Vlad, o empalador de almas
Cíntia Veios era carioca da zona norte. Viajava como se bebe água, por causa de sua profissão: era escritora. Nas viagens a diversos países, inspirava-se nos moradores e em seus hábitos para criar histórias e personagens. Foi numa viagem recente que Cíntia Veios viveu seu pior pesadelo. Eis como tudo aconteceu…
Cíntia Veios foi à Romênia, terra de Vlad Tepes III, para escrever seu próximo livro: “Vlad, o empalador de almas.” Diz a lenda, que Vlad, príncipe da Valáquia (região próxima da Transilvânia), fez um pacto com o Diabo para expulsar os turcos da Romênia. Empalando os inimigos e lhes tirando, com isto, a moral (a alma) de lutar, ele conseguiu expulsar os invasores, mas a um alto preço. Transformou-se num servo do demônio, num ser vil e nefasto, no diabólico vampiro que, hoje, todos conhecem como: Drácula! O livro de Cíntia seria um romance histórico baseado na lenda do famoso vampiro e ela esperava que fosse mais um best-seller, como todos seus 12 livros anteriores. O hotel em que a escritora ficou, em Bucareste, era bastante confortável, mas um pouco distante do Castelo de Drácula. Como ela chegou à noite, começaria sua pesquisa pela manhã.
Cíntia acordou com o canto dos pássaros, às cinco da manhã. Tomou um café reforçado e foi realizar sua pesquisa. Às 7 horas, pegou um trem até Brasov e de lá um ônibus para chegar à cidade de Bran, onde está localizado o castelo. Eram 11h15min, quando Cíntia Veios adentrou o castelo. Neste exato momento, ela teve uma sensação muito esquisita: um déjà vu! Sentia como se já tivesse estado ali. Mas, ela nunca estivera na Romênia antes desta viagem, quanto mais no Castelo de Drácula! Quando a sensação de familiaridade com o lugar passou, a escritora começou a tirar inúmeras fotos do ambiente e fazer diversas anotações no tablet, que levaram a tarde toda. Às
17 h15 min, saiu do castelo para pegar o ônibus e, em seguida, o trem para voltar ao hotel. Antes de subir no ônibus, notou que um homem, loiro, alto e de óculos escuros acompanhava seus passos discretamente. Ela teve a certeza que o estranho homem de fato a seguia, quando, ao sair do ônibus, ele veio falar com ela.
― Senhorita, Cíntia Veios?
― Sim. Sou eu. Como sabe meu nome?
― A senhora não acreditaria se eu contasse. Devo-lhe avisar, entretanto, que a senhorita corre grande perigo aqui na Romênia. Aconselho-a a sair o mais rápido possível deste país…
― Mas, por quê? O que está acontecendo? Quem é o senhor?
― Eu me chamo Wallace Van Helsing e sou o último descendente vivo de Abraham Van Helsing.
― Isto é uma piada? Se é, é de muito mau gosto!
― Não é uma piada. É a mais pura verdade. Eles precisam do seu sangue para que o maldito volte à vida novamente. E para o bem da humanidade é meu dever impedir…
― Quem são eles? E o que eu tenho a ver com isso?
― “Eles” são os fanáticos que cultuam o vampiro na internet e são capazes de dar a vida por “Ele”. Você é a reencarnação de Lully Dracul, a mulher que traiu Drácula e o matou, por amor a meu tataravô, Abraham Van Helsing. Somente seu sangue pode reviver a besta. Venha comigo, agora. A noite já está chegando…
Confusa, Cíntia Veios resolveu seguir seu instinto de mulher e acompanhou o descendente de Van Helsing bastante assustada.
No caminho até o hotel, o carro de Wallace Van Helsing e Cíntia Veios era seguido ostensivamente por um enorme furgão negro de vidros escuros. Pouco antes de chegar à estalagem, o carro do último descendente vivo de Van Helsing teve que parar para não bater no caminhão que fechava a estrada.
― Eles não vão nos pegar sem luta!
Doze homens fortes e bem armados, com revólveres e facas, foram em direção ao casal. Wallace Van Helsing estava armado com uma pistola. Cíntia apenas rezava.
Houve um intenso tiroteio. Van Helsing conseguiu abater cinco fanáticos, mas foi atingido e morto pelos restantes. Cíntia foi capturada. Não sabia o que aqueles loucos, que a olhavam como comida, fariam com ela. Mas sabia que o mal não triunfaria. Talvez, só desta vez…
FIM