O Ritual

Todos estavam reunidos em um círculo naquele galpão abandonado. O livro escrito em uma língua desconhecida estava aberto no chão sobre um complexo de hexagramas que não fazia sentindo algum para mim. Tentei relaxar e abrir minha mente cética perante aquele ritual de invocação demoníaca.

Mesmo sob os efeitos alucinógenos das drogas que me foram dadas eu ainda permanecia desacreditando de que aquilo tudo fizesse parte da realidade. E no pequeno intervalo de tempo no qual eu tentei fazer uma análise dos objetos ritualísticos que estavam dispostos ao meu redor eu fui capaz de enxergá-lo.Vestindo uma túnica negra e falando comigo através de uma língua desconhecida, eu me apaixonei por ele. Passei a adorá-lo naquele momento e meus olhos se encheram de lágrimas de satisfação por ele estar tomando posse de meu corpo material.

Meu ceticismo fora levado embora quando eu notei que um dos participantes rasgava meu estômago com uma adaga afiada em um corte extremamente preciso e profundo. Foi quando percebi que eu já estava no centro do círculo. Enquanto o sangue escorria e preenchia os hexagramas no chão manchando o livro, eu continuava sorrindo e sentindo minha alma aos poucos deixar o meu corpo. E eu estava feliz por ser um glorioso receptáculo ao soberano.

Sob saudações e votos de confiança eu adentrei nos reinos infernais abdicando de minha forma carnal. O arrependimento surgiu quando meus olhos queimaram e minha garganta fora apertada por mãos que surgiam das paredes negras. Eu fui enganado pelo diabo e vendi minha alma em troca do eterno sofrimento dos pecadores...Eu fui o sacrifício do ritual.

(Guilherme Henrique)