A EPOPEIA DOS MORTOS
A EPOPEIA DOS MORTOS
by: Johnathan King
Europa - Primeira Guerra Mundial
Aos primeiros sinais do crepúsculo, quando o sol tingiu o céu de um amarelo pálido, os corpos daqueles que tombaram em batalha começaram a se revolver dentro de suas covas rasas, em espasmos violentos.
Mãos tingidas de marrom e apodrecidas subiam das entranhas da Terra, e trazia de volta dos mortos corpos mutilados pela guerra. Totalmente alheios ao acontecimentos finais que os tiraram desse mundo de maneira abrupta e violenta, os ressuscitados ficaram de pé e começaram à marchar rumo ao centro do conflito.
Com os seus corpos manchados pela morte, e muitos com membros amputados, se arrastando pelo chão com apenas metade do corpo, os mortos vagavam como se ainda tivessem coincidência de suas vidas passadas. Eles não se davam conta da sua nova condição.
O céu noturno era iluminado por balas de canhões, que ofuscavam o brilho das estrelas. Os disparos das metralhadoras trabalhavam incansavelmente e indiscriminadamente, ceifando uma vida depois da outra.
O brilho das balas voando alto no céu, cortando o ar numa velocidade espantosa, lembrava uma chuva de vaga-lumes.
Os soldados de ambas as partes só se deram conta de que uma outra guerra estava para ter início, quando já era tarde demais. Os antigos companheiros não reconheciam mais os seus velhos aliados de farda, e só se preocupavam unicamente em tomar suas vidas.
A neve branca do inverno começou então a ser tingida de vermelho com o sangue daqueles que eram mortos de maneira indiscriminada e brutal. As balas de canhões e os tiros de metralhadoras eram agora substituídos por dentes canibais, que dilaceravam carne e osso.
A noite de guerra se tornou uma noite de terror inimaginável, e os gritos das vítimas ecoavam no ar como uma música macabra, um canto infernal levado pela brisa gelada para muito distante.
FIM