Minha bonequinha
Estava a serviço em outro Estado quando a mulher entrou em trabalho de parto e foi para maternidade.
Um dia após o parto recebeu a mensagem que o bebê não resistiu e morreu.
Abalado, voltou o mais rápido possível. Mesmo assim, não chegou a tempo para o enterro.
Ficou surpreso quando descobriu que a criança foi enterrada em caixão lacrado. Não conseguia entender a razão.
Desconfiado, resolveu investigar. Lembrou do trato que tinha feito com a esposa: a deixaria após o parto.
A investigação não passou da maternidade. Foi-lhe apresentada toda documentação que comprovava o nascimento de um bebê saudável que deixou o hospital nos braços da mãe.
Assistiu as gravações das câmeras de segurança.
Deixou o local atordoado, cruzou a avenida entre os carros e sentou-se na padaria. Pediu um litro de conhaque e só levantou-se depois da última gota.
Embriagado, decidido tirar tudo a limpo. Rumou para casa, pegou uma pá e foi ao cemitério.
O efeito do álcool tornou o trabalho muito mais difícil, mesmo assim, cavou sem parar até encontrar o pequeno caixão. Arrancou a tampa e sentiu o desespero tomar conta da alma. Não era o seu bebê e, sim, uma boneca.
Chorou descontroladamente apertando o brinquedo contra o peito e rogou aos céus por um milagre.
Foi atendido.
Sentiu o bater de um coraçãozinho dentro daquele peito de plástico.