O Cemitério

Joãozinho não queria ir de jeito nenhum “àquele” lugar. Seu amigo Nicholas o prevenira: “lá só tem gente morta. É um lugar amaldiçoado, maligno...” Mesmo morrendo de medo Joãozinho foi, por insistência de sua mãe, Jussara. Era o enterro de dona Clotilde, avó de Joãozinho e mãe de sua mãe. Jussara entendia o garoto. Com nove anos, ele preferia brincar a ir a um enterro. Mas era a última homenagem da família à dona Clotilde, por isso era tão importante Joãozinho ir ao cemitério. O céu estava negro. A promessa de chuva logo se cumpriria. No cemitério de Isterville, único cemitério da cidade de Wintermall, parentes e amigos se despediam da juíza de diteito, Clotilde Reins, morta por uma bala perdida. Enquanto o padre rezava, o caixão era baixado para a morada eterna, ou última morada. Joãozinho tremia. Viu sua avó acenando para ele. Mas como? Ela está morta! Como um morto pode acenar estando… morto? “Mãe, a vó Clotilde acabou de acenar para mim...” “Não é possível, meu filho. Ela está morta. Você teve uma alucinação. Eu sei que você gostava muito dela. Por isso sua mente fez parecer que ela estava acenando para você...” “Mãe a vó Clotilde está me dizendo uma coisa...” “O que é Joãozinho? É feio brincar assim com sua mãe! A gente já vai embora. Tenha paciência...“ Eu não estou brincando, mãe. A vó me disse que a senhora vai fazer companhia a ela na semana que vem!” Jussara deu um tapa na cara de Joãozinho. A brincadeira tinha perdido a graça. Joãozinho chorou naquele dia. Passou por mentiroso mesmo dizendo a verdade. Mas ele chorou mais ainda, na semana seguinte, quando, no mesmo cemitério, viu sua mãe e sua avó acenarem para ele...

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 05/11/2018
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