arroxeada dos tapas que já tinha levado juntamente com Nezilda, e Germano do chefe de policia, enquanto em um compartimento a parte o Duque e seu fiel criado ouviam todo o interrogatório sem se deixarem ser vistos
Os depoimentos e castigos duraram quase a noite inteira. Já amanhecia quando por fim o policial se deu por satisfeito e com uma faca e um alicate, aproximou-se primeiro de Maria e ordenou.
- Bote a língua pra fora, vadia!
Mesmo com as forças no limite, ela ainda tentou resistir, um dos guardas a forçou a abrir a boca, enquanto com a alicate o chefe de policia puxava sua língua pra fora com o alicate. Com uma única facada corto-a. Maria desmaiou sem um único gemido e ficou pendurada pelos braços, enquanto o homem caminhava até Nezilda que nem tinha mais reação. O medo e os castigos sofrido durante a noite a tinha paralisado de terror. Com a mesma agilidade e frieza que fez com Maria, com o alicate puxou a língua da velha senhora e cortou em um único corte. Talvez pela idade, Nezilda sofreu um infarto antes mesmo de ter sua língua cortada.
- Vocês devem saber o que fazer com essa velha inútil. - Disse o chefe de policia se dirigindo aos guardas do castelo. Quanto a criada, levem-na até a zona de baixo meretrício e a deixe por lá. - em tom de deboche continuou - com certeza ela não vai dar com a língua nos dentes....
A praça da cidade estava repleta de gente. O povo de Sevilha queria o culpado pelas mortes dos jovens universitários. A noticia de que a policia finalmente tinha desvendado o mistério fez com que a multidão se aglomerasse em frente a forca que já estava esperando o condenado.
Ao longe foi avistado o condenado acompanhado pela cavalaria da policia local.
Montado em um cavalo, vestindo apenas um camisolão brando coberto de sangue, Germano tinha a língua e os testicular cortados. Quando se aproximou da multidão precisou que a policia interviesse para que ele não fosse linchado antes de chegar a forca, onde seria seu destino final.
Catarina andava de um lado para o outro do quarto, a nova criada se negava a responder suas perguntas. Mesmo sobre ameaças a menina moça se mantinha calada sem levar nem trazer nenhuma informação para sua senhora. Ela sabia que estava em perigo, já fazia dois dias que tinha sido trancada em seu quarto. A criada entrava só para trazer sua alimentação e nem para ajuda-la com o banho ela ficava. Mais uma noite chegava, mais uma noite que de certo ela passaria em claro. Não vinha conseguido dormir, desde que Maria desapareceu.
Estava sentada em sua cama quando a porta abriu e o criado particular do Duque entrou sem bater. Ia reclamar da falta de educação quando o ouviu dizer.
- Me acompanhe Duquesa, vosso sogro deseja vê-la.
Mesmo com medo, era melhor que a tortura acabasse. De cabeça erguida passou pelo criado se encaminhado para a biblioteca. Era ali que sempre tratou com o sogro. Mas para sua surpresa, o criado pediu
- Senhora, o Duque, estar em vosso castelo na ilha dos pássaros.
- Como? O que o meu sogro faz em meu castelo?
- Nada sei Duquesa, só tenho ordens de acompanha-la.
A viagem foi povoada e mistérios e medos. Antes mesmo de adentrar em seu castelo sabia que tinha alguma coisa errada. Germano não estava para recebe-la, nem Nezilda veio ajuda-la a subir até seu quarto como sempre fazia.
Seu sangue gelou quando viu sentado em sua sala de inverno, seu sogro e o chefe de policia.
Antes que abrisse a boca para protestar, o guarda que estava de pé ao lado dos dois homens que tomavam uma bebida, a imobilizou pelos braços e sem explicação de nenhuma das partes, foi posta nos ombros e esperneando, xingando e dando fortes tapas nas costas do homem, foi levada até um quarto na ala mais sombria do castelo.
Lá foi posta no chão e com um tapa do policial, caiu. Antes de se levantar, foi mais uma vez agredida e puxada até uma parede onde já tinha um grilhão. Foi acorrentada, seus gritos parecia que acordaria toda Sevilha, mas o guarda não se intimidou. Deu dois tapas violentos em seu rosto, para em seguida rasgar suas roupas e ali mesmo a violentou.
- Então? Minha nora querida se divertiu com o guarda? Ou você prefere homens mais jovens? - O sogro perguntou entrando no quarto quarto depois de ser avisado pelo guarda que já tinha terminado
- Por Deus meu sogro, o que o senhor estar falando?- Gritou com as poucas forças que ainda tinha.
- Não seja cínica sua vadia! Seu mordomo confessou tudo antes de ser enforcado em praça publica! Sua governanta deve estar fazendo companhia a ele no inferno e sua criada deve estar gesticulando para implorar um copo com agua já que teve a língua arrancada para evitar falar besteira, também confessou suas idas e vindas enquanto meu filho viajava para defender nosso pais. Quanto a você , pensei nesses últimos dias e cheguei a conclusão de que não merece uma morte rápida. Aqueles jovens tinham sonhos que você destruiu pra saciar seus desejos carnais! Não minha querida nora, e nem tão pouco meu filho merece sofrer por uma vadia como você! Você não deve se lembrar desse quarto não e mesmo? Claro que não. Ele foi construido nesses últimos três dias especialmente para recebe-la. Você deve ter percebido que ele não tem janelas certo? Claro que não tem janelas, afinal túmulo não tem janelas. É nisso que esse quarto se transformara assim que eu sair daqui! Em um grande túmulo!
Catarina ouviu tudo catatônica. Nem em seus piores pesadelos poderia imaginar um final tão medonho.
- Há sim, - continuou quando já se retirava com o chefe de policia ao seu lado - só para lhe informar, direi a seu marido e filho que você morreu afogada enquanto se banhava nas aguas do rio Guafaquiri
Quando atravessou a estreita porta um homem com a massa já pronta se prepara para selar para sempre o túmulo de CATARINA GRIMALDI, a duquesa de Sevilha.
Ao longe já no final da escadaria o Duque ainda conseguia ouvir os gritos de sua nora.
- Que apodreça em vida - O Duque resmungou.
Depois de lacrar a porta o pedreiro gravou ainda no reboco molhado
AQUI MORREU UM CRIADO COM A PESTE