INSÍGNIA

"Você quer saber o que aconteceu comigo? Então direi. Eu dirigia há cinco milhas da cidade e ao meu lado estava Couto, era uma noite repleta de estrelas."

E assim ele relatou a história.

"Ao passo que nos distanciamos da cidade, Couto reclamou de uma dor no estômago. Comecei a ficar preocupado com ele, era uma noite para caça. Nós dois éramos a dupla de caçadores mais conhecida de nossa região. Quando saímos da rodovia em direção ao Açude dos Severinos, parei a caminhonete para que ele pudesse aliviar-se. Ele desceu do carro e eu fiquei observando o céu estrelado, porque as estrelas sempre levavam-me a sonhar. Não sei por quanto tempo fiquei admirando-as, estava com fones no ouvido curtindo Lady Starlight.

"Meu amigo não voltou, decidi ir atrás dele porque chamei e não tive resposta. A mata ao lado da estrada era baixa, havia umas moitas e pensei que Couto estivesse atrás de uma delas. Chamei-o mais algumas vezes e ele não respondeu. Resolvi ir adiante para ver se realmente estava lá, ele estava não como pensei, mas sentado com suas vísceras expostas. Entrei em pânico imediatamente e comecei a gritar mesmo sabendo que ninguém ouviria. Não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-lo, ele estava morto, só pensava nisso e gritava. Todo o pânico transformou-se em raiva, que animal poderia ter feito aquilo eu não sei. As armas estavam na caminhonete, mas eu estava com um revólver calibre 38, tirei-o do coldre e fiquei atento, tentei escutar algum barulho, não havia pegadas no chão e eu queria matar a criatura que ceifou a vida do meu grande parceiro.

"De repente fui jogado sobre uma mouta, algo maior e mais forte que eu estava ali, possivelmente era a criatura que havia matado Couto. Levantei-me atento aos sons e olhei para todos os lados e não ouvi nem vi nada, corri para a caminhonete e ao entrar e girar a chave de ignição percebi um vulto passando em minha frente. A luminosidade do local onde estava não era tão boa, mas pude ver nitidamente a criatura quando ela apareceu pela segunda vez. Um ser esguio com cabeça elíptica e dedos enormes, é a única coisa que lembro em relação à criatura. Acho que fiquei inconsciente logo em seguida. Depois disso lembro apenas que acordei com uma forte dor na região torácica, a marca está aqui."

Disse ele apontando para uma insígnia acima do umbigo, sua pior experiência.

*Insígnia é um conto lacônico, apesar de ser minimalista está aqui, baseado, não totalmente, no relato de um habitante da comunidade de Córrego do Salgado, Itarema-Ce, que disse ter tido contato com uma criatura misteriosa.

Leandro Ferreira Braga
Enviado por Leandro Ferreira Braga em 16/11/2018
Reeditado em 25/09/2024
Código do texto: T6504113
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