Afogado
Talvez pareça muito estranho, mas sempre tive vontade de encontrar um corpo boiando em um rio, sim, sei que é estranho, concordo com você, mas que posso fazer?
Não sei, talvez seja porque sempre vou para o trabalho caminhando pela beira de um pequeno rio, não sei.
A emoção de ser o primeiro a avistar tal coisa e avisar outras pessoas, polícia, bombeiro.
Bizarro, sim !!
Terça feira, 14 hs
Hoje o dia está estranho, sinistro, cinza. Pesado.
Gosto de dias assim, mas hoje não me parece agradável.
Não sei bem o porque.
Me vejo caminhando na beira do rio, sim, aquele que já falei.
O estranho é que nesse horário eu deveria estar no trabalho, mas estou aqui caminhando, não sei bem se estou indo ou voltando, sei que estou confuso.
De repente meus olhos começam a olhar para as aguas do rio, como se procurassem algo.
Caminho mais um pouco e de repente eis que vejo, a poucos metros de mim.
Sim, um corpo boiando.
Não sei como dizer mas, a sensação foi muito estranha, enfim eu encontrei um corpo.
Mas não foi como eu esperava, nem tive tempo de avisar a polícia, pois em poucos minutos muitas pessoas já estavam reunidas ali perto, polícia, bombeiros, curiosos de plantão.
Eu perguntava coisas para as pessoas, mas ninguém me respondia, pareciam nem me ver.
Algo estranho estava acontecendo ali.
Ouvia muitas vozes, informações trocadas, pessoas falando ao mesmo tempo.
Minha cabeça girava, tudo parecia estar errado.
Após o resgate do corpo ouvi os comentários:
É um homem, pelo estado do corpo faz pouco tempo que está na água.
Aparenta uns 40 anos, sem documentos, calça jeans clara, camiseta preta, tênis....
Essa descrição me pareceu familiar, muito familiar, mas não consegui me lembrar de nada...
Chego mais perto para ver melhor, ver se conheço o homem afogado.
Não sei exatamente como explicar o que eu vi, não sei se era real ou se um pesadelo aquilo que vi.
Mas o homem que estava ali morto, afogado, com calça jeans e camiseta preta, exatamente como eu estava vestido naquele momento não era ninguém menos do que eu mesmo.
Até agora não sei o que aconteceu. Se sonhei, se eu morri, se me afoguei.
O que sei é que todos os dias estou caminhando na beira do rio sem rumo, sem destino, indo, vindo, parando para descansar, e de vez em quando fico um tempo a olhar para as águas.
Nunca sabemos o que podemos ver boiando nas águas...