Etrom
Patrícia Leme era bolsista, na faculdade de psicologia, da PUC-RJ. Era uma aluna aplicada e estudiosa, mas pobre. Se não fosse a bolsa integral, a que tinha direito, não teria como pagar a faculdade, uma das mais caras do Brasil.
Há cerca de quinze dias, antes de seu aniversário de 21 anos, Patrícia vinha se sentindo estranha, triste, sem motivo aparente. Quando estava saindo da favela da Rocinha para ir à faculdade, viu uma folha verde de uma imensa mangueira cair bem aos seus pés. Não gostou. Era um sinal do destino e, provavelmente, o motivo de sua melancolia. Um sinal de que morreria jovem. Bem jovem. Patrícia escolhera psicologia pelo grande interesse que tinha na mente humana e no poder do subconsciente. Ela tinha plena certeza que, como psicóloga, poderia ajudar as pessoas a serem mais felizes neste mundo. Mas Patrícia não acreditava somente no mundo físico, visível; ela cria também num mundo, que embora não visse, existia: o mundo dos espíritos. E era este mundo, a qual ela estava intimamente ligada, por ser espiritualista, que vinha avisá-la que sua missão na Terra ia chegar ao fim, em breve. Aos 24 anos, Patrícia Leme terminou a faculdade com excelentes notas, para orgulho de sua mãe e de sua avó. Pouco tempo depois de se formar, Patrícia começou a trabalhar numa clínica, na Tijuca, e foi no caminho de ônibus para o trabalho que conheceu o homem misterioso e bonito que viria a ser seu namorado. Dele, ela não sabia muita coisa. Sabia seu nome: Etrom. Um nome bonito, forte e original. Sabia também que ele vivia do jogo, era jogador profissional de pôquer, e que era formado em Estatística. Mais nada. Assim que escutou, pela primeira vez, o nome do loiro de brilhantes olhos azuis e sorriso de Monalisa, Patrícia perguntou a Etrom, cheia de curiosidade, a origem de seu nome. Etrom desconversou e lhe disse que no momento certo, ela saberia. Passados seis meses de namoro, Etrom ainda não havia levado Patrícia para conhecer sua família. A psicóloga aceitava a contragosto. “Por que Etrom me esconde de sua família? Será que ele é casado?”. Perguntava-se Patrícia. “Pelo menos seus beijos são doces e carinhosos...” Conformava-se a linda morena de olhos verdes.
Passado um ano de namoro, Etrom e Patrícia ainda não tinham transado. Patrícia queria perder a virgindade com Etrom, mas ele dizia sempre: “calma, princesa! Na hora certa nos amaremos...” Mas a hora certa nunca chegava...
Num dia chuvoso de novembro, tocava a música November Rain dos Guns’N Roses, no rádio do carro de Patrícia. Etrom ia no banco do carona ensinando o caminho à psicóloga. Finalmente, após muitos quilômetros de estrada, eles chegaram ao destino. Patrícia ia, enfim, conhecer a família de seu namorado.
Estavam todos lá. Os pais, os irmãos, os primos, os tios, os sobrinhos, os avós, os bisavós, enfim, toda a família de Etrom estava reunida ali: no único cemitério da cidade das Flores Partidas. “E agora que você conheceu minha família, minha princesa, vou levá-la para o meu mundo. Um mundo em que nos amaremos para todo sempre, um mundo em que ninguém morre... E satisfazendo sua curiosidade sobre a origem de meu nome, minha querida: leia-o de trás para frente que você vai descobrir...”
FIM