Vlad, o empalador de almas (o destino de Cíntia)- Final

Cíntia Veios acordou num lugar que parecia um calabouço. A pancada que levara na cabeça doía, mas não sangrava. A última coisa que a escritora lembrava antes de perder a consciência era de Wallace Van Helsing caído no chão todo ensanguentado. Cíntia estava com as mãos acorrentadas à parede e sentada no chão. O lugar era muito úmido e os ratos e baratas que buscavam alimento eram a única companhia de Cíntia naquele momento.

Na delegacia de polícia de Bucareste, Allan Veios, irmão de Cíntia, esperava ansioso sua vez de ser atendido. O delegado, Ruan Mustaff, ligara para ele, após o gerente do hotel onde Cíntia Veios estava hospedada, comunicar-lhe sua ausência prolongada.

― Meu caro, Allan Veios, conforme lhe informei pelo telefone, ontem à noite, sua irmã, Cíntia Veios, foi dada como desaparecida após ir ao Castelo de Drácula. Observando as câmeras da parada do ônibus que faz o percurso do Castelo de Drácula à estação de trem, ela aparece conversando com um homem alto e loiro de óculos escuros. Este homem foi encontrado morto no caminho para o hotel onde sua irmã estava hospedada. Ela não foi achada com ele, mas achamos algo bem interessante com o morto. Ruan Mustaff entrega o diário de Wallace Van Helsing a Allan Veios.

― Eu li este diário durante a madrugada. Wallace Van Helsing parece um lunático com o que escreveu nele. Mas eu pesquisei sobre Wallace Van Helsing, na internet, e descobri que ele é um médico renomado na Inglaterra. Por isso das duas uma: ou ele estava louco quando escreveu o diário ou tudo que há nele é verdade!

Allan Veios agradeceu ao delegado romeno e pediu para ficar com o livro. Ruan Mustaff consentiu, pois além de ter excelente memória, já havia mandado fazer cópias do mesmo, e disse a Allan que o manteria informado das buscas a sua irmã. Allan Veios agradeceu e saiu da delegacia com a cabeça a mil. Agora, ele tinha um ponto de partida, um norte, e localizar sua irmã era questão de tempo e de honra para o renomado agente do Federal Bureau of Investigation (FBI), a polícia federal norte-americana.

As primeiras páginas do diário citavam a relação entre Abraham Van Helsing e Drácula. A mulher de Drácula, Lully Dracul, matou o vampiro para salvar a vida do doutor Van Helsing e, posteriormente, casou-se com ele. Mas o culto ao vampiro sobreviveu a sua morte. Pela profecia, em duzentos anos, Vlad, o empalador de almas (Drácula) será ressuscitado pelo sangue de sua assassina. Wallace Van Helsing diz, no diário, que era o último descendente vivo de seu tataravô (Abraham) e que Cíntia Veios é a reencarnação de Lully Dracul. Apesar de estar cansado pela longa viagem que fez, o agente do FBI forçava-se a ler todo o relato pessoal de Wallace Van Helsing, pois a vida de sua irmã estava em jogo e cada minuto ganho era de fundamental importância. No diário, há uma menção a uma seita de fanáticos denominada: “Adoradores de Vlad, o empalador”, cujo líder é Alucard Blood. Um anagrama de Drácula com o que ele precisa para viver: sangue (blood em inglês). Allan Veios pegou seu notebook e pesquisou sobre o líder dos fanáticos. Descobriu que Alucard Blood, era o apelido de William Van Helsing, irmão caçula de Wallace! “Um traidor” pensou, quase gritando, o agente do FBI. Allan descobriu que a seita pretendia ressuscitar Drácula em breve, muito em breve. Pesquisando em outro site, só disponível para os seguidores mais fiéis da seita, mas que Allan conseguiu acessar por ser hacker, o agente do FBI descobriu o dia exato do ritual de ressurreição do vampiro: o dia “D” seria na ocorrência do raro fenômeno astronômico conhecido como Lua de Sangue, no qual a lua fica avermelhada por causa de um eclipse lunar. Allan Veios pesquisou sobre o fenômeno e descobriu que faltavam apenas horas para a profecia se concretizar e o vampiro voltar à vida!

Voltando rapidamente ao diário, as últimas frases de Wallace Van Helsing mostram todo seu desespero:

Hoje, vou ao encontro de Cíntia Veios. Tenho que tirá-la da Romênia o quanto antes. A vida dela corre perigo e a existência da humanidade também. Que Deus me ajude a livrar a Terra, para sempre, deste ser desprezível e demoníaco: Drácula…

A tarefa de Allan Veios era a seguinte: ele tinha apenas algumas horas para achar sua irmã, tirá-la das mãos dos fanáticos e acabar com a alegria deles. Simples, não é? Pois é. Nem um pouco. Allan Veios pegou o nome de alguns dos seguidores mais fiéis da seita e tentou contato com seus familiares explicando-lhes o que tinha acontecido com sua irmã. Alguns parentes dos fanáticos disseram que não estavam nem aí, para o que eles estavam fazendo, mas a mãe de um deles, a mãe do alemão Joky Heins, chorando muito ao telefone revelou onde seu filho estava: ele estava na Romênia. Onde exatamente, ela não sabia. O agente do FBI, usando seus profundos conhecimentos em informática, grampeou o telefone da mãe do fanático e pediu para ela ligar para o filho. O tempo que a mãe falou com o filho pedindo desesperadamente para ele abandonar a seita foi mais do que suficiente para Allan Veios localizar o paradeiro de Joky Heins. Ele estava no Castelo de Drácula! Agora era correr contra o tempo e salvar sua irmã, Cíntia Veios!

Cíntia Veios estava morrendo de fome e nada de comida. Um fanático apareceu e lhe deu um beijo na boca. Ela mordeu a língua dele e o energúmeno a esbofeteou nos dois lados do rosto. ― Vagabunda! Me tirou sangue, mas daqui a pouco tempo será o “seu” sangue que deixará o seu corpo. Rá! Rá! Rá! ― e o capacho de William Van Helsing foi embora rindo já antevendo o futuro sinistro da pobre mulher.

Uma forte tempestade impedia o deslocamento dos policiais até o Castelo de Drácula. E faltava pouquíssimo tempo para a profecia se cumprir.

Mas Deus estava do lado dos policiais e de Allan Veios e a tempestade cedeu e se transformou numa inocente garoa. Agora era correr contra os minutos para evitar uma tragédia.

Cíntia estava deitada num altar com os braços presos e esticados em forma de cruz. A escritora estava nua e pronta para a cerimônia em que seria sacrificada para a ressurreição de Drácula. No ritual, seu sangue seria extraído para um caixão onde estavam depositadas as cinzas do nefasto vampiro. Porém, para que o ritual desse certo, Cíntia tinha que estar viva até o vampiro ressuscitar, por isso, a transfusão de sangue tinha que ser feita lentamente.

Após a ordem do líder da seita, Alucard Blood (ou William Van Helsing, o traidor dos Helsing e da humanidade), a cerimônia teve início, exatamente no crepúsculo do sol que reaparecera após a intensa tempestade. Durante o ritual os fanáticos deliravam. Batiam as mãos em suas carecas e gritavam como loucos pela chegada de seu “mestre”. No momento em que a Lua de Sangue despontou no céu, o corpo do vampiro começa a tomar forma no esquife. Cíntia estava à beira da morte, quando a polícia romena invade o local, junto com Allan Veios, e dá voz de prisão para todo o bando. Os fanáticos reagem e atiram nos policiais e no agente do FBI. Corajoso, Allan vai em direção a sua irmã e tira as amarras que prendiam seus braços. Cíntia precisa imediatamente de uma transfusão de sangue ou morrerá. O sangue de Cíntia, O- (ó negativo), é um sangue muito raro. Ruan Mustaff pergunta aos policiais se há alguém com o mesmo sangue de Cíntia Veios e a resposta é negativa. Somente Allan Veios possui o mesmo tipo sanguíneo de Cíntia e, mesmo sangrando muito pelo tiro que levou no abdome, ele exige que façam a transfusão de seu sangue para sua irmã, ainda que isto acarrete em sua morte. A transfusão é feita e as cores começam a voltar no rosto da escritora. Allan Veios é levado para o hospital de helicóptero e graças a Deus e a sua excelente forma física, sobrevive. Os fanáticos, cerca de trinta homens, foram capturados pelos policiais, exceto seu líder, William Van Helsing, que conseguiu fugir. Mas sua captura era questão de tempo. Pouquíssimo tempo. Joky Heins seguiu o sábio conselho de sua mãe e fugiu antes do “Titanic” afundar. Vlad, o empalador de almas ou Drácula (como é mais conhecido) voltou ao pó de onde nunca deveria ter saído. Desta vez para sempre. Cíntia Veios e a humanidade estavam a salvo. Por enquanto...

FIM