A jovem do lago

Lucas era um jovem de 19 anos, alto, de cabelo liso e escuro como a noite, além de olhos que pareciam gotas de mel pingadas em suas órbitas.

Nascido e criado em São Paulo, depois de meses de estudo sem fim, finalmente conseguiu ser aprovado no vestibular de medicina de uma reconhecida faculdade federal.

Para essa proeza acontecer além do tempo gasto com estudos, o jovem que além de inteligente era incrivelmente esforçado, trabalhava fazendo bicos, como vender os doces que a mãe fazia (visto que ela também de origem humilde, não tinha condições financeiras de ajuda-lo com as custas do cursinho) e até trabalhava alguns dias da semana na loja de conveniência do bairro.

Consequência disso é que apesar de ser um menino inteligente, de boa aparência e esforçado, nunca teve tempo sequer para uma paixão adolescente, como a maioria das pessoas de sua idade.

Sua mãe, ciente de que assim que o filho ingressasse oficialmente na faculdade iria ficar ainda mais ocupado, resolveu lhe dar um tempo de folga. Disse à Lucas que desse um tempo e fosse passar alguns dias no sítio de seu primo, para relaxar um pouco.

Ele que apesar de esforçado, estava exausto com a rotina que vinha tendo há meses, aceitou na hora.

Assim que chegou à estradinha de chão, que levava ao sítio de seu primo Nicolas, e sente aquele ar puro, já se sente mais relaxado. Entretanto não se lembrava de um lago tão próximo à casa de seu primo. Um lago límpido, cercado por algumas árvores indistintas que agora ele não conseguia nomear.

- Faz anos que não venho aqui, claro que não me lembraria de algumas coisas.

Dito isso continua andando em direção à casa de seu primo. Lá chegando é recebido muito bem, toma um banho depois da viagem cansativa, come um almoço farto, feito especialmente para ele, e simplesmente vai tirar um cochilo durante a tarde. Entretanto antes de dormir o primo lhe avisa que ele e os pais vão comprar alguns mantimentos, mas que retornam no início da noite. O jovem diz não ter problema, e fica satisfeito pela casa ficar em silêncio, pra ele pôr o sono em dia.

Dorme mais de 5 horas seguidas, mas quando acorda (em torno das 18 horas) fica inquieto e não consegue mais dormir. Como não está a fim de ver televisão, resolve dar uma explorada na propriedade, e quando menos espera já está na frente do lago que viu mais cedo.

De perto ele era tão bonito quanto aparentava de longe, água tão límpida que parecia um espelho. Ele, que há tempos não nadava, quando viu já estava de bermuda boiando naquele pedaço de paraíso. Apesar do horário, a água estava morna, acolhedora como o abraço de uma mãe.

Do nada, o jovem ouve uma risada feminina bem próxima a ele e gela, quando olha na direção do som, dá de cara uma linda jovem ruiva, que aparentava ter a sua idade, com olhos tão negros que chegavam a intimidar se você olhasse por muito tempo.

- Porque está rindo?

- Por que eu quero. Simples assim!

-Não tem nada melhor para fazer na vida não? (Diz Lucas mais curioso do que zangado).

A jovem o olha por alguns instantes como se estivesse apreciando alguma piada interna que somente ela sabia, e diz:

- Por incrível que seja não.

-Meu nome é Lucas, qual o seu?

- O meu é Cecília.

Nesse momento, a jovem que estava na beira do lago, e que vestia um simples vestido de verão azul, mergulha e reaparece a 3 metros de distância de Lucas.

Assim como o lago, de perto Cecília era assustadoramente mais linda do que de longe, além de ser carismática o suficiente para fazer o introvertido Lucas conversar durante horas.

Quando deu em torno de 21 horas, Lucas se deu conta que seu primo devia estar preocupado com seu sumiço, visto que não tinha demonstrado interesse em sair antes, e nem deixou um bilhete explicando que ia dar umas voltas. A contragosto então diz:

- Tenho que ir Cecília, meu primo ficará preocupado.

Entretanto quando já está se virando para sair do lago diz:

- Mas amanhã, nesse mesmo horário vou voltar aqui para relaxar!

Cecília nada diz, mas dá um enorme sorriso, e começa a boiar no lago como se não tivesse mais nenhuma preocupação na vida.

Lucas sem saber o porquê no caminho para a casa sente o coração acelerado, e uma deliciosa sensação de euforia. Mal consegue dormir direito.

No outro dia, no horário combinado, está na frente da lagoa, mas nem sinal de Cecília. Do nada sente uma mão em seu ombro e pula de susto, para logo em seguida ouvir gargalhadas estrondosas da jovem.

- Você é muito medroso!

- Você que é muito sorrateira, nem ouvi seus passos!

Mas por dentro o jovem não conseguia conter a felicidade, pela garota estar realmente lá esperando por ele.

Durante quase uma semana foi se repetindo esse processo, até que um dia antes de Lucas ir embora, ele decide falar:

-Cecília está quase na data de eu ir embora, infelizmente não posso adiar mais.

A jovem que até agora se caracterizava pela alegria contagiante, simplesmente parou, e deixou uma lágrima solitária rolar em sua face.

- Tudo bem, amanhã também será o último dia que virei até aqui.

Apesar do clima pesado, ambos se despedem e combinam de se encontrar no dia seguinte uma última vez.

No dia seguinte, sentados a beira do lago, ambos parecem ter medo de pronunciar qualquer palavra, que quebre o encanto daquele último momento. Então depois de algum tempo, sem aviso, Cecília se joga nos braços de Lucas e lhe dá um beijo nos lábios que lhe deixa tonto de tão bom, Lucas então lentamente e começa a perder a consciência até desmaiar.

Quando acorda, se vê sozinho a beira do lago, e nem sinal de Cecília.

Acha estranho, mas quando percebe o quanto está tarde, deduz que a jovem tomou seu rumo porque não gostava de se despedir e fez o mesmo.

No dia seguinte entretanto, enquanto com uma sensação de peso no coração, terminava de arrumar sua mala, ouve um objeto cair no chão de madeira da sala. Quando vê, é um porta retrato antigo (feito de madeira nobre) e qual não a surpresa de Lucas a ver a foto de Cecília nele.

O jovem corre para fora da casa na direção do tio e pergunta por que eles tem uma foto de Cecília, à menina que ele encontrou todos os dias no lago próximo a casa deles.

O tio coça a cabeça e diz:

- Acho que você anda pegando sol demais na cabeça Lucas, essa menina na foto, é a irmã gêmea da sua bisavó, que morreu mais ou menos com a sua idade, afogada em um lago que tinha aqui perto da casa.

- Como assim? Eu vi ela, durante uma semana, no lago perto da estrada de chão.

- Lucas do que você está falando? O lago foi drenado assim que o acidente aconteceu, para evitar que outras pessoas se afogassem.

- Do que você está falando?

E puxa o tio, sua tia e primo que tinham chegado perto quando Lucas tinha começado a se exaltar na conversa.

Mas quando chega ao lugar aonde o lago deveria brilhar em sua plenitude, por estar refletindo o sol de meio dia não encontra nada, além da estrada de terra, totalmente deserta.

Iza Marins
Enviado por Iza Marins em 16/10/2018
Código do texto: T6478079
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