Acidentes!

Em uma pacata cidade no interior do Estado do RJ, um grupo de cinco meninas combinou de irem à praia juntas. Samanta, Cristina, Marluce, Sheila e Elisângela eram amigas inseparáveis desde quando cursaram juntas, todo o ensino médio. E aquele seria o momento perfeito para comemorar o fato de que todas conseguiram se formar.

Samanta era a baixinha do grupo. Com seus 1,55m de altura, a loirinha de olhos verdes e cabelos ondulados fazia os meninos sonharem acordados. Ao perceber que seu belo corpo de menina de 16 anos chamava atenção, ela só usava calças “legging” e blusas bem decotadas.

Cristina era a roqueira do grupo. Usava várias tatuagens pelo corpo e ostentava um estilo todo “rock”. Com 1,80m de altura, a menina de 15 anos de idade, pele clara, cabelos lisos e negros, olhos negros e um jeito de olhar desafiador, ela usava sempre maquiagem pesada e correntinhas pelo corpo, ostentando sempre uma imagem gótica. Gostava de usar calças jeans coladas no corpo combinadas com camisetas de malha preta, geralmente com a estampa de uma banda de heavy metal qualquer.

Marluce era a adulta do grupo. Com seus 19 anos de idade, tinha 1,70m de altura, pele parda, olhos castanhos, cabelos negros e ondulados, gostava de se vestir de forma casual, geralmente com o seu costumeiro shortinho combinado com uma camiseta de malha qualquer. Tinha um jeitinho meigo de menina-mulher que encantava a todas as pessoas que a conheciam.

Sheila era a comportada e religiosa o grupo. Com 17 anos de idade e 1,65m de altura, tinha olhos verdes bem clarinhos que faziam um forte contraste com seus cabelos negros e lisos. Usava sempre saias bem comportadas combinadas com uma blusa feminina qualquer. Não gostava muito de maquiagens, pois era tão naturalmente bela que uma maquiagem qualquer a fazia parecer bem mais velha e ela não gostava nem um pouco deste efeito. Rezava sempre um Pai Nosso e uma Ave Maria pedindo proteção a Deus antes de sair de casa. Rezava de novo agradecendo a Deus ao chegar em casa.

Elisângela era a esotérica do grupo. Com 16 anos de idade, a ruiva de cabelos encaracolados, sardas pelo rosto e olhos castanhos, gostava de se vestir sempre com uma saia do estilo ‘cigana’ combinada sempre com uma blusa do mesmo estilo. Gostava muito de usar brincos grandes com pedrinhas coloridas. Colecionava cristais e usava sempre incensos em casa pra espantar os maus espíritos.

Era verão, e as praias da cidade vizinha, o famoso Rio de Janeiro, estavam lotadas. Marluce, a única maior de idade do grupo, conseguiu emprestado o carro do pai, um carro tão grande que cabia a bagagem de todas elas e ainda sobrava espaço, para a viagem das amigas. No horário marcado, ela pegou o carro, já com toda a sua bagagem dentro e foi buscar as amigas de casa em casa. Quando passou na casa da última amiga, Elisângela, esta se recusou a ir:

- Estou com um péssimo pressentimento, minha amigas. É melhor a gente cancelar esta viagem. Estou sentindo que alguma coisa muito ruim vai acontecer hoje se essa viagem acontecer.

Sheila disse:

- Eu também senti um clima meio pesado. Vamos fazer o seguinte: Vamos todas rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria pedindo proteção à Deus e Deus vai nos proteger.

Assim, as amigas o fizeram. Mesmo assim, Elisângela estava incomodada, pois o mal-estar avisando que alguma coisa ruim estava pra acontecer não passava de jeito nenhum. A esotérica disse:

- Eu ainda assim estou tendo um péssimo pressentimento!

Marluce respondeu:

- Deixa de frescura, menina! Vamo simbora! Vamo aproveitar a vida, vamo!

Sheila sentia a mesma coisa, porém, sua fé em Deus a fazia acreditar que o seu medo era em vão. Elisângela entrou contrariada no carro, torcendo para que a sua amiga tivesse razão, ou seja, que aquele mau-presságio fosse um simples fruto da sua imaginação, ou na linguagem da amiga, “uma frescura”.

No meio da rodovia, começou uma chuva que rapidamente foi se transformando em uma forte tempestade. Elisângela começou a chorar e disse apavorada:

- Ai, meu Deus! Eu sabia!

Marluce tentou acalmar a amiga:

- Calma! É só uma chuva! Daqui a pouco passa!

Sheila abraçou Elisângela e disse no ouvido dela:

- Deus vai nos proteger. Fica tranqüila.

Trêmula de medo, a esotérica disse:

- Eu estou sentindo que tem alguma energia do mal nessa rodovia!

Ao ouvir isso, as amigas dela disseram sequencialmente:

- Iiiih!

- Sai pra lá!

- Pára com isso!

- Sai azar!

- Xôôôô!

No meio das últimas curvas, que antecediam uma parte conhecida como “o retão antes do pedágio”, um raio caiu bem perto do carro! O estrondo aterrorizou as meninas, que gritaram em coro:

- IIIIIIIIIIIIIIIHH!

Marluce, embora também tivesse levado um baita susto com o raio, tentou acalmar as amigas:

- Calma gente! É só um raio! Mais nada!

A chuva aumentou, fazendo com que a visão do pára-brisa dianteiro começasse a ficar turva. Passado o retão, depois de pagar o pedágio, Marluce começou a dirigir com mais cuidado, pois a visão pelo pára-brisa dianteiro estava tão turva por conta da forte chuva, que dificultava muito a direção. Cristina pegou nas mãos de Samanta e começou a segurar firme, olhando com olhos arregalados para a rodovia. Sheila e Elisângela se abraçaram fortemente e começaram a chorar. Marluce apertava os olhos pra ver a rodovia, com a imagem no pára-brisa cada vez mais turva por conta da chuva cada vez mais forte. De repente, um caminhão, que estava ultrapassando outro caminhão, veio de frente com o carro do pai de Marluce. Naquele ponto da rodovia, não havia acostamento, pois estavam passando por sobre uma ponte. Sem alternativa, Marluce jogou a direção do carro para a direita, destruindo parte da proteção da ponte para não bater de frente com o caminhão, fazendo o carro cair no rio.

Em um certo hospital público no Rio de Janeiro, Marluce acorda ainda atordoada com o acidente, ligada a um soro e a algumas máquinas, percebe que a sua perna direita estava destroçada e que sua mão direita havia sido amputada. No outro quarto, Cristina estava entubada de aparelhos, com o pulmão direito destruído e o braço direito amputado. No terceiro quarto, Sheila estava gravemente ferida e em coma induzido. Samanta foi a que menos se feriu, mas ainda assim, ficou paraplégica e por conta de uma pancada muito forte na cabeça, perdeu parte do raciocínio. Elisângela morreu no acidente.

Marluce viu a faxineira entrar pra limpar o quarto. Arás da faxineira, a imagem de Elisângela em pé na porta a olhando com cara de raiva. Sem saber que a amiga morreu, Marluce disse:

- Elisângela! Como você está, criatura?

A faxineira respondeu:

- Eu sou a Berenice. Você ta me confundindo com outra pessoa.

Marluce olhou de novo para a porta e não viu mais a amiga. Então ela disse à faxineira:

- Eu estava falando com a minha amiga que estava ali na porta. Ela só chegou da porta e foi embora.

A faxineira sabia que aquele não era horário de visitas e que uma das meninas morreu no acidente. Ela pensou: “Coitada. Ta delirando vendo a amiga morta”. De repente a faxineira ligou o aspirador de pó. Passando o aparelho rapidamente pelo quarto, sem querer a faxineira esbarrou na tomada de alguns aparelhos, que estavam provisoriamente ligados em uma tomada só através de um adaptador. A respiração de Marluce ficou ofegante, os olhos arregalaram quando a faxineira saiu e então ela viu Elisângela com uma expressão sarcástica no rosto abaixada perto da tomada, retirando os plugs dos aparelhos que a mantinham viva. Paralisada de medo, Marluce morreu silenciosamente. O espírito de Elisângela foi então até o quarto de Cristina, desligou todos os aparelhos e assim o fez com Sheila. Samanta misteriosamente caiu com sua cadeira de rodas escadaria abaixo, morrendo por traumatismo craniano ao bater com a cabeça no chão. Enquanto ainda estava rolando com a cadeira de rodas escada abaixo, Samanta viu Elisângela no alto da escada com um sorriso sarcástico.

Depois daqueles trágicos acidentes, aquele hospital passou a ter a fama de assombrado, pois sempre morria algum paciente em um acidente qualquer envolvendo o desligamento precoce de aparelhos vitais ou outros acidentes bizarros. De vez em quando, os enfermeiros e médicos viam a imagem de alguma das falecidas meninas naquele lugar, além das imagens de outras pessoas que ali vieram a falecer. Com o decorrer do tempo, suicídios inexplicáveis e os constantes acidentes fatais ocorridos até mesmo com médicos(as) e enfermeiros(as), fizeram com que o hospital fechasse e todos os habitantes daquele bairro do Rio de Janeiro passaram a ter medo até mesmo de chegar perto daquele lugar.

Afinal de contas, acidentes acontecem.

FIM

Eduard de Bruyn
Enviado por Eduard de Bruyn em 09/01/2019
Reeditado em 10/01/2019
Código do texto: T6546768
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