O Encontro
Jorge Ardenas não sabia quem ia encontrar, mas sabia a data, a hora e o lugar. O encontro seria às 10 horas, do dia 31 de dezembro de 2018, no hotel Copacabana Palace, em Copacabana, ou seja: amanhã! O motivo? Só sabia que era importante e, por isso, não podia faltar, mas os detalhes dele, Jorge só saberia durante o encontro. Jorge Ardenas era oficial reformado do exército. Se aposentou com a patente de major, aos 52 anos, por motivo de saúde. Com a aposentadoria virou escritor de livros de suspense e terror. E dos bons. Já tinha cinco livros publicados que quase ganharam prêmios literários. “Chegaram até a final, bolas! Nem sempre o melhor ganha, não é mesmo?” Jorge Ardenas passou o dia inteiro tentando lembrar mais detalhes do estranho sonho que tivera. No sonho, ele encontrava uma pessoa (um vulto) que modificaria sua vida para sempre. Mas, ele não sabia se era um homem ou uma mulher. Só sabia onde e quando seria o encontro. Mais nada. Jorge passou a véspera do dia do encontro inquieto. Naquele dia, não conseguiu dormir. Olhava para o relógio de pulso digital a toda hora pensando que assim o tempo passaria mais rápido, mas o efeito era exatamente o contrário. As horas, minutos e segundos passavam como uma tortura chinesa, ou seja: devagar e de modo angustiante. Finalmente, chegou o dia 31 de dezembro de 2018. Às oito horas deste dia, fazia um sol lindo, típico de verão. Mas enquanto as pessoas se reuniam para ir à praia para mais tarde passar o réveillon alegremente em seus lares com seus familiares, Jorge Ardenas preparava-se para um encontro. Um encontro que mudaria sua vida para sempre.
Após tomar um banho frio para despertá-lo do transe em que se encontrava, Jorge Ardenas vestiu-se com seu terno feito sob medida e, após uma rápida refeição (café com leite e pão com queijo e goiabada), foi ao hotel para saber como sua vida mudaria.
O ex-militar chega ao Copacabana Palace e se senta no hall do hotel à espera da pessoa com a qual se encontrará. A espera é torturante. Apesar do ar-condicionado forte do lugar, o suor escorre da testa e do pescoço do major reformado. Faltando cinco minutos para as 10 horas, um homem de traços abrutalhados vestido como um executivo e com uma pasta preta estilo 007, na mão esquerda, caminha em sua direção vagarosamente. Jorge Ardenas nunca viu o sujeito antes e quando ele para a sua frente, descobre suas reais intenções: “O senhor tem fogo?” Pergunta o homem sacando um cigarro do bolso do paletó. Alarme falso. O cara só queria acender seu cigarro e ainda não são dez horas. As mãos de Jorge estão gélidas e molhadas. Ele esfrega as palmas das mãos uma contra a outra, enquanto olha para o relógio digital em seu pulso esquerdo, impaciente. Falta um minuto para as 10 horas. O minuto passa mais lento do que uma tartaruga sem duas patas.
Exatamente, às 10 horas, do último dia do ano de 2018, no hotel Copacabana Palace, Jorge Ardenas encontra, finalmente, a pessoa de seu sonho. Bang! Bang! Bang! Bang! Bang! Bang! Jorge leva seis tiros dela e cai morto ao chão. Era uma mulher. Bianca, mãe de Alessandro, de apenas dois anos de idade, filho que Jorge não quis reconhecer e muito menos pagar pensão. Sonho premonitório ou mero esquecimento de um compromisso assumido? Para Jorge Ardenas, agora tanto faz...
FIM