O retorno da maldição!
Muitos anos havia se passado. Novas pessoas vieram morar naquela cidade, uma cidade em que outrora fora cenário de uma série de mortes terríveis e uma tragédia na qual ninguém comentava nada sobre o que acontecera. As pessoas mais velhas diziam que invocariam o mal se alguém comentasse sobre tudo aquilo que fora vivido por lá. Tudo o que se sabia, era que uma jovem moça chamada Sara fora possuída por um homem morto há muitos anos e que ela sumira de um casebre abandonado no meio da mata há mais de três décadas.
Durante trinta anos, aquela cidade do interior viveu em paz sem nenhuma morte misteriosa e nenhum acontecimento inesperado. Os mais velhos não comentavam nada sobre a história de Sara, mas sempre tinha alguém querendo saber o que deveras havia acontecido principalmente os filhos das pessoas que vivenciaram aquele terror, claro, uma história dessas gera muita curiosidade nos mais jovens.
George era um jovem rapaz amigo de Sara e foi o grande herói da cidade naquela época salvando-os do terrível monstro que possuía o corpo da amiga. Passado trinta anos, George não passou um dia sequer sem que se lembrasse de Sara. Nunca desistira em saber o que acontecera com sua amiga. Não achara na época, nenhuma pista que o levara ao paradeiro dela. Foram trinta anos. Trinta anos imaginando o que pudera ter acontecido.
George estava prestes a completar cinquenta anos. Sua família estava preparando uma festa para seu aniversário. George havia se casado e teve uma filha chamada Maria. Maria era tão linda e muito querida por todos. Ela estava com dezoito anos e ajudara sua mãe em tudo. Prepararam tudo para a grande festa. Cuidaram de cada detalhe. Queriam que fosse um dia inesquecível. De fato foi. Foi o dia do retorno, o dia da reviravolta do caso que amedrontava a todos daquela terra, o retorno da maldição.
Os convidados estavam chegando. Chegavam todos felizes para comemorarem os cinquentas anos de George. George era um homem muito querido por todos, pois tinha os salvado da terrível maldição e todos se sentiam gratos por isso. A festa estava impecável. Todos estavam se divertindo muito. Maria e sua mãe tinham pensado em tudo. Tudo estava como o planejado.
Ouviram a porta bater. Maria logo foi atendê-la para ver quem podia ser, pois todos já estavam na festa. Ao abrir a porta, Maria perguntou a mulher parada a frente dela o que ela desejava. Todos olharam espantados. Não estavam acreditando no que acabaram de ver. George foi até a porta e eis que a surpresa fora avassaladora; era Sara. Isso mesmo; Sara. Ninguém podia acreditar no que estavam vendo. Os mais novos com ar de curiosos e os mais velhos pareciam que estavam vendo todo aquele horror em suas frentes novamente. Deveras estavam. Sara havia se transformado no mostro que a possuiu trinta anos atrás. Sabiam que era Sara, mas seus olhos estavam vermelhos iguais aos de um lobo raivoso na hora de atacar sua presa. Aqueles olhos fixavam George. Os olhos dela tinha cor de sangue, tinha cor da morte. Sara ainda estava vestida com a mesma roupa que usara naquela fuga em que fora presa naquele casebre.
O desespero fora geral. Todos gritavam sem saber o que fazer. George começou a pedir calma, pediu a Sara para se manter calma. Entretanto, ela os trancou dentro da casa. Ninguém conseguia sair do local. Sara fazia aquilo. Sara se transformara no mal. Quando a casa de Sara estava em chamas, ela conseguiu se soltar das amarras naquele casebre no meio da mata e correu para lá. Ao chegar se deparou com todo aquele fogo consumindo o lugar onde morou sua vida inteira. Em um impulso, tentou de alguma forma impedir o que estava acontecendo. Quando então, o monstro que estava sendo queimado junto com as chamas, percebeu que Sara estava ali. Aproveitou da fraqueza dela para possui-la e nunca mais sair do seu corpo. Sara havia se transformado no monstro, mas as chamas levou-a para a escuridão. Nunca mais ninguém ousara em pisar naquele local.
Alguns dias antes de George completar cinquenta anos, um homem de outra cidade, descobriu o local e foi até lá para cavar a terra no intuito de construir um depósito de madeiras. Nunca imaginara que seria a libertação da alma amaldiçoada de Sara, do corpo dela possuído por aquele monstro. Mais uma vez sua maldade estava prestes a vir à tona. Quando aquele pobre homem cavou um buraco profundo, saiu de dentro dele a sede de vingança, a fome por morte. O homem no corpo de Sara conseguiu se livrar das chamas indo para dentro da terra. Sairia de lá caso alguém cavasse o local.
Trinta anos se passaram, e lá estava Sara possuída na festa de George. Ninguém conseguia conter sua fúria, sua maldade. Muitos corpos já estavam pelo chão agonizando e muitos gritos aconteciam dentro da casa de George. Sara estava prestes a acabar com a cidade e matar todos que atravessassem seu caminho. Ela conseguiu agarrar Maria e a puxou para o canto da sala. George nada pode fazer. Presenciou aquele monstro matando sua filha e tirando dele o bem mais precioso que ele tinha. Sara culpava George por não se libertar daquele monstro que a possuiu. Dizia que ele não era seu amigo de verdade.
A raiva de George foi tamanha naquele instante que não conseguiu segurar sua fúria. Avançou para cima dela com uma cruz em suas mãos para acabar com aquilo que havia começado há trinta anos. Travaram uma guerra de forças naquele momento. Sara se batia tentando afastar aquela cruz por cima dela, mas George estava com muita força e raiva por ela ter matado sua filha, sua filha querida que tanto amava. Lembrou-se das chamas. Tinha que fazer aquilo. Os sobreviventes já haviam saído de dentro da casa, quando George pegou uma vela que estava acesa e colocou fogo nas cortinas incendiando a casa imediatamente. Sara tentou sair, mas George pulou novamente em cima dela, segurando a cruz para o fogo tomar conta da casa.
As chamas estavam cada vez mais fortes. Sara gritava com a mais alta de sua força. Nenhum dos dois conseguiu sair daquela cena de horror, mas George precisava fazer aquilo, precisava se sacrificar para salvar a cidade daquele monstro. Seus corpos foram queimados naquele fogo ardente para sempre. Todos de fora choravam muito, quando de repente um rosto, um rosto de um homem, aquele homem que possuiu o corpo da jovem Sara, apareceu por entre as chamas dizendo:
- Eu voltarei! Eu ainda voltarei!