Extermínio
De frente para a escola Violeta estremeceu. Mais uma vez seus medos foram revigorados ao notar as suas colegas de sala conversando sobre assuntos pertinentes à moda e popularismo escolar, ou qualquer outro tema que faria uma pessoa com alguns neurônios a mais vomitar de nojo. Resolveu passar por trás delas de mansinho para que assim não notassem sua presença. Sucesso! Ninguém ainda havia percebido que ela estava ali.
No auge da adolescência Violeta queria apenas ser a garota comum que não necessariamente possuísse um dom incrível para piano ou balé; Ou um supercérebro desenvolvido que seria capaz de fazer dela a aluna numero 1 em álgebra. Violeta simplesmente queria ser apenas ela mesma. Porém, como era dotada de um incrível poder chamado “timidez”, ela mal conseguia conversar com outro ser humano sem sentir um nó em seu estômago.
Devido a essa sua característica inata, Violeta acabava sendo então a “esquisitinha da turma”, por não conseguir relacionar-se com ninguém. Pelo menos era desta forma que as pessoas se dirigiam a ela na hora expulsá-la da mesa do refeitório para que pudessem comer em paz, sem a presença de um “ser estranho” como ela as observando mastigar os alimentos.
Ao entrar sorrateiramente na escola, Violeta colocou as mãos nos bolsos de seu longo e pesado casaco e seguiu pelo corredor com os olhos baixados para seus pés. Ignorou algumas bolas de papel que a acertaram na cabeça enquanto acelerava o passo para tentar chegar o mais rápido possível em sua sala.
Quando finalmente ela adentrou na sala, um coro extremamente bem ensaiado por parte da turma entonou uma humilhante recepção, regada de palavrões, xingamentos e outras piadas que sempre faziam parte do roteiro do bully presente naquela realidade.
Os olhos de Violeta se preparavam para despejar lágrimas quando suas colegas, que estavam conversando do lado de fora da escola, chegaram munidas de câmeras para registrar em fotografia mais uma humilhação bem sucedida.
Logo após o ritual diário de repressão o professor entrou na sala e, com um tom completamente indiferente, ordenou a todos que se sentassem em seus devidos lugares e deixassem as brincadeiras para depois. Todos seguiram a ordem da autoridade ali presente, menos Violeta que continuou em pé com lágrimas escorridas nas bochechas. O professor resolveu impor-se e por meio de um puxão de braço tentou arrastar Violeta para a sua mesa. Porém, ao tocá-la o adulto notou algo estranho, assim como o resto da turma. A expressão triste de Violeta convertera-se em uma feição demoníaca e assustadora. Seus lábios se contraíram ao máximo e seus dentes estavam claramente à amostra. E quando todos menos esperavam, a risada de Violeta ecoou por toda a escola no exato momento em que ela abriu o seu casaco, expondo imensos explosivos alinhados ao tecido. E logo após proferir em voz alta as palavras “Erga omnes”, acionou o detonador, exterminando a si mesma e todos ali presentes numa catastrófica e furiosa explosão.
Nunca mais Violeta foi humilhada naquela escola...
(Guilherme Henrique)