Quadra de damas
Na mesa de um apartamento luxuoso no Leblon, quatro amigos jogam pôquer na modalidade Texas Hold’em.
― Ele venceu com mais de 47 milhões de votos. Isto não é pra qualquer um. ― Disse João, o médico.
― Ele venceu porque não concorreu com o Lula. Se tivesse concorrido a história seria diferente...―disse Sandro, o juiz.
― Claro que não concorreu com o Lula. Lula estava preso e inelegível. ― replicou João pondo lenha na fogueira.
― Mas Lula não exalta torturadores covardes nem regimes ditatoriais! ― gritou o juiz a plenos pulmões.
― Calma, amigos! Vamos prestar atenção no jogo. Esqueçam este papo de política. ― Disseram Marcelo e Rafael em uníssono tentando pôr panos quentes na discussão antes que ela descambasse para uma briga.
― Vocês viram a foto da Marina Ruy Barbosa de biquíni? Como ela é linda! ― Disse o advogado, Marcelo.
― É uma verdadeira princesa! Se ela não fosse casada, eu casaria com ela...― disse o dentista, Rafael, arrancando gargalhadas de todos menos do juiz.
O jogo valia dinheiro e alto. Era a última rodada. Sandro apostou seis meses de seu salário de juiz de direito, ou seja: mais de 120 mil reais.
Rafael e Marcelo abandonaram a disputa. João cobriu a aposta e a aumentou em 50 mil reais. Para o dono da Clínica Saúde Feliz, localizada na Barra da Tijuca, 170 mil reais era fichinha.
Sandro cobriu a aposta com cara de nojo e chamou para o jogo. Faltava sair a última carta, o River. E ela saiu: uma dama de espadas.
Sandro abriu um sorriso e atirou suas cartas na mesa: uma dama de ouros e uma de copas. Ele tinha feito uma quadra de damas, com a dama que saiu no River e com a dama de paus que saíra no Turn, antes do River.
João não disse nada. Levou sua mão à cintura com raiva, pegou sua pistola 9 milímetros e fuzilou o juiz de direito até acabarem as balas.
Sandro Alvist caiu morto no chão com o sangue brotando de todas as partes de seu corpo musculoso e bem definido.
― Por que você fez isso, João? Foi por causa dele ser lulista roxo e você bolsonarista de carteirinha? ― Perguntou, surpreso e desesperado, Rafael.
― Não foi por isso não… ― Disse João Cedow sem nenhum remorso.
― Foi por que você perdeu o jogo? ― perguntou Marcelo tentando entender a atitude intempestiva do amigo de infância.
― Também não foi por isso não… ―Respondeu o médico mostrando seu jogo: uma quadra de ases.
― Então qual foi o verdadeiro motivo que levou você a matar um amigo de longos anos a sangue-frio? ― Perguntaram em coro o advogado, Marcelo Strada e o dentista, Rafael Pannucis.
― Ele estava comendo minha mulher…
Rafael e Marcelo olharam um para o outro e deram um tapinha nas costas do médico. Realmente era um motivo forte para o crime que João cometeu, mas havia um detalhe ínfimo, porém muito importante, que condenaria o dono da Clínica Saúde Feliz num futuro julgamento: o casamento de João Cedow era de fachada. Ele era homossexual. Mas corno não…
FIM