O TERRORISTA

"Não é suicídio, diz o bashi: é um ato de fé.
Um bom negócio que não se faz todo dia;
Pois além de receber a benção de Maomé,
Sempre há uma boa grana para a família."

"Não é apenas o morrer por uma crença,
Mas se trata de extirpar um grande mal,
Além de tudo existe uma boa recompensa
Para todos os que morrem por esse ideal".

"Porque a nossa luta sempre foi pura e sã,
E assim fazemos por que nosso Deus o quer:
Pois matando os inimigos do nosso Islã,
Estamos cumprindo com o nosso dever."

"Pelo coração, combatendo o pecado,
Pela boca, falando sempre a verdade:
Pelas mãos, corrigindo todo o errado, 
Pela espada: -eis os caminhos da Jihad."

Assim pensando, o bashi aceita
Que se lhe amarrem no peito o explosivo.
Mesmo sabendo que da ação que empreita
Ele mesmo, dela jamais poderá sair vivo.

Dessa forma, lá vai ele com o seu artefato.
Frio e calmo como se fosse um britânico.
O seu coração é uma carga maciça de C-4,
Preparada com um detonador eletrônico.

Ele entra no shopping-center calmamente,
Olhando as lojas como se fosse consumidor,
Mas sua mão, tal um Napoleão inclemente,
Por baixo da blusa, acaricia um detonador.

Ele e outros cem irão morrer, dessa sorte,
Uma morte certa, irremediável e sem aviso:
Mas que importa, se por conta dessa morte,
Ele vai ganhar o melhor lugar no paraíso?

E lá no Samã, as setenta belas huris de Alá,
Sensualíssimas, dançam no harém do califa.
Todas abençoadas pelos sheikes e pelo mulá,
Enquanto o bashi, lá no shopping, se espatifa.

 
Será que somos mesmo uma Humanidade,
Ou devemos crer no que John Lennon disse?
- Que seria melhor não existir país nem propriedade
E se também nenhuma religião existisse...