O anjo da morte

Trabalhava num hospital de quinta categoria, o Hospital Municipal Aníbal Azul, na cidade de Monte Feio. Eduardo Rip não era médico. Era enfermeiro. Seu trabalho? Cuidar de pacientes que estão com o pé na cova, à beira da morte, ou seja: cuidar dos chamados pacientes terminais. Eduardo tinha pena deles. Sofriam muito quando ainda estavam vivos. Nem morfina aliviava a dor destas pobres almas. E foi para acabar com o sofrimento destes pacientes que Eduardo começou a mandá-los mais cedo para o cemitério. O que no início era uma “inofensiva” eutanásia transformou-se num vício, numa compulsão impossível de controlar. Eduardo Rip precisava matar para se sentir vivo. E quem caísse sobre seus cuidados, seja negro, branco, oriental ou índio, já estava com os segundos de vida contados. O “modus operandi” do enfermeiro assassino era sempre o mesmo: usando seus conhecimentos de enfermagem, aplicava uma injeção no paciente que provocava-lhe um infarto fulminante. E só quando o aparelho que monitora o coração da vítima mostrava um traço contínuo e permanente que Eduardo abandonava o quarto do doente para comunicar sua morte. No início, ninguém desconfiou do enfermeiro loiro, alto e bonito, que podia ser galã de novela em qualquer emissora brasileira, porque os pacientes já estavam no fim da vida mesmo. Eduardo exerceu sua atividade letal por meses a fio sem ser descoberto. Mas a grande incidência de mortes de pacientes durante o seu plantão chamou a atenção da direção do hospital e posteriormente da polícia. Após uma investigação apurada, os policias concluíram que o enfermeiro tinha culpa no cartório e o prenderam. A gota d’água para a prisão de Eduardo Rip foi ele ter sido filmado, por uma câmera escondida no quarto de dona Cidinha, aplicando-lhe uma injeção na veia do braço pouco antes dela morrer. Já preso e réu confesso, o enfermeiro assassino vai parar no mesmo presídio onde estava preso o único filho de dona Cidinha, o matador de aluguel, Carlinhos Capeta. No dia seguinte a sua entrada no presídio, o enfermeiro foi encontrado, em sua cela, todo esfaqueado e com os bagos na boca. Uma morte cruel e com a assinatura de um assassino profissional. Bem-feito. Quem mandou enviar tantas almas para o paraíso antes da hora. Agora, o “Anjo da Morte”, apelido que Eduardo Rip ganhou da imprensa por seus inúmeros assassinatos, deve estar queimando no Inferno com o Diabo aplaudindo-o de pé. Afinal de contas, um demônio reconhece o outro…

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 05/12/2018
Reeditado em 05/12/2018
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