Setembro nem tão amarelo.
Havia prometido a si mesma respeitar o mês amarelo. A espera enfim valera a pena, podia sentir o cheiro de liberdade penetrando suas narinas. A lua sorria timidamente entre as nuvens no céu enegrecido. O soprar do vento era sempre intenso ali. Olhou vinte andares abaixo e sorriu. Tudo parecia tão insignificante, assim como se sentia na maior parte do tempo. Gostava da cobertura, ao menos tinha a impressão de superioridade, quando observava as pessoas caminhando pela avenida. Pequenas e frágeis, feito formigas rumo aos seus formigueiros.
Lentamente encheu os pulmões de ar, sabia que estava fazendo a coisa certa, não tinha escolha. Esperara por Deus durante todo o setembro, como muitos a orientaram, mas nada mudara. Estaria ocupado demais, ou, sequer existia?
O parapeito parecia mais frio que de costume, quantos cigarros foram acesos ali? Quantos sonhos se esvaíram junto à fumaça? Soluços imersos a dor da solidão, murmúrios declarados ao vento, silêncio ensurdecedor. Mais um sorriso, agora acompanhado de uma lágrima que ousava dançar em sua face.
Fechou os olhos, lembrou do velho balanço que seu pai construíra em sua infância. Nostalgia. “Mais alto”. Para frente, para trás. Os cachos dourados perdiam-se no ar. “Uma hora vai acabar voando”. O impulso dos braços fortes. “Como um passarinho papai”. O impulso da vida, a morte...
Lá embaixo, as formigas foram surpreendidas por um estrondoso estalar, mais uma folha seca despencara de alguma árvore. Os formigueiros as esperavam...