O LOBISOMEM.
Agosto. Lua cheia. Adriana, doze anos, foi tomar água antes de dormir. A avó Joana terminava sua reza. O pai, Ronaldo, encostara a porta. Daniele, a matriarca, ajeitava os travesseiros. A menina beijou os pais e a avó. Ficou contando carneirinhos até o sono chegar. Agarrada a boneca Lucineide, a preferida pra dormir, Adriana logo adormeceu. As outras duas bonecas eram Luzia, companheira de passeios, e Rizoleta, companheira de afazeres do lar. O pai roncava alto, cansado da labuta na lavoura. A chuva caiu. Os quatro cachorros latiam alto. Adriana despertou. -" REX, LOLO E PREGO, TADINHOS!!! MORREM DE MEDO DE RAIOS E TROVOADAS!!!" Meia noite. A menina se levantou. A porta se abriu com a ventania. Lolo passou entrou na casa, passando entre as pernas dela. -"SEU MEDROSO!!!!" Riu Adriana. Rex e Prego estavam no canto da cerca do quintal. Uivavam, olhando para o alto. Adriana encarou a chuva e os puxou pela coleira. -" VENHAM PRA DENTRO!!!!" Um raio iluminou o quintal. Adriana olhou para o telhado da casa. Algo a encarava com olhos vermelhos. Era meio homem e meio lobo. Peludo. Assustador. O bicho deu um salto e sumiu em meio ao cafezal. Ronaldo apareceu e puxou a filha pra dentro. -" NOSSA SENHORA APARECIDA!!!" Gritou a menina, pálida e tremendo. Daniele abraçou a filha. -" EU VI O LOBISOMEM!! EU VI, PAPAI" Repetia a menina. O pai acalmou os cachorros e colocou uma trave barrando a porta. Joana veio ver o motivo daquele barulho todo. -" ACALME-SE, MINHA NETA! EU ESTIVE FRENTE A FRENTE COM UM, QUANDO TINHA SUA IDADE! ESTOU AQUI, VIVINHA!!!!" A menina dormiria entre os pais. Precavido, Ronaldo colocou a espingarda ao lado da cama. Num prego no batente da porta Joana pendurou uma réstia de alho. Jogou sal grosso em toda a casa. Colocou um rosário ao lado da neta. -" PRONTO!! ESTAMOS A SALVO, VAMOS DORMIR!!!" O dia amanheceu. Joana iniciou a reza do terço e ladainhas da igreja. Adriana sequer foi estudar. -" ELE, O LOBISOMEM, NUNCA DEIXA VIVO QUEM O VÊ... ADRIANA O VIU!! O BICHO QUERIA MATAR OS CACHORROS!! ELE VEM HOJE PRA MATAR ADRIANA!!!" Explicou a avó da menina. Ronaldo carregou a arma. Seus primos, Juvenal e Tobias, chamados, estavam armados com facas e rifles. Todos tomaram café. Joana meneou a cabeça, discordando daquela artilharia toda. -" SE O MATAREM, OUTROS VIRÂO DEPOIS!! EXISTE UM JEITO DEFINITIVO PRA SE LIVRAR DELE, PRA SEMPRE!!!" Todos prestaram atenção pois Joana era benzedeira, entendia de tudo sobre ervas e plantas da mata. -" ELE VAI VISITAR ADRIANA, AINDA HOJE, ANTES DE ANOITECER!!! RONALDO ABRE A PORTA E A MINHA NETA VAI JOGAR SAL GROSSO NOS OLHOS DELE. VAI SUMIR PRA SEMPRE!!!" Juvenal se levantou. -"FICAREI COM A ARMA!! SE ELE PEGAR ADRIANA EU FAREI PENEIRA DELE!!!" A tarde chegou. Os cachorros latiram. Ronaldo e os primos pegaram as armas. Danielle abriu a janela e se benzeu. Havia um homem no quintal. Botas, roupas pretas e um longo chapéu. Um cigarro aceso. Os cachorros se calaram e deram a volta na casa. Ronaldo se arrepiou. Achava que as histórias da mãe eram lorotas, que ela inventava aquilo pra assustar os garotos. Juvenal olhou para aquele ser estranho. Molhou as calças. O homem se aproximou da casa. -" A MENINA ME VIU!!!" Ecoou uma voz gutural. Ronaldo apontou a espingarda para o visitante. -" SANGUE DE JESUS TEM PODER! VENHA, MEU CARO!!! VAI VIRAR PENEIRA." Joana estava amparando Danielle. O homem se aproximou. Adriana saiu detrás do pai e jogou um punhado de sal grosso no rosto do visitante. Ele levou as mãos ao rosto, dando um grito de dor. Ele correu em direção da estradinha de terra e sumiu no horizonte. Nunca mais reapareceu... Adriana se formou em medicina. Conta aos amigos essa história e jura que é verdade!!!! (Marcos Dias Macedo).